Quem diria, hein? O mundo motociclístico ficou pasmo, chocado e estarrecido com o anúncio da aposentadoria precoce do australiano Casey Stoner, o consagrado bicampeão da MotoGP, na semana passada. Durante uma coletiva de imprensa em Le Mans, Stoner afirmou que abandonaria o motociclismo no final desta temporada e que fará coisas diferentes a partir de 2013. Não ficou claro se Stoner passaria a pintar quadros ou escrever livros de autoajuda, mas tudo indica que as motos terão virado relíquias em sua memória.

As justificativas de Casey Stoner não foram muito claras, mas os indícios estão aí para todo mundo ver. Em fevereiro, nasceu sua filhota Alessandra.  Stoner diz que a retirada não tem nada a ver com ela, mas é óbvio que isso não é verdade. Todo pai de primeira viagem é babão e não quer perder a chance de ver sua menina crescer, arranjar um namorado mal-encarado, usar cocaína e perder a virgindade aos 11. Num esporte como o motociclismo, não existe amanhã. Casey pode entrar na pista todo malandrão num segundo apenas para se estourar todo no segundo seguinte. Tendo de criar filhos, não dá para ficar levando este tipo de possibilidade adiante.

Stoner quis passar a impressão de que largará a MotoGP no fim do ano porque já está de saco cheio com a categoria. Casey nunca foi um dos sujeitos mais dóceis do grid, tendo sido um dos maiores críticos deste negócio da categoria criar um regulamento específico para atrair chassis artesanais e equipes pequenas visando inflar o grid. As motos CRT, como ficaram conhecidas as que seguem este regulamento à risca, são lerdas e não servem para muito mais do que simplesmente aumentar o número de participantes – o que, por si só, é um objetivo nobilíssimo. Mas Stoner não gostou. E ele já reclamou de muito mais coisa.

Num esporte onde o cara geralmente não quer se aposentar antes dos quarenta anos de idade, a decisão de Casey Stoner realmente assusta. Mas ela não foi a primeira, é claro. O Top Cinq de hoje, que deveria ter saído na semana passada, conta a história de cinco pilotos que decidiram largar mão das corridas muito cedo. Confiram aí:

5- ESTEBAN TUERO

Quem acompanha a Fórmula 1 há algum tempo sabe que a Minardi sempre surpreendia ao anunciar seus pilotos. Nomes como Gastón Mazzacane e Alex Yoong nunca seriam imaginados por qualquer outra equipe. A pequena escuderia italiana, no entanto, não dava lá muita bola para currículos e vitórias em categorias de base. Tudo o que ela queria era o dinheiro que garantia a condução e o leite das crianças, mesmo que ele viesse da fonte mais duvidosa possível.

No início de 1998, a equipe italiana estava numa dureza danada. Mesmo com um monte de patrocinadores, nenhum deles era rico o suficiente para custear uma revolução no desempenho. A solução foi correr atrás de algum piloto pagante caricato. E a Minardi abusou. Para assombro do mundo da Fórmula 1, ela anunciou em janeiro a contratação de um tal de Esteban Tuero. Quem?!

Tuero era um piloto argentino que sequer havia completado vinte anos de idade. Marrento, costumava se comparar a Ayrton Senna entre íntimos. Seu boletim advogava contra a megalomania: 16º na Fórmula Nippon em 1997, 24º na Fórmula 3000 internacional em 1996 e alguns bons resultados na Fórmula 3. Poderia até não ser um piloto ruim, mas sua pressa para subir à Fórmula 1 não lhe ajudava. Só garantiu a superlicença porque andou exaustivamente com o carro da Minardi na pré-temporada. E porque o burocrata que emite as carteirinhas foi camarada.

Por incrível que pareça, Esteban Tuero não deu vexame na sua temporada de estreia. No primeiro treino oficial do ano, em Melbourne, conseguiu largar à frente de cinco carros. Nas outras corridas, apareceu com alguma dignidade e se safou do último lugar do grid em quase todas as ocasiões. Se envolveu em vários contratempos, também. Na sua Argentina, Esteban se enrolou todo em um dos pit-stops e ainda terminou o dia batendo forte. No Japão, voou por cima do carro de Tora Takagi e lesionou o pescoço. Terminou o ano dolorido e sem pontos. Ainda assim, tinha um contrato garantido para 1999.

Só que o contrato foi jogado na lata do lixo pelo próprio Tuero. Em janeiro de 1999, ele anunciou que estava se aposentando da Fórmula 1 e do automobilismo. Ninguém entendeu nada, já que o argentino não deu maiores detalhes sobre os motivos de sua decisão. Então, jornalistas e bisbilhoteiros começaram as especulações. Falava-se em problemas com o empresário, cansaço por tantas viagens ao redor do mundo, problemas crônicos resultantes do acidente em Suzuka e até mesmo uma mágoa com a mídia argentina, que não teria poupado a língua na hora de criticar e sacanear o cara. Neste último caso, dou uma colher de chá a Tuero. Ele ainda era um adolescente e pilotava um carro muito ruim. Cobri-lo de maldadezinhas é de uma insensibilidade tamanha.

No fim das contas, a real motivação do abandono nunca foi revelada e, afinal, o próprio Esteban Tuero acabou revendo a decisão. No mesmo ano de 1999, ele fez sua estreia no competitivo campeonato argentino de TC2000. Está lá até hoje. É um cara feliz. E amadurecido.

4- FRANÇOIS HESNAULT

Deve ser muito chato quando seu maior feito na vida é ser a cobaia de um experimento. O francês François Hesnault conhece bem esta realidade. De carreira curta e sem grandes atrativos, Hesnault só será relembrado pelos historiadores do automobilismo por ter sido o primeiro piloto a carregar em seu carro de Fórmula 1 uma câmera onboard que levaria imagens ao vivo a milhões de TVs ao redor do mundo. Esta primazia aconteceu no GP da Alemanha de 1985. Mas eu falo disso depois.

Filho de família rica, François é um sujeito cuja vida sempre foi atrapalhada por alguns pequenos eventos desagradáveis. Aos dezesseis anos, ele teve de passar por oito cirurgias para reconstruir uma das mãos, atingida por um tiro acidental. Alguns anos depois, perdeu a chance de conquistar o Volante Elf por causa de uma hepatite. Mesmo assim, Hesnault conseguiu superar tudo isso e chamou a atenção no início dos anos 80 com performances espetaculares na Fórmula 3 francesa. Foi terceiro na temporada de 1982 e vice-campeão no ano seguinte.

O desempenho meteórico e os bons contatos com a Antar e a Loto o levaram a uma vaga de titular na Fórmula 1 já em 1984. Ele foi contratado para a inglória tarefa de ser o escudeiro de Andrea de Cesaris na Ligier. Foi uma temporada difícil. Como segundo piloto, Hesnault não tinha direito às atualizações no carro, testava pouco e ainda era desprestigiado dentro da equipe de Guy Ligier. Ele chegou a ter de desistir de uma corrida para que Andrea de Cesaris pudesse largar! Num ambiente frutífero desses, ninguém se assusta com o fato de François não ter feito nenhum ponto.

Para 1985, Hesnault chegou a conversar com a Toleman, mas acabou assinando com a Brabham de Bernie Ecclestone. As coisas não mudaram muito em relação à Ligier: Hesnault não passava de um peso de papel numa equipe dominada pelo então bicampeão Nelson Piquet. O francês não marcou pontos e ainda sofreu um gravíssimo acidente em testes em Paul Ricard. Seu Brabham BT54 escorregou na veloz curva Verrière e bateu com tudo na cerca de proteção. François não conseguiu sair do carro e teve de esperar pelo socorro enquanto seu carro ameaçava explodir.

Amedrontado, François Hesnault decidiu desistir da Fórmula 1 após apenas uma temporada e meia. O acidente realmente mexeu com seu brios. O cara percebeu ali que aquela vida simplesmente não servia para ele. Algumas semanas depois, a Renault ainda o convocou para pilotar um terceiro carro no GP da Alemanha. Este terceiro carro não marcaria pontos e sequer funcionava direito. Só serviria para carregar a câmera onboard, um trambolho que pesava mais de dois quilos e que nenhuma outra equipe queria utilizar exatamente pela questão do peso. Hesnault aceitou. E sua vida na categoria terminou desta forma, como um chofer de um aparelho indesejável.

3- MARCO BARBA

Este daqui só é conhecido por pessoas de sanidade duvidosa, como eu mesmo e o estranho Bruno Giacomelli. Marco Barba é mais um daquela avassaladora safra de pilotos espanhóis de qualidade duvidosa que surgiu na segunda metade da década passada. Assim como seu irmão Álvaro, Marco acreditava que poderia alcançar o mesmo nível de sucesso do bicampeão Fernando Alonso. Antes que você filosofe, não, ele não é barbudo. E também não é parente distante de Rodrigo Barba, o baterista do Los Hermanos.

Marco Barba disputou corridas durante sete anos. Na maior parte do tempo, permaneceu na Espanha, que vinha apresentando um razoável crescimento no seu automobilismo interno. Em 2004, foi vice-campeão da Fórmula Junior 1600 local, perdendo apenas para o mito romeno Michael Herck. No ano seguinte, estreou na Copa da España da Fórmula 3 espanhola, uma espécie de versão light da categoria. Era um arremedo de campeonato que era disputado por meia dúzia de pilotos ridículos. Mesmo com a concorrência pífia, Barba terminou apenas em terceiro.

Nos anos seguintes, Barba subiu para o campeonato principal da Fórmula 3 espanhola e até conseguiu vencer algumas corridas entre 2006 e 2007. Neste último ano, ele se sagrou vice-campeão e foi descoberto por olheiros do automobilismo internacional. Graças ao bom resultado, Marco fez sua estreia na World Series by Renault em 2008 pela equipe Draco. Como todos sabem, a World Series é a principal porta de entrada para os sujeitos que não têm cancha o suficiente para pleitear um lugar na GP2.

Barba fez dois anos na categoria. Em 2009, obteve dois pódios em Hungaroring e terminou o ano em nono. Um mau resultado, considerando que ele ficou atrás de nomes como Fairuz Fauzy, James Walker e Marcos Martinez naquela que, ao meu ver, foi a temporada mais fraca da história da World Series. Até aqui, Marco Barba não havia provado muita coisa. Mas as coisas mudariam radicalmente no ano seguinte.

Mentira. Só falei isso para vocês não se desanimarem na leitura. Barba retornou à Fórmula 3 espanhola de seu país em 2010 e só ganhou o campeonato porque era muito mais experiente do que qualquer outro no grid. Com um título no bolso e um pouco mais de auto-estima, ele retornou ao automobilismo internacional ao assinar com a Campos para disputar a AutoGP em 2011.

A aventura de Barba na AutoGP não durou mais do que três rodadas. Pouco antes da etapa de Donington, ele anunciou a todos que sua carreira no automobilismo estava acabada. Não elencou justificativas para isso. Sucinto, falou que não teve problema algum com a equipe Campos e que suas motivações eram puramente pessoais. Dinheiro? Muito improvável. Se fosse só isso, ele simplesmente teria dito “galera, acabou a grana e a diversão. Hora de parar de gastar o dinheiro alheio e arranjar um emprego de verdade”. Não foi o caso.

Marco Barba se retirou aos 26 anos de idade. Espero que tenha se divertido enquanto pôde. Pena que a fama e as glórias nunca tenham vindo.

2- MIKE THACKWELL

Uma das coisas mais deprimentes no automobilismo é o piloto de extremo talento que perde grande parte da capacidade e quase toda a motivação após um acidente grave. Foi exatamente isso o que aconteceu com Karl Wendlinger há quase vinte anos e é provavelmente o que deve ter arruinado a ascensão de Felipe Massa a partir de 2010. Se as histórias de ambos são famosas, uma menos conhecida que me incomoda particularmente é a de Mike Thackwell.

Neozelandês que passou a maior parte da vida na Austrália, Thackwell foi um destes pilotos que a Fórmula 1 deveria lamentar profundamente por não ter consigo aproveitar seu talento. Com um ar de James Hunt, Mike era um sujeito destemido e despreocupado. Dentro da pista, era a imagem do arrojo. E ainda tinha uma qualidade adicional: a precocidade. Em 1979, tendo apenas 18 anos de idade, o neozelandês fez sua estreia na Fórmula 3 britânica e emplacou cinco vitórias logo de cara. No ano seguinte, subiu para a Fórmula 2 e deu show em várias corridas, mas marcou apenas onze pontos. Mas só as brilhantes atuações já foram o suficiente para as equipes de Fórmula 1 iniciarem seus flertes ainda no decorrer de 1980.

A Ensign ofereceu uma vaga de titular e a Arrows até lhe deu um carro para tentar a qualificação em Zandvoort, mas Thackwell não obteve sucesso e só veio a fazer sua primeira largada na categoria pela Tyrrell no GP do Canadá, penúltima etapa de 1980. O problema é que Mike se envolveu em um acidente logo na primeira volta e não teve direito ao carro reserva na relargada, ficando de fora da corrida prematuramente. Como ele também não conseguiu se qualificar no GP dos EUA, não dá para dizer que Mike Thackwell tenha tido um fim de semana de verdade na Fórmula 1 em 1980.

(ERRATA: O Pandini, manda-chuva da extinta revista Grid que eu caço feito maluco em sebos, lembrou que Thackwell não se envolveu em acidente nenhum. Na verdade, seus dois companheiros de Tyrrell foram os azarados que sobraram na largada e o jovem Mike teve de ceder seu carro a Jean-Pierre Jarier)

Então, ele decidiu voltar para a Fórmula 2 em 1981 para tentar ser campeão e arranjar um bom pretexto para as equipes de Fórmula 1 disputarem seu passe a tapa. Começou muito bem o ano, vencendo em Silverstone e terminando em terceiro em Hockenheim, mas um acidente violentíssimo em um treino livre da etapa de Thruxton esmigalhou um de seus pés e o deixou em coma durante três dias. Thackwell perdeu duas etapas e só retornou em Mugello, a sexta corrida do campeonato. Ainda convalescente, Mike não apresentou o mesmo desempenho avassalador de antes do acidente.

Thackwell só viria a recuperar parte da forma em 1983, quando foi vice-campeão da Fórmula 2 pela Ralt de Ron Tauranac. No ano seguinte, Tauranac lhe prometeu dar todas as condições possíveis para ser campeão, inclusive um contrato que impedisse o segundo piloto (o brasileiro Roberto Moreno) de ameaçá-lo. O neozelandês correspondeu a chance e venceu sete das onze corridas da temporada, sagrando-se campeão com extrema folga. Como a Fórmula 1 lhe respondeu? Com um estúpido convite para disputar o GP da Canadá com um modesto RAM e outro para correr na Alemanha com uma Tyrrell ilegal. Mike Thackwell começou a perceber que não chegaria a lugar algum, não importando o que ganhasse ou perdesse nas categorias menores.

Ele até se dispôs a competir na Fórmula 3000 em 1985 para ver se ainda conseguiria seduzir as equipes de Fórmula 1. Foi vice-campeão e até voltou a demonstrar os lampejos de arrojo de antes do acidente, mas somente a RAM lhe oferecu um contrato para ser titular em 1986. O pior é que a equipe faliu durante a pré-temporada e Mike Thackwell acabou ficando a pé. Sem dinheiro, sem ânimo, sem a genialidade do início da carreira e sem a boa-vontade dos chefes de equipe, a depressão começou a tomar conta do neozelandês.

Thackwell ainda perambulou pela Indy, pelos protótipos e até mesmo pela própria Fórmula 3000 em 1986 e 1987, sempre obtendo alguns bons resultados e muitas frustrações por saber que não merecia estar vivendo de bicos. Em 1988, completamente desanimado, fez apenas uma corrida de Fórmula 3000 em Pau. Logo depois da prova, Mike decidiu se aposentar. Tinha apenas 27 anos. Hoje em dia, trabalha como professor de pessoas deficientes e surfa nas horas vagas. Odeia automobilismo. Aquele automobilismo que sempre desprezou seu talento e quase o matou.

1- JOHNNY SERVOZ-GAVIN

Medo. Um sentimento polêmico. Alguns acreditam que a pessoa que assume o medo, como Niki Lauda fez na decisão do título de 1976, é de uma coragem ímpar, um interessante paradoxo comportamental. Outros mais radicais – e não tão sábios assim – afirmam que o medo é a pura e simples expressão de fraqueza de uma pessoa perante uma situação. Eu, que tenho medo até mesmo de cogumelos (e tenho mesmo, não estou brincando), me encaixo no primeiro grupo. Respeito profundamente quem assume seus temores.

Foi o que o francês Johnny Servoz-Gavin fez. Nascido em Grenoble no ano de 1942, Servoz-Gavin era um daqueles típicos bon-vivants que não ligavam muito para as coisas sérias da vida. Fumava pra caramba e adorava dar festas – estilo de vida bastante comum para os pilotos de algumas décadas atrás. Como ganha-pão, trabalhava como instrutor de esqui nos Alpes. De vez em quando, disputava corridas de rali. Viciou em velocidade e decidiu iniciar uma carreira nos monopostos. Comprou um Brabham BT18 usado e se inscreveu para a temporada de 1965 da Fórmula 3 francesa.

Servoz-Gavin apareceu tão bem neste ano de estreia que a Matra ficou interessadíssima no cara e o contratou para disputar uma segunda temporada na Fórmula 3 em 1966. Johnny retribuiu a oportunidade ganhando o título. No ano seguinte, subiu para a Fórmula 2 com a mesma Matra. Não satisfeita, a equipe ainda lhe deu a grande oportunidade de estrear na Fórmula 1 no GP de Mônaco. Tudo muito rápido, não? Pena que a corrida de Servoz-Gavin durou apenas alguns quilômetros – um problema na bomba de combustível estragou tudo.

Em 1968, Servoz-Gavin permaneceu na Fórmula 2, mas a Matra decidiu lhe dar uma nova chance em Mônaco como substituto de um Jackie Stewart que se recuperava de uma fratura no pulso. Fez muito bem. Johnny surpreendeu a todos marcando o segundo tempo no treino oficial. Na largada, ignora o pole-position Graham Hill, um quarentão que já havia vencido três corridas em Montecarlo, e assume a liderança na St. Devote. Lidera as três primeiras voltas. Numa chicane de alta velocidade, bate a roda traseira e é obrigado a abandonar. Volta para os boxes puto, mas os poucos quilômetros completados na frente haviam deixado muita gente babando. Johnny Servoz-Gavin havia acabado de provar que merecia um lugar definitivo na Fórmula 1.

Servoz-Gavin voltaria a disputar três corridas de Fórmula 1 naquela temporada de 1968. Em Monza, ele fez uma ótima corrida de recuperação após largar em 13º e conseguiu ultrapassar Jacky Ickx na última volta, finalizando na segunda posição. Foi seu único pódio na categoria.

Em 1969, Servoz-Gavin faz mais uma temporada de Fórmula 2, vence três corridas e ganha o tão esperado título. Na Fórmula 1, ele fez cinco corridas e marcou um pontinho no Canadá. Após um currículo bom nas categorias menores e algumas boas corridas no certamente principal, era hora dele fazer sua primeira temporada completa por lá. A estrutura da Matra acabou vendida a Ken Tyrrell, que quis montar um dream team com o campeão da Fórmula 1, Jackie Stewart, e o campeão da Fórmula 2, Johnny-Servoz Gavin.

(ERRATA DE NOVO: Onde estava com a cabeça? O Zé Maria fez a correção muitíssimo bem-vinda. A Matra seguiuna Fórmula 1 até o início dos nos 70. Na verdade, a Tyrrell é uma equipe que surgiu a partir de uma dissidência da Matra)

Mas a temporada do francês durou apenas três corridas. Na pré-temporada, enquanto disputava uma corrida de rali com um jipe aberto, Johnny foi atingido no rosto pelo galho de uma árvore e acabou machucando seriamente o olhos esquerdo. Ele decidiu não contar sobre o ferimento a ninguém na Fórmula 1 e tentou fazer as corridas normalmente, mas a situação do olho só se deteriorou.

Na classificação do GP de Mônaco, Servoz-Gavin cometeu o mesmo erro de dois anos antes. Escapou na chicane e ralou o carro no guard-rail. Ao descer do carro, Johnny tomou uma decisão tão rápida quanto definitiva: aos 28 anos e após apenas cinco temporadas nos monopostos, ele estava abandonando a Fórmula 1.

O motivo? Medo. Johnny Servoz-Gavin havia percebido que corria riscos sérios se tentasse correr com o olho esquerdo em péssimo estado. Como os acidentes naquela época eram sentenças de morte, Servoz-Gavin preferiu largar sua maior paixão para preservar sua vida. Decidiu curtir a vida apenas com festas e mulheres. Mas o perigo não se afastou de sua vida. Em 1982, um botijão de gás de seu barco explodiu e Servoz-Gavin acabou sofrendo graves queimaduras pelo corpo e três paradas cardíacas. Deu sorte tremenda de sobreviver. Morreu em 2006, já sessentão. Provavelmente sem medo.

O Lola B12/60 da Rebellion Racing é um dos poucos Lola que estão correndo por aí atualmente

Nesta quarta-feira, uma discreta notícia deixou triste muita gente que acompanha as corridas há alguns séculos. Vocês se lembram da Lola, uma das maiores fabricantes de chassis de outrora e ex-participante da Fórmula 1? Há algumas horas, ela divulgou uma nota anunciando que as duas divisões da empresa, a que produz carros de corrida e a que produz materiais compósitos, passariam a ser gerenciadas por um administrador nomeado externamente enquanto não encontrassem um comprador e regularizassem suas pendências de balanço.

Tudo isso daí pode ser resumido em apenas uma palavra: concordata. A Lola está tentando de tudo para não sucumbir de vez e fazer companhia a marcas como Reynard, March e Ralt no cemitério das saudosas construtoras do automobilismo. Afundada em dívidas, ela deve ter sido acionada na justiça pelos credores e a única solução alternativa à falência seria conceder a gerência a um engravatado nomeado pelos magistrados. É uma coisa meio triste, mas é melhor do que deixar uma história de quase seis décadas sumir numa canetada.

Em sua nota oficial, a Lola não foi muito clara sobre os motivos pela crise. É óbvio que a interminável crise econômica mundial foi responsabilizada. Executivos gananciosos, economistas visionários, bancos irresponsáveis, políticos lenientes, clientes que querem consumir o que não possuem, agências de risco viesadas, dinheiro, subprime, securitização, hipoteca, junk bonds, CDO, crédito imobiliário, bolha, todos estes personagens, elementos e siglas se tornaram os responsáveis definitivos por todas as mazelas do planeta. Isso é o que o senso comum diz. Mas como discordar?

Além da economia, a Lola também culpou o governo britânico pelo seu fracasso. Segundo a nota, ela teria deixado de receber um montão de dinheiro em forma de crédito do HMRC, o órgão oficial que coleta tributos e repassa subsídios. Porque é sempre fácil responsabilizar o governo, que só existe para criar leis imbecis e abocanhar o dinheiro de nosso suado trabalho. A coisa se torna ainda pior quando falamos de um Reino Unido onde uma família é sustentada com os tributos de milhões. Isso é o que o senso comum diz. Mas como discordar?

OK, mas vamos deixar estes assuntos espinhosos e sonolentos de lado. Não há como negar que o mercado de carros de corrida, que é onde a Lola sempre esteve inserida, anda difícil e fechado. Nos monopostos, a Dallara simplesmente monopolizou o fornecimento para as categorias maiores: Indy, Indy Lights, GP2, GP3, World Series by Renault e Fórmula 3 estão sob seu domínio. Somente a Fórmula 1 escapa de suas garras porque a companhia de Gianpaolo Dallara nunca conseguiu acertar a mão em um carro para a categoria.

Os campeonatos de turismo e de ralis são praticamente inviáveis para quem não é uma montadora de grande escala. Não dá para um abnegado construir um carro na garagem de sua casa e colocá-lo para disputar o WTCC contra Chevrolet, BMW e Seat. Tudo bem que a Lola não é exatamente uma garagem localizada no subúrbio de Carapicuíba, mas ela também não tem condições e nem intenções de criar um carro para estes tipos de corridas. Sobra o quê, então? Construir protótipos.

Uma rápida xeretada no site da Lola mostra que o cardápio da empresa anda curtinho, curtinho. Atualmente, ela produz um modelo para o nível LMP1 (B12/60), dois para o nível LMP2 (B12/40 aberto e B12/80 fechado), uma série limitada para os campeonatos históricos (T70) e um modelo construído em parceria com a Caterham (SP/300R). O único não-protótipo que a Lola ainda faz é um carro de Fórmula 3 que eu nunca vi correr e que costuma ser utilizado apenas em escolas de pilotagem, o B12/20.

 

Dois bons momentos da Lola: em 1962, com a pole-position de John Surtees em Zandvoort…

Na categoria LMP1 do Mundial de Protótipos da FIA, a Lola fornece seu B12/60 para a equipe Rebellion Racing, que é por onde corre Nick Heidfeld. Na LMP2, as equipes Gulf Racing e Lotus utilizam o B12/80. Nas 24 Horas de Le Mans, a irlandesa Status se juntará às duas com outro B12/80. Quem anda se destacando mais até aqui é a Rebellion, que lidera a classe dos carros LMP1 privados após duas etapas realizadas. Longe de ser um mau desempenho, não se trata de um bom sinal quando se percebe que as quatro equipes acima são as únicas clientes européias da divisão de competições da Lola.

Nos Estados Unidos, a clientela da Lola não é maior. Na ALMS, três equipes utilizam seus chassis: a Dyson Racing possui um B12/60 novinho em folha e um antigo B08/60 modificado, a Dempsey Racing possui um B08/80 e a Black Swan Racing anda com um B11/80. A Dyson foi a que se deu melhor, tendo vencido as 12 Horas de Sebring na categoria P1 e chegando em segundo em Long Beach.

Mesmo que os resultados não estejam ruins, fica claro que uma fábrica do porte da Lola não consegue se sustentar produzindo apenas alguns carros por ano e provendo manutenção a alguns outros mais velhuscos. Lembremos, da mesma forma, que o Mundial de Protótipos possui oito etapas em seu calendário e a ALMS possui dez. Quer dizer, as atividades não são tão abundantes assim durante uma temporada.

Você até poderia tentar puxar a minha orelha e dizer “pô, quase todas as equipes de automobilismo trabalham bem menos que a Lola e não estão quebradas”. Não é bem assim. A Lola não é uma equipe de automobilismo. Ela possui gastos enormes com pesquisa, desenvolvimento, logística, testes e uma série de máquinas e equipamentos complexos para criar um bólido a ser pilotado por um grupo de amigos. Somente as equipes de Fórmula 1 necessitam de uma infra-estrutura tão grande quanto – e elas, que também não estão aquela maravilha financeira toda, ainda conseguem fazer girar bem mais dinheiro do que uma Lola da vida.

É exatamente por isso que a empresa sediada em Huntingdon se vê obrigada a atuar em outras áreas. Há cerca de 20 anos, quando os chassis Lola começaram a perder espaço para os da Reynard e da Dallara, surgiu a Lola Composites, uma subsidiária que desenvolve materiais compósitos para várias indústrias ao redor do mundo. Coisa rentável. Mas nem isso segurou a barra, pelo visto.

E aí me vem a dúvida: será que os monopostos lhe fazem falta? Até uns cinco anos atrás, a Lola ainda fornecia chassis para categorias como a Fórmula 3000 e a A1GP em regime de exclusividade. Produzia vários carros em escala razoável e arrecadava uma boa grana com eles. Como os regulamentos de uma categoria de monopostos menos sofisticada não são tão complicados, não era difícil projetar um chassi novo. E nem havia tanta urgência para fazer isso, já que uma mesma especificação poderia ser usada durante anos. Situação muito diferente daquela nos protótipos, onde há muito mais tempo e dinheiro investido num novo carro, que geralmente fica defasado rapidamente.

A Lola existe desde 1958. Já produziu um bocado de coisas, de carros de Fórmula 3 a discos voadores. Na Fórmula 1, teve equipe própria mais de uma vez e também já terceirizou carros para um bocado de gente. Como foi sua história? Irregular.

O primeiro ano da fabricante de chassis na Fórmula 1 foi ironicamente o melhor. Logo na primeira corrida de 1962, o Lola MK4 de John Surtees marcou uma bela pole-position. Tudo bem, ele largou mal e abandonou a prova após poucas voltas, mas todo mundo começou a imaginar que aquela fabriqueta artesanal liderada por Eric Broadley chutaria bundas no futuro. E olha que aqueles primeiros anos da década de 60 foram dominados pelo movimento british racing green, um monte de fabriquetas inglesas tão enxutas e ambiciosas como a Lola.

… e em 1990, com o pódio de Aguri Suzuki em Suzuka

Surtees marcou pontos em cinco corridas seguidas, obteve dois pódios e abandonou duas corridas (Itália e África do Sul) enquanto esteve entre os três primeiros. Terminou o ano em quarto, com 19 pontos. Foi, de longe, a melhor apresentação de um piloto da Lola na história da categoria. A partir daí, só fracassos. E até mesmo uma tragédia.

No fim dos anos 60, a Lola chegou a se associar à Honda na construção dos chassis RA300 e RA301. O resultado foi um carro leve, veloz e altamente perigoso. Foi nele que Jo Schlesser morreu no GP da França de 1968. O acidente fez os japoneses esquecerem esse negócio de Fórmula 1 por quinze anos.

Em meados dos anos 70, a Lola voltou a dar as caras produzindo os belos chassis da equipe Embassy Hill, pertencente ao velho Graham. Eles não eram tão lentos ou frágeis, mas também não eram fantásticos o suficiente para a turma vermelha e branca sair do final do pelotão. Além do mais, as prioridades eram outras. O vaidoso Graham Hill queria construir seu próprio carro. No fim das contas, a Lola era apenas uma solução de improviso.

A empresa de Huntingdon só reapareceria em 1985 como parte do projeto Haas, que formaria uma superequipe americana patrocinada pelo conglomerado Beatrice. Como uma turma formada por Lola, Carl Haas, Beatrice, Ford e Alan Jones poderia dar errado? Não faço ideia, mas deu. A Beatrice sofreu profundas mudanças na diretoria e o novo poderoso chefão achava que Fórmula 1 era coisa de ingleses afeminados e que não valia a pena queimar dólares nesta brincadeira. O castelo de cartas desmoronou logo. Ah, e a propósito, os carros eram uma merda.

Mas a história não acabou logo aí. Carl Haas vendeu o que havia sobrado de seu sonho a Gerard Larrousse, que há muito queria comandar sua própria equipe. Arranjou um sócio, o homicida Didier Calmels, e manteve a responsa de preparar os carros nas mãos da Lola. A parceria entre Larrousse e Lola até durou um pouco mais que as outras, cinco temporadas. Neste período, houve uma ou outra alegria e um bocado de dores de cabeça.

As alegrias ficaram quase que restritas em 1990, quando Eric Bernard e Aguri Suzuki conduziram a Larrousse-Lola ao sexto lugar no campeonato de construtores. Construtores? Após o fim da temporada, a equipe foi limada da classificação e perdeu o benefício do transporte gratuito para 1991. Segundo o dicionário Houaiss editado pela FISA, um construtor é quem constrói seu carro. Um cidadão com um intelecto pouco superior ao da Chita não tem dificuldades para compreender a ideia. Pois a Larrousse não construía seu carro. Portanto, ela não era um construtor e não teria os direitos de um construtor. Depois de uma série de telefonemas, súplicas, ameaças, encontros e desencontros entre advogados, a FISA decidiu devolver os pontos e os benefícios à Larrousse.

Mas a parceria não durou muito mais. Depois disso, a Lola só se meteu em enrascada. Em 1993, ela se associou à Scuderia Italia unicamente para conceber um carro pesado, lento e jurássico, mas que compensava pela bela pintura alaranjada e branca. Quatro anos depois, a Lola retornou como equipe própria. Fabricou um carro às pressas, pintou com as cores da Mastercard e tentou disputar o GP da Austrália. Passou vexame nos treinos, não largou e não conseguiu sequer sobreviver ao GP seguinte. Foi a última vez que a Lola se misturou aos tubarões da Fórmula 1.

Na Indy, as coisas foram melhores para a Lola. Nigel Mansell foi um de seus campeões

Na Indy, a Lola até teve mais sucessos, mas também passou por cada barra que vou te contar. Ela ganhou duas 500 Milhas de Indianápolis nos anos 60 e 70, mas só começou a levar a sério esse negócio de corridas americanas nos anos 80. Começou muito bem, dando o maior calor na Penske e subjugando a March. Mas foi só a Reynard, sua arqui-inimiga, entrar na categoria para que a Lola se tornasse uma marca de segunda linha. No fim dos anos 90, apenas as equipes encardidas compravam seus chassis. Era algo como servir tubaína em festa de aniversário.

A Lola só voltou a ganhar um título nos Estados Unidos em 2002, quando a Reynard faliu de vez. Até 2006, ela devorou todos os títulos da ChampCar. Não teve adversários, é verdade. Mas não é algo que os fãs da Lola façam lá muita questão de se lembrar.

Esse negócio de adversário, aliás, sempre representou um baita pepino para a Lola. A Reynard foi seu maior pesadelo. Na Fórmula 3000, a empresa de Adrian Reynard fez um chassi tão melhor e mais barato que a Lola praticamente desapareceu dos grids da categoria. Ela só ganhou força em 1996 porque a categoria decidiu escolhê-la como fornecedora única de chassis – sabe-se lá em quais condições a escolha foi feita. A verdade é que, perto da Reynard, a Lola soava bastante ordinária.

Ao mesmo tempo que a Reynard estendia seus domínios nas categorias maiores, a Dallara crescia por fora na Fórmula 3. A marca italiana começou discretamente, fornecendo alguns chassis para o pessoal do campeonato italiano. Aos poucos, franceses e alemães também se interessavam. E os Dallara de Fórmula 3 começaram a dominar os pódios e os corações do automobilismo europeu.

Num belo dia, os ingleses perceberam que havia uma fábrica na Itália que fazia chassis melhores que os Reynard e Ralt e decidiram lhe dar uma chance. E foi trocando seu velho Reynard por um Dallara F393 que Kelvin Burt ganhou o campeonato inglês de Fórmula 3 de 1993. O título fez a Dallara cair na boca do povo. Enquanto isso, o que a Lola estava fazendo para não cair no esquecimento? Eu sei lá.

Fica claro onde a Lola começou a morrer, ao menos entre os monopostos. Enquanto tentou competir contra a Reynard, perdeu. Ao mesmo tempo, abriu espaço para uma Dallara que acabou se alastrando por quase todas as categorias de monopostos do mundo. Faltou competência. Faltou tino para os negócios. Faltou malícia. Faltou sorte.

Hoje em dia, a Lola está aí, marginalizada no automobilismo e choramingando por ter de pedir concordata. Não sou fã da marca e confesso ter lamentado bem mais pelo fim da Reynard. Mas nunca é bom perder uma empresa com tanta história. Seja ele bom ou ruim, não podemos deixar o passado para trás. Corra, Lola.

Rob Nguyen na corrida de Monza da Fórmula 3000 em 2002

Última parte do especial sobre Rob Nguyen. Tem de ser. A temporada de Fórmula 1 está começando e, a partir de amanhã, terei de escrever sobre ela, né? Ossos do ofício.

Em 2002, Nguyen, o australiano filho de vietnamitas fugitivos, estava em sua primeira temporada na Fórmula 3000 Internacional. Corria pela Astromega, uma competente equipe do meio do pelotão, e havia marcado dois razoáveis pontos em Nürburgring e liderado um teste coletivo de meio de temporada em Monza. Ele também bateu, rodou, ultrapassou, foi ultrapassado e passou por tudo aquilo que um jovem inexperiente costuma enfrentar no kart ou nas categorias mais baixas. Para Rob, ao contrário de seus colegas, o automobilismo era um mundo totalmente novo.

Voltemos à temporada 2002, pois. Faltavam ainda três etapas e Rob Nguyen esperava terminar o ano em alta nas pistas. Fora delas, seu moral já estava lá no alto – muitos espectadores passaram a prestar atenção nele e até mesmo algumas equipes de Fórmula 1 já haviam expressado interesse. Mesmo com a batalha feroz entre Bourdais, Enge e Pantano pelo título, o japa australiano virou boa atração da Fórmula 3000.

Hungaroring era mais uma pista totalmente desconhecida para Nguyen. Em terras magiares, o australiano teve de aprender as manhas de um traçado totalmente sinuoso em dois treinos de míseros trinta minutos cada antes de partir para o treino oficial. Para piorar as coisas, problemas com a bomba de gasolina e com vazamento de óleo o fizeram perder muito tempo. Mesmo diante das adversidades, mostrou competência e fez o 11º tempo, ficando a apenas quatro posições do companheiro Mario Haberfeld.

No dia seguinte, Nguyen voltou a fazer uma daquelas largadas-relâmpago e ganhou várias posições nos primeiros metros. Para se ter uma ideia, ele entrou na primeira curva à frente de Antonio Pizzonia, que havia largado três postos à sua frente! Infelizmente, o manauara fez sua primeira bobagem contra um piloto da Astromega na corrida (ele ainda faria isso com Mario Haberfeld) ao tocar na traseira de Nguyen, fazendo-o rodar e ficar de cara para o resto do grid. Aquilo que poderia ser sua segunda corrida nos pontos virou mais um fim de semana frustrante.

Ao retornar para o caminho certo, Rob Nguyen se viu trinta segundos atrás de todo o resto do pelotão. Dali para frente, ele acelerou ao máximo e até conseguiu diminuir bastante a diferença para o penúltimo colocado, Justin Keen. Além disso, outros pilotos tiveram problemas e acabaram perdendo uma volta. O acidente de Haberfeld trouxe o safety-car à pista nas últimas voltas e acabou juntando todo mundo. Nguyen completou a corrida na décima posição, um resultado satisfatório, mas muito distante daquilo que todos esperavam.

Spa-Francorchamps seria a penúltima corrida do campeonato. Corrida em Spa é sempre uma tremenda diversão, ainda mais para uma categoria de base, que sempre proporciona acidentes e presepadas. A turma da Fórmula 3000 fez um teste na pista antes da corrida húngara, o que permitiu que Rob Nguyen conhecesse os segredos do circuito de quase sete quilômetros. Voltando ao fim de semana, na segunda sessão de treinos livres, ele conseguiu uma excepcional quarta posição. Infelizmente, as condições de pista mudaram drasticamente na sessão classificatória e o piloto da Astromega só conseguiu o 11º tempo – ainda assim, resultado bastante interessante.

No dia seguinte, o céu ficou literalmente preto. Literalmente preto. Pouco antes da corrida, todo mundo olhava para as nuvens acreditando na interrupção da corrida a qualquer momento. Como o automobilismo ainda não era tão bitolado como agora, os vinte pilotos partiram para a ação sem avisos da FIA, protestos dos pilotos ou viadagens afins.

Na largada, Nguyen saiu bem e chegou a dividir curva com o brasileiro Ricardo Mauricio, mas acabou perdendo um tempão no engavetamento que envolveu um bocado de gente na ingrata La Source. Tendo sobrevivido à confusão sem danos e caído para as últimas posições, Rob seguiu em frente e terminou apenas em 15º. Estava chateado, pois o mesmo Mauricio que brigou por posição com ele nos primeiros metros havia terminado nos pontos.

(Nguyen e Ricardo Mauricio no acidente de Monza)

Um pouco mais de sorte faria bem, não é? A última corrida foi realizada em Monza. Enquanto todo mundo estava apreensivo sobre a possibilidade do título ser definido no tapetão pelo fato de Tomas Enge ter sido pego no exame antidoping, Rob Nguyen só queria terminar a corrida nos pontos e ir para a Austrália descansar.

Mas as coisas deram muito certo para ele no treino classificatório: o australiano repetiu seu melhor resultado em grids no ano ao obter um sensacional quarto tempo, atrás apenas da imbatível dupla da Arden (Bjorn Wirdheim e Tomas Enge) e de Giorgio Pantano. Haberfeld, o companheiro, ficou duas posições atrás. Em uma pista onde as ultrapassagens não são difíceis, será que daria para sonhar com um grande resultado?

Não. Pela terceira vez consecutiva, Rob Nguyen se viu envolvido sem culpa nenhuma em alguma confusão na primeira curva. Dessa vez, a culpa foi justamente de seu companheiro: tentando fugir dos outros toques que aconteciam, Haberfeld acabou tocando Nguyen, que havia largado bem novamente. O australiano rodou e perdeu todas as posições, assim como em Hungaroring. Puxa vida, hein?

Mas a maré de azar não acabou aí. Tendo caído para o fim do pelotão, Nguyen retornou à pista apenas para tentar ganhar algumas posições e chegar ao fim. Nem isso ele conseguiu: na volta 22, o descontrolado Ricardo Mauricio não conseguiu frear a tempo e atropelou a traseira do carro branco do australiano filho de vietnamitas, que havia se recuperado brilhantemente e ocupava a sétima posição. Com o choque, o brasileiro acabou sofrendo uma série de capotagens e desceu do bólido com o coração na boca. Imagino eu que o mesmo aconteceu a Nguyen, que nunca havia se envolvido em um acidente tão violento. Um fim de temporada bem infeliz para ele.

Mas Rob Nguyen ainda terminou o ano em alta. Mesmo tendo marcado apenas dois pontos e finalizado numa discretíssima 14ª posição, os especialistas passaram a enxergá-lo como um futuro piloto de ponta. Se arranjasse uma equipe melhor na Fórmula 3000 em 2003, não seria absurdo imaginá-lo campeão. Contudo, ele estava preso a um contrato com a Astromega e teria de fazer outra temporada com a equipe em 2003.

Será?

No dia 24 de outubro de 2002, Rob Nguyen fez um teste em Imola com o carro branco. Ao seu lado, testou também o alemão Tony Schmidt. Muitos acreditavam que os dois formariam a dupla da Astromega em 2003. Ainda que outros pilotos tivessem testado pela equipe, ninguém via Rob Nguyen saindo ou Tony Schmidt migrando para outra casa.

Em meados de novembro, surgiu um boato na Europa de que Rob Nguyen não permaneceria na Astromega em 2003. Mesmo com contrato válido para a próxima temporada, ele teria de ceder seu lugar a outro piloto. Na época, o diretor Sam Boyle afirmou que o boato era falso e que Rob certamente permaneceria na equipe. Não havia o porquê dos jornalistas ficarem falando merda. Então tá.

Quando a FIA anunciou a lista de inscritos para a temporada 2003 da Fórmula 3000, todos se surpreenderam com aquela expressão to be announced acompanhando uma das vagas da Astromega. Apenas o tal de Tony Schmidt havia sido anunciado. Alguns dias depois, o mistério foi solucionado e a equipe anunciou o belga Jeffrey van Hooydonk como companheiro de Schmidt. Rob Nguyen estava, portanto, fora.

Rob Nguyen testando o carro da BCN em Barcelona

Por qual motivo? Dinheiro, é óbvio. Nguyen estava com a carteira vazia e apenas seus olhos puxados e seu talento não seriam o suficiente para segurá-lo na Astromega. Portanto, se ele quisesse seguir na Fórmula 3000, teria de achar outro lugar muito rapidamente. Poucas vagas estavam disponíveis e a temporada começaria logo ali.

Ele encontrou uma vaga na BCN, equipe novata que pertencia ao engenheiro argentino Enrique Scalabroni. Apesar da boa referência, a BCN ficou conhecida por ser um verdadeiro caça-níquel das categorias de base. Ela não tinha o menor pudor para contratar alguém, tomar seu dinheiro e demiti-lo logo após apenas alguns dias. Não por acaso, a própria vaga de Nguyen pertencia anteriormente ao argentino Gastón Mazzacane, que queria retornar ao automobilismo internacional e que acreditava que um chefe de equipe de seu país nunca o sacanearia. Mazzacane errou, Scalabroni rasgou o acordo que tinha com ele e Nguyen acabou agraciado com a vaga na semana anterior à rodada de Imola, a primeira da temporada 2003.

O australiano até fez uma sessão de testes antes da prova, mas não dá para afirmar que foi possível se aclimatar à equipe e aos mecânicos. E o fim de semana de Imola começou mal: mesmo com o baixo nível dos adversários, ele só conseguiu fazer o 17º tempo no treino oficial. Ainda assim, foi monstruosos três segundos mais rápido que o companheiro de equipe, o italiano Valerio Scasselatti, que foi confirmado apenas alguns dias antes da corrida. Esta era a bagunça da BCN.

Mesmo diante de tantos aborrecimentos, Rob fez uma belíssima corrida no circuito italiano. Largou bem, aproveitou-se de alguns abandonos e também ultrapassou alguns rivais para conseguiu terminar na oitava posição. Para sua sorte, aquela seria a primeira prova de Fórmula 3000 com a pontuação estendida aos oito primeiros. Com isso, ele conseguiu o milagre de marcar um pontinho com a precária BCN Competición. Muitos aplaudiram.

A próxima rodada foi em Barcelona. Que também não começou bem para Rob Nguyen: após pegar tráfego em suas voltas rápidas, ele só conseguiu o 15º lugar no grid. Apesar da corrida ser no país da sede da BCN, não havia grandes esperanças para o piloto australiano. O negócio seria rezar por problemas alheios e tentar fazer aquele brilhareco de sempre.

Funcionou. Nguyen largou bem como sempre, evitou um engavetamento que tirou alguns pilotos da prova na primeira curva, ultrapassou vários pilotos, subiu ao quinto lugar sem maiores problemas e ainda conseguiu se safar dos ataques de Zsolt Baumgartner e Tony Schmidt, que ameaçavam sua posição. Terminou em quinto e levou quatro pontos para casa, deixando a BCN feliz pra chuchu.

A próxima etapa seria em A1-Ring, lugar ideal para Rob Nguyen andar bem. Afinal de contas, seu empresário e seus patrocinadores vinham de lá e não custava nada lhes fazer um agrado em casa. Mas a presença deles só aumentou a pressão e o australiano não conseguiu nada além de um 15º no grid. Pegou mal, pois o companheiro Alessandro Piccolo, o milésimo piloto contratado pela BCN até aquele momento, o havia superado com facilidade no treino oficial. Se vocês não conseguiram entender esta dança das cadeiras da equipe de Scalabroni, não se assuste: ninguém jamais entendeu.

Mesmo com a má posição, Nguyen acreditava que as ótimas atuações de Imola e Barcelona poderiam ser repetidas, ainda mais sabendo que A1-Ring era uma pista propícia para ultrapassagens. De fato, ele conseguiu largar bem de novo e ganhou três posições na primeira curva. Mas o carro não estava muito veloz e Rob acabou sofrendo algumas ultrapassagens. Devagar, cruzou a linha de chegada em 13º, uma posição atrás do companheiro Piccolo. “Agora, estou pensando na próxima corrida, em Mônaco”, afirmou Nguyen após a prova.

(os melhores momentos de Rob Nguyen na Fórmula 3000 em 2003)

Não houve próxima corrida. A BCN, que já tinha demitido três pilotos até então (Mazzacane e o espanhol Marcel Costa ainda na pré-temporada e Scasselatti após a prova de Imola), percebeu que Nguyen não tinha muito mais bala no cartucho e não teve a menor cerimônia em mandá-lo embora sem mais nem menos. Mesmo após Rob ter andado maravilhosamente bem nas duas primeiras corridas, Enrique Scalabroni achava que o dinheiro do americano Will Langhorne, que havia feito corridas na Indy Racing League, era mais sedutor. Azar do nosso herói.

Rob Nguyen não tinha mais o que fazer a não ser esperar. Ele correu atrás de novos patrocinadores para tentar retornar ao campeonato, mas não teve sucesso. Então, preferiu esperar a temporada acabar para ver se poderia conseguir uma vaga para a temporada 2004 de Fórmula 3000.

No fim de novembro, a Coloni decidiu lhe dar um teste em Monza. Rob Nguyen agradeceu a oportunidade fazendo o terceiro melhor tempo, ficando atrás apenas dos medalhões Enrico Toccacelo e Vitantonio Liuzzi. A equipe italiana adorou o que viu, mas não o contratou para a temporada de 2004. Sem dinheiro, não havia negócio.

Rob Nguyen percebeu que sua vida não avançaria muito na Europa e decidiu dar um tempo do sonho da Fórmula 1, anunciando que retornaria à Austrália em 2004 para trabalhar e, quem sabe, fazer sua carreira de piloto profissional por lá. Uma equipe de ponta da Fórmula 3 australiana ficou interessadíssima em poder contar com ele, mas Nguyen preferiu recusar o convite, acreditando que este seria um passo para trás que poderia arruinar de vez sua carreira.

Nguyen acabou acertando com a Hocking Motorsport para disputar a temporada 2004 da Fórmula Holden, uma espécie de Fórmula 3000 local que utilizava carros antigos da prima europeia. Esta oportunidade caiu como luva para ele, pois Rob não teria de levar dinheiro algum à equipe. Como o acerto foi meio tardio, ele acabou perdendo a primeira rodada dupla, realizada em Mallala.

A estreia ocorreu na segunda rodada, a de Winton. Sabe qual foi o resultado? Duas vitórias nas duas corridas, ambas de ponta a ponta. Vale dizer que estes foram os primeiros trunfos de Rob Nguyen no automobilismo! Situação absurda para um piloto tão bom.

O japa disputou mais duas rodadas duplas e conseguiu três terceiros lugares, finalizando a temporada na terceira posição. Este resultado não o ajudou muito e Nguyen permaneceu sem qualquer patrocinador para voltar à Europa. O que aconteceu? Rob percebeu que não teria muitas chances de ser piloto profissional e decidiu abandonar oficialmente o mundo do automobilismo. Hoje em dia, Nguyen só pilota por diversão e ocasionalmente dirige carros para eventos de fotografia ou filmagem.

Fim.

Nunca é fácil descrever a vida de um piloto, mesmo a de alguém que não conseguiu fazer muito mais do que umas trinta corridas na vida. Mas este caso aqui merecia ser relembrado. Num belo dia, Kimi Räikkönen foi campeão mundial e todos nós lançamos mão do clichê “ah, e o melhor de tudo é que ele só fez duas temporadas de Fórmula Renault antes de vir para a Fórmula 1”. Rob Nguyen tinha tudo para repetir esta história, a do sujeito que chega ao estrelato após uma carreira curtíssima. Mas sua falta de dinheiro e, até certo ponto, de sorte não o permitiu ser nada além de mais um dos curiosos personagens que fizeram da Fórmula 3000 uma categoria única, riquíssima em histórias legais.

Rob Nguyen e seu carro limpo na Fórmula 3000 em 2002

Continuo a falar sobre a meteórica carreira do australiano descendente de vietnamitas Rob Nguyen. Como já havia apresentado na primeira parte, Nguyen é um piloto que chamou a atenção do automobilismo internacional há dez anos por ter subido à Fórmula 3000 Internacional após apenas um ano, treze corridas de monopostos, nenhuma no kartismo profissional e belas amostras de talento. Nesta parte, suas primeiras corridas feitas na categoria anterior à Fórmula 1 em 2002. Não, não consegui terminar o texto aqui.

Nguyen conseguiu um teste na Fórmula 3000 em janeiro de 2002 por intermédio do empresário Walter Penker, que foi o primeiro a lhe dar uma oportunidade de andar num carro de corridas em novembro de 2000. No caso da Fórmula 3000, Penker lhe conseguiu um carro da Astromega e em três de dias de teste, mesmo completando poucas voltas, Rob andou a menos de um segundo do experiente Mario Haberfeld, que já havia sido contratado para pilotar pela equipe. O chefão da Astromega, Sam Boyle, ficou impressionado com o que viu.

Não demorou muito e Nguyen foi anunciado como companheiro de equipe de Haberfeld na Astromega para a temporada 2002 da Fórmula 3000 Internacional. O anúncio veio acompanhado por expressões de surpresa e de dúvida. Surpresa porque ele era totalmente anônimo até então: ninguém na Fórmula 3000 tinha conhecimento de alguém cujo sobrenome começasse com o dígrafo “ng”. Surpresa também porque seu currículo prévio, apesar do talento óbvio, era modestíssimo.

Dúvida. Porque ninguém sabia como um sujeito com um único ano de corridas de qualquer coisa na vida se portaria em um carro de 450cv. E dúvida também por causa das origens de seu dinheiro. Em tese, Rob seria patrocinado pela fábrica austríaca de escapamentos Remus e pela operadora de serviços financeiros OVB. Na prática, seu carro não teria adesivo algum. Uma temporada completa na Fórmula 3000 daqueles dias exigia um mínimo de um milhão de dólares de orçamento. Perguntado sobre a origem da grana que pagaria a temporada em uma entrevista e se a família estava contribuindo com alguma coisa, Nguyen pulou fora:

“Meus pais não contribuem com muito. Há patrocinadores, mas não posso mencionar quem eles são. Desculpe”, afirmou o cara. Tire suas conclusões.

O fato é que Nguyen assinou um contrato válido por duas temporadas para correr uma equipe de média para boa em uma categoria que, por mais decadente que estivesse, ainda era considerada a principal fornecedora de jovens talentos para a Fórmula 1. Em 2002, a Fórmula 3000 sofreu um vigoroso baque ao conseguir juntar apenas dez equipes e vinte carros para o grid. Além da diminuição do interesse da Fórmula 1 no certame, os altos custos relativos ao novo carro que seria utilizado nas próximas três temporadas espantaram muita gente. Um campeonato competitivo com poucos adversários era um espaço perfeito para o surgimento de um Nguyen da vida.

Ninguém estava esperando muita coisa dele, como você poderia supor. A briga pelo título ficaria restrita a medalhões como Sébastien Bourdais, Tomas Enge (que retornava à categoria após fazer três corridas de Fórmula 1 pela Prost), Giorgio Pantano, Antonio Pizzonia, Ricardo Sperafico e o próprio Mario Haberfeld. Em relação aos estreantes, certamente havia gente mais interessante do que o australiano de olhos puxados: Ryan Briscoe, Bjorn Wirdheim e Tiago Monteiro eram os calouros que poderiam chamar mais a atenção.

Nguyen teve um árduo ano de aprendizado em 2002. Aqui, em Hockenheim

A primeira corrida foi, veja só, em Interlagos. Nguyen chegou à pista doente (perdeu dois quilos e meio em poucos dias), sem conhecer a pista, o país ou o que é que a baiana tem. Fez um mísero treino livre de meia hora e partiu para o treino oficial. Logo de cara, fez o 12º tempo e deixou oito pilotos para trás. Todo mundo que sabia de sua tremenda falta de experiência ficou assustado. Como um moleque da Fórmula Volkswagen de não sei aonde surge do nada e supera veteranos como David Saelens e Patrick Friesacher?

No dia seguinte, Rob teve um árduo dia de aprendizado. Ganhou quatro posições na largada, mas rodou algumas vezes, bateu rodas em disputa por posição, teve problemas com o motor e dois pequenos furos em seus pneus. No fim da corrida, ele sequer conseguia sentir a mão esquerda, pois o banco não estava ajustado corretamente e sua coluna vertebral estava sendo pressionada pela posição do assento. Mesmo assim, terminou em 13º e ficou satisfeito, ainda que seu companheiro brasileiro tenha finalizado no pódio. Após a corrida, Nguyen ainda teve de passar um tempo em um centro médico se recuperando da dolorosa lesão na coluna.

As coisas foram um pouco menos difíceis em Imola, segunda etapa.  Rob Nguyen ainda não havia se recuperado totalmente do problema na coluna, mas partiu para a ação. Imola era uma pista com que ele tinha tido algum contato nos testes de inverno. Portanto, seria um bom lugar para tentar um resultado bem melhor.

Na verdade, as coisas não mudaram muito. Nguyen não passou do 18º lugar no grid de largada, ficando a mais de cinco segundos do pole-position Sébastien Bourdais. A corrida foi bastante parecida com a de Interlagos: Rob largou muito bem e ganhou posições, mas perdeu algumas quando um carro rodou à sua frente e ele teve de sair da pista para desviar. Após isso, Nguyen voltou à carga e começou a recuperar posições, mas a mão esquerda voltou a perder sensibilidade e ele não pôde se esforçar muito mais. Terminou em 11º, sendo o único piloto da sua equipe a chegar ao final.

Em Barcelona, Nguyen continuou sua difícil linha de aprendizado. Ele não conhecia a pista e só conseguiu o 17º tempo. Naquele momento, muitos dos que diziam que o australiano não tinha condições de estar no grid deram um sorriso de canto de boca. Como discordar destas vozes naquela hora?

Na corrida, mais dificuldades: Nguyen começou a ter problemas de desgaste dos pneus traseiros e seu carro terminou a corrida dançando para lá e para cá. Com isso, ele deu uma ligeira escapada e perdeu algumas posições, terminando em 14º. Pelo menos, a coluna não voltou a doer mais.

Em A1-Ring, que é uma pista mais fácil para os pobres novatos, Rob conseguiu o 12º tempo. Vale dizer que este é um dos traçados que ele já conhecia dos tempos da Fórmula Volkswagen. Mesmo assim, mérito para ele, que conseguiu ficar logo à frente do então líder do campeonato, o brasileiro Rodrigo Sperafico.

Nguyen em Magny-Cours

O sábado da corrida foi bastante interessante. Em sua melhor atuação até então, Nguyen quase ultrapassou Antonio Pizzonia na largada. Não o fez porque teve medo de se envolver em um daqueles célebres engavetamentos que costumam ocorrer na Áustria. Mesmo assim, andou direitinho, não cometeu erros pela primeira vez e até ultrapassou Alex Müller no final da corrida. Saldo final: nono lugar. Tudo bem que o companheiro Haberfeld havia abocanhado mais um pódio, mas ninguém naquele instante esperava ver Nguyen brigando lá nas cabeças.

Mônaco foi o palco da próxima etapa. Que já começou bem para o australiano: ele ficou a apenas dois décimos do companheiro Mario Haberfeld no treino classificatório e em 11º na tabela geral. Tudo isso sem sequer ter pisado anteriormente em Montecarlo, aquela pista onde apenas a galera do bem consegue desfilar rapidamente entre apês e marinas logo de cara.

Nesta corrida, ao contrário do que vinha acontecendo, Nguyen não largou bem e perdeu posições, ficando preso atrás de Ricardo Mauricio. Assim como o australiano, vários outros pilotos ficaram para trás graças ao brasileiro da Red Bull RSM Marko, que andava mais lento do que todos. Na volta 16, Rob cometeu um erro, rodou e bateu de traseira. Fim de prova para ele. De qualquer jeito, não deixa de ser notável o fato dele ter abandonado pela primeira vez apenas na sua quinta corrida. Depois de Montecarlo, as coisas melhoraram. Mas não em todas as ocasiões.

Nürburgring era outra pista que Nguyen conhecia lá da época da Fórmula Volkswagen. Ele esperava ir bem, mas não tanto. Na classificação, deixando todo mundo de queixo caído, fez o quarto tempo, apenas três décimos mais lento que a marca da pole-position de Bourdais. O companheiro Haberfeld ficou oito posições e quase um segundo atrás, mesmo tendo bem mais quilometragem do que Nguyen na pista.

Se o treino foi excelente, a corrida foi uma loucura só. Rob não largou bem e foi empurrado por Ricardo Sperafico, caindo para quinto. Mais adiante, um acidente envolvendo dois adversários fez Nguyen subir para a terceira posição. Imagine o que seria pegar um pódio logo em sua sexta corrida de Fórmula 3000!

Bastante ansioso e temendo por tudo a perder por um erro tonto, Nguyen acabou não dificultando a ultrapassagem de Antonio Pizzonia, que tinha um carro mais rápido. Pouco depois, o italiano Enrico Toccacelo também se aproximou e os dois, o italiano e o australiano, protagonizaram o melhor duelo da corrida. Toccacelo chegou a fazer a ultrapassagem, mas Nguyen tentou dar o troco na reta dos boxes. Enrico não facilitou a vida e os dois se tocaram, tendo o primeiro se dado mal e abandonado a prova. Rob conseguiu seguir em frente, mas perdeu uma posição para Patrick Friesacher e acabou finalizando a corrida em quinto, marcando seus dois primeiros pontos. Eu vi a corrida e devo dizer: Rob Nguyen apareceu para mim naquele dia.

Cheio de moral e muito elogiado pela mídia especializada, o piloto da Astromega partiu para a etapa de Silverstone, a sétima daquela temporada, achando que ganharia a Copa do Mundo e as Olimpíadas. O resultado, no entanto, foi apenas mediano: 13º no treino oficial, 15º na corrida, com direito até a tomar ultrapassagem do pitoresco Nicolas Kiesa. Pelo menos, chegou ao fim de mais uma.

Sua melhor atuação: Nürburgring

A próxima etapa foi no circuito francês de Magny-Cours. E Nguyen não poderia ter começado de maneira melhor: em sua segunda volta pela pista, ele escapou da pista na curva Château d’Eau e bateu nos pneus, danificando o carro. Os mecânicos da Astromega foram mais rápidos que o piloto e consertaram o carro a tempo dele participar do treino oficial, onde Rob obteve uma discreta 13ª posição.

Os maus agouros pareciam persistir antes da corrida, quando Rob Nguyen ficou parado no grid de largada enquanto os demais saíam para a volta de apresentação. Para sua felicidade, o carro religou a tempo e ele conseguiu voltar à sua posição original no grid. Rob largou bem e se viu metido em uma encarniçada disputa de posições entre quatro ou cinco carros, coisa linda de se ver. Infelizmente, faltando apenas duas voltas para o fim, ele acabou sendo fechado por Tiago Monteiro, saiu da pista e perdeu uma posição. Terminou em 11º.

Na semana seguinte, a Fórmula 3000 foi para Hockenheim, outro autódromo que Rob Nguyen conhecia lá da época da Fórmula Volkswagen. Eu falei autódromo, não pista: Hockenheimring havia sido modificado alguns meses antes, com as belíssimas retas que cortavam a floresta dando lugar a um insípido trecho misto. Ou seja, Nguyen conhecia tanto aquela nova pista como qualquer outro ali. O que não o ajuda muito na hora de se explicar pela 12ª posição no grid de largada. Repare que o nível de exigência já era bem mais alto – Rob já não era mais um total novato.

E a corrida foi um desastre, a pior até então. Nguyen largou mal, perdeu duas posições logo de cara e ainda se afundou mais um pouco naquele hairpin onde metade do grid costuma sair da pista na primeira volta. Nas voltas seguintes, o australiano recuperou algum tempo e até conseguiu ultrapassar Ricardo Mauricio, mas os dois acabaram se tocando na manobra e o pneu do carro branco da Astromega estourou. E lá foi Nguyen aos pits colocar um pneu novo – algo que, em uma categoria sem pit-stops obrigatórios como era a Fórmula 3000 daqueles tempos, sempre condenava o piloto à última posição.

Depois do pit-stop, Nguyen voltou à pista apenas para receber a informação de que havia sido punido em dez segundos pelo toque com Mauricio. Puto da vida, ele regressou aos boxes, fez a parada e retornou à pista muito distante do penúltimo lugar. Na última volta, ainda rodou sozinho e acabou deixando o motor morrer. Mesmo sem cruzar a linha de chegada, foi classificado como 11º.

Você pode achar absurdo o fato de um blog brasileiro que fala principalmente de Fórmula 1 dar tanto espaço a um cara que só chegou à Fórmula 3000 e não fez nada de relevante por lá. Você pode ficar aí incomodado pelo fato de não estar comentando sobre a pré-temporada, a queda do Ricardo Teixeira, a tempestade solar ou coisas desta magnitude. Você pode achar tudo o que quiser. Eu só acho que um cidadão que faz Fórmula 3000 após um único ano de carreira como piloto e que anda no ritmo logo de cara não é algo menos que impressionante.

Mas prometo que acabo amanhã. Ou não.

O australiano descendente de vietnamitas Rob Nguyen

Como todos vocês hão de ter consciência, a Fórmula 3000 Internacional foi o melhor campeonato de monopostos que já existiu. E um dos bons motivos para isso é a lista de pilotos que já deram as caras na categoria. Campeões de Fórmula 1, CART e Indy Racing League, recordistas de Le Mans, pilotos que fizeram fama nos anos 70, mafiosos, professores de inglês que correm apenas para relaxar, pilotos com problemas de visão, comediantes, apresentadores de TV, franceses de sangue iraniano ou armênio e até mesmo um executivo israelense. Uma verdadeira fauna amazônica.

Eu já contei a história de vários deles aqui. O canadense que foi rejeitado pelo pai, preso por excesso de velocidade nos EUA, contaminado com o vírus da AIDS pela namorada e morto por um pneu voador em uma corrida em Phoenix. O sueco que não conseguia enxergar em três dimensões. O suíço que foi eleito o pior piloto da história de duas categorias distintas. Mas há outros perfis tão interessantes quanto que eu prometo detalhar mais. Hoje, apresento a história de Rob Nguyen.

Rob Nguyen. Se você parar para exercitar a bolota de tutano que recheia seu crânio, poderá até dizer que este nome não lhe soa estranho. Talvez não seja, mesmo. Lembra-se de quando a Rede Globo começou a exibir algumas etapas da Fórmula 3000 ao vivo, entre 2001 e 2002? Eram tempos em que os brasileiros povoavam o grid e os torcedores brazucas de ocasião prestavam atenção naquele tal de Antonio Pizzonia que parecia ser mais um “novo Senna”. No meio deles, havia esse tal de Nigu… Nigu… o quê?

Ao apresentar o grid de largada da etapa de Interlagos da Fórmula 3000 em 2002, o locutor global Cléber Machado também deu uma engasgada: “Rob Ni… Ngu… Nguyen! Um piloto da Austrália”. Seu colega Galvão Bueno, escalado para transmitir a etapa de Hockenheim daquele mesmo ano, preferiu não arriscar quando teve de narrar um pequeno erro do tal piloto: “olha só o que fez esse australiano com sobrenome de vietnamita”. Como é que é?

Rob Nguyen é que nem eu, um sujeito com sangue asiático nascido em um país de gente ocidentalizada. O sobrenome não deixa qualquer dúvida: ele é descendente de vietnamitas. Vale dizer que Nguyen é o sobrenome mais comum do Vietnã, sendo utilizado por nada menos que 39% da população. É o verdadeiro Silva em Hanói. Só que Rob foi ligeiramente mais sortudo do que seus famélicos compatriotas e nasceu em Brisbane, reluzente cidade do estado australiano de Queensland. Mas por que o interesse nesse cara?

Em primeiro lugar, falta de assunto interessante. Em segundo lugar, Nguyen chamou muita atenção naquela época pela sua total falta de experiência no automobilismo. Se meus registros estão corretos, Rob Nguyen nunca disputou campeonatos de kart e estreou no automobilismo diretamente na obscura Fórmula Volkswagen alemã em 2001. No ano seguinte, o segundo em que esteve envolvido com corridas oficiais, ele já participava da categoria imediatamente anterior à Fórmula 1. Fez uma temporada e meia na Fórmula 3000 e depois mais uma na Fórmula Holden. Depois disso, fim. Na verdade, me arrisco a dizer que o cara foi o sujeito menos experiente a disputar corridas na Fórmula 3000. Sua carreira total no esporte a motor durou apenas quatro anos e dois deles se passaram na Fórmula 3000. Inacreditável, eu diria.

A família de Nguyen fugiu disso aí

Como tudo isso começou? Do nada.

As histórias sobre Rob Nguyen são como um livro sem introdução ou epílogo. Você não sabe exatamente como ou o porquê, somente o fato. Mas vamos ao prólogo do prólogo.

Nos anos 70, o pau comia solto no Sudeste Asiático. A Guerra Fria estava em um de seus momentos mais dramáticos e o comunismo ameaçava arregimentar uma série de países pobretões, o que deixava a turma pró-ianques de cabelos em pé. Um dos países onde as coisas ficaram realmente pretas foi o Vietnã. Como não sou historiador, não vou prolongar muito o assunto. O caso é que os vermelhos conseguiram dominar a parte norte do país enquanto a parte sul se destruía sozinha em conflitos entre católicos e budistas, regimes militares corruptos e inúmeras rebeliões. Percebendo que o Vietnã corria o risco de ser engolido pelos comunistas se o sul não se estabilizasse, os Estados Unidos decidiram intervir. Enquanto tentavam reerguer a região aliada, os americanos se meteram em uma horrenda batalha campal com os vietcongues. Em território plenamente conhecido pelos adversários.

Esta é a gênese da Guerra do Vietnã, que acabou quando os comunistas conseguiram tomar o controle de Saigon, que era a capital da parte anticomunista. Os Estados Unidos perderam 58 mil homens, tiveram de cuidar de mais de 303 mil soldados feridos e saíram da guerra sem terem alcançado nenhum dos objetivos. O Vietnã comunista se saiu vencedor, mas não dá para dizer que o país como um todo se deu bem: nada menos que dois milhões de civis e um milhão de militares morreram durante os vinte anos de guerra.

A família de Rob Nguyen, que tinha bem mais dinheiro que a esmagadora maioria da população, caiu fora do país quando os comunistas começaram a tomar conta do país inteiro, um pouco antes da queda de Saigon. O ideal era ir para um país quente e praieiro. Brasil? Não, muito longe. Os Nguyen queriam um país mais próximo, localizado de preferência em alguma ilha ou arquipélago. Indonésia? Nem pensar. Sobrou, então, a Austrália. Que escolha ruim, né?

Como não consegui encontrar muitas fontes, tomo o relato do próprio Rob Nguyen em uma entrevista concedida a um site australiano em 2002. Apesar da família ter bem mais dinheiro que os demais compatriotas, esta fortuna não significa muita coisa em termos absolutos. Na Austrália, os Nguyen eram apenas mais uma família de imigrantes asiáticos quebrados que precisavam iniciar uma vida nova em um país onde o chefe de Estado não é deposto ou assassinado. Eles talvez nem teriam conseguido sair do Vietnã se não tivessem sido ajudados por caridade australiana, segundo Rob.

País novo, era hora de ir atrás de emprego. O patriarca dos Nguyen arranjou um emprego como padeiro em Brisbane e se deu bem, aprendendo a fazer maravilhas com trigo. Ele gostou tanto do negócio que decidiu abrir sua própria padaria. Ela cresceu bastante. A ponto de se tornar uma invejável rede de padarias de Brisbane. Os três irmãos de Rob, mais velhos, se envolveram no empreendimento e passaram a comandar suas próprias filiais. A família Nguyen deixou a tristeza vietnamita para trás e se transformou em um sobrenome respeitável na cidade.

Como a família de Rob Nguyen ganhou dinheiro

Rob Nguyen nasceu em 1980, quando a Guerra do Vietnã já havia virado coisa do passado e a família já havia estabelecido laços fortes com a Austrália. Foi o único dos filhos do padeiro a não ter nascido no Vietnã. Aparentemente, suas duas primeiras décadas de vida foram normais, com todo o sol, as garotas e a diversão que um garoto endinheirado poderia comprar em um paraíso como a Austrália. Ele provavelmente deve ter começado a gostar de automobilismo ao assistir às corridas de Fórmula 1 nas madrugadas de domingo para segunda, que é o horário no qual o pessoal da Oceania pode acompanhar as transmissões. Nas horas vagas, fazia uma ou outra corrida de kart apenas como diversão.

Mesmo assim, Rob nunca havia se interessado muito em fazer uma carreira profissional no automobilismo ou algo assim. No início de 2000, prestes a completar vinte anos de idade, sua família decidiu que era hora dele ter uma nova experiência na vida. O garotão foi colocado em um avião e enviado para a Suíça. Por lá, ele faria um curso de dois anos de bacharelado em Administração de Negócios na Universidade de Lausanne. Dois anos. Enquanto isso, o idiota que vos escreve atrela sua alma em um interminável curso de Economia de mais de cinco anos. Fora que estudar na Suíça, onde você fala quatro línguas e come fondue, deve ser bem chato. Chatíssimo.

O aplicado Nguyen caiu de cara nos livros e se deu bem. Tão bem que a família quis lhe recompensar com um prêmio. Um teste em um carro de corrida. Por ter mandado bem nos estudos, Rob teria direito a pilotar um monoposto durante um dia. Sentiu inveja? Eu não, imagine.

O teste seria feito na Áustria com um antigo carro de Fórmula Vauxhall da equipe de Walter Penker, um conhecido olheiro de pilotos no país. Penker costumava dar um teste a jovens pilotos visando encontrar um futuro Ayrton Senna ali entre eles. Para financiar este programa de desenvolvimento, ele contava com o apoio de empresas como a Sebring e a Remus. Mas o jovem Nguyen acabou conseguindo seu espaço por meio do dinheiro que seus dois irmãos colocaram no bolso de Walter Penker. Seria a primeira vez que Rob pilotaria um carro de corrida. Isso foi em novembro de 2000.

Nguyen foi à pista e fez tempos de volta muito bons. Ótimos. Excelentes. Walter Penker ficou de queixo caído. Como um garoto de 20 anos de idade que nunca tinha andado em um carro desses poderia ir tão rápido logo de cara? O olheiro austríaco decidiu conceder a Nguyen um segundo teste. Dessa vez, o negócio seria mais sério. Um grande talento do automobilismo mundial poderia estar surgindo ali, num presente de família.

Neste segundo teste, Nguyen seria comparado a um ex-piloto da Indy, Hubert Stromberger. Os dois pilotariam o mesmo carro de Fórmula Vauxhall. Rob foi à pista e fez um tempo apenas um segundo mais lento do que o de Stromberger, que já tinha experiência internacional. Penker ficou tão maravilhado que decidiu, sem delongas, contratar o australiano de olhos puxados para pilotar em sua equipe na Fórmula Volkswagen em 2001.

Nguyen pilotando um carro da Fórmula Volkswagen

A Fórmula Volkswagen era uma categoria recém-criada pela montadora que se situava em um patamar intermediário entre a Fórmula Renault e a Fórmula 3. Para Rob Nguyen, seria um bom lugar para aprender. Havia apenas um problema: ele não tinha uma licença para pilotar. Então, antes de estrear na Fórmula Volkswagen, Nguyen fez quatro corridas em categorias amadoras para obter o documento. Sem grandes problemas, ele conseguiu.

Em 10 de junho de 2001, Rob Nguyen fez sua estreia no automobilismo profissional. Ele debutou na etapa de Salzburgring da Fórmula Volkswagen e já chegou arrepiando: debaixo de temporal, ele conseguiu fazer um notável quinto tempo no treino classificatório, superando catorze pilotos muito mais experientes. Durante a corrida, Nguyen teve problemas elétricos e caiu para 11º. Mas as coisas só melhoraram dali para frente.

Na corrida seguinte, em Nürburgring, Nguyen deu uma amostra de seu talento: passou grande parte de sua segunda corrida profissional na vida corrida disputando a sétima posição com o alemão Stefan Haak. No final da corrida, cheio de sangue frio, aproveitou-se do erro do rival e o ultrapassou. Ficou com a sétima posição. Achou pouco?

A terceira corrida foi realizada em Lausitzring em agosto. E Rob Nguyen assustou a todos fazendo a pole-position. Lembrando: ele estava em sua terceira corrida profissional na vida. Na prova, Rob largou bem e liderou grande parte das voltas, mas foi ultrapassado pelo alemão Sven Barth nas últimas voltas. Mesmo assim, terminou em segundo e assumiu a terceira posição no campeonato.

Nguyen continuou rápido, mas sua inexperiência o deixou em maus lençóis em alguns momentos. Na quarta etapa, em Zolder, ele largou em terceiro e chegou a andar nas primeiras posições, mas terminou em sétimo. Em A1-Ring, não fez nada de mais e terminou apenas em décimo. Em Hockenheim, colidiu com um adversário na penúltima volta e perdeu a chance de subir ao pódio. Em Zandvoort, esteve discreto e terminou apenas em oitavo. Fogo de palha?

Na segunda corrida de Nürburgring, Nguyen voltou a andar razoavelmente bem e chegou a estar em quinto, mas cometeu um erro e caiu para sétimo. Em compensação, a nona e última etapa do calendário foi mais do que recompensadora. Em Oschersleben, Rob largou em quinto, tentou roubar a quarta posição de Philip Cloostermans, saiu da pista, voltou em sétimo, ultrapassou um bocado de gente e terminou numa ótima terceira posição. Com dois pódios e uma pole-position, Rob Nguyen terminou sua primeira temporada profissional no automobilismo na quinta posição. Alguém aqui achou ruim?

Andreas Zuber, Mario Haberfeld e Rob Nguyen no primeiro teste do vietnamita na Fórmula 3000 Internacional

Na verdade, muita gente ficou impressionada. Em alguns meios, o nome de Rob Nguyen era acompanhado do apelido “Kimi Räikkönen asiático”: o finlandês também havia chegado do nada na Fórmula 1 e assombrado os concorrentes. O patrão Walter Penker decidiu apoiá-lo lhe arranjando um teste em uma categoria maior no fim de 2001. Após apenas quatro corridas amadoras e nove profissionais, Nguyen teria a oportunidade de pilotar um carro da Fórmula 3000 europeia, um pequeno jato com 450cv de potência. Se fosse bem, poderia disputar a categoria já em 2002. Você tem noção do que é isso?

A equipe escolhida seria a Ghinzani, de propriedade do ex-piloto Piercarlo. O circuito seria o de Vairano, na Itália. Rob testaria contra outros três pilotos, um da Fórmula Renault, outro da Fórmula 3 e o piloto titular da equipe na temporada de 2001. E não é que Nguyen foi o mais rápido dos quatro? Ele conseguiu um tempo sete décimos mais rápido que o do titular e ficou a um único décimo do recorde que a Ghinzani havia conseguido em Vairano. Tudo isso em um dia e meio de testes.

Walter Parker ficou extasiado com o que viu. Ambicioso, ele propôs uma ideia ainda mais ousada para Nguyen: e se ele tentasse, logo de uma vez, a Fórmula 3000 Internacional, a categoria imediatamente anterior à Fórmula 1?

Penker e Nguyen foram atrás de uma equipe que lhe pudesse ensinar alguma coisa em um possível primeiro ano na categoria. Não adiantaria começar logo de cara em uma equipe forte, como a Arden ou a Super Nova, para fazer o papel de segundo piloto de um Tomas Enge ou Sébastien Bourdais da vida. E também não adiantaria nada se ele escolhesse uma equipe muito fraca, que o relegaria às últimas posições. Uma boa alternativa era a Team Astromega, de propriedade do ex-piloto belga Mikke van Hool. Os dois lados trocaram algumas conversas e tudo começou a dar certo.

Em janeiro de 2002, Rob Nguyen foi convocado para fazer três dias de testes com a Astromega em Valência. Ele testaria ao lado dos brasileiros Mario Haberfeld e Rodrigo Sperafico e do dinamarquês Nicolas Kiesa. Naquela altura, o então anônimo Nguyen era visto pela turma da Fórmula 3000 como apenas mais um moleque rico e caricato que torraria algum dinheiro para se divertir um pouco.

Nada disso. Logo no primeiro dia, 23 de janeiro, Nguyen fez um tempo apenas 1s3 mais lento que o de Haberfeld, que já contabilizava três temporadas completas na Fórmula 3000. No dia seguinte, o australiano melhorou sua marca em mais de um segundo e ficou a apenas oito décimos de Haberfeld. A equipe Astromega adorou o que viu. Rob, um fanático por mecânica de automóveis, era um sujeito absolutamente preciso no acerto do carro e no diagnóstico do comportamento na pista. Nos dias de Fórmula Volkswagen, ele chegou a trabalhar como engenheiro de seu próprio bólido!

O que aconteceu com ele? Conto na última parte.

(Sexta parte da entrevista com Roberto Moreno: algumas histórias, pessoas que não deixaram lembranças tão boas e um desabafo sobre sua imagem de piloto sofrido)

VERDE: Cara, o que levava esse monte de equipezinha à Fórmula 1 naquela época? Onyx, Rial, Zakspeed… O que facilitava para essa gente?

ROBERTO: Eram equipes com um sonho de ser equipe grande na Fórmula 1, como todos os outros que começaram.

VERDE: Naquela época, era mais fácil de entrar, né?

ROBERTO: O Ron Dennis começou com equipe pequena.

VERDE: É, a dele deu certo… É, mas fora a Coloni, você teve chance de correr em outra equipe? Tinha vinte equipes em 1989.

ROBERTO: Não, porque eu fechei um contrato com a Ferrari bem cedo, né?

VERDE: Aí não tinha como assediar, mesmo…

ROBERTO: É.

VERDE: No caso da Eurobrun, como é que você fez o salto da Coloni pra lá? Porque a Eurobrun parecia ser até pior que a Coloni.

ROBERTO: Era um patrocinador que tava na Coloni e que gostava de mim. Ele tinha vontade de ir pra Eurobrun e me levou com ele.

VERDE: Entendi. A história da Benetton, acho que você vai contar bastante no seu livro. A Andrea Moda, eu nem vou entrar muito nisso porque deve ser até meio desagradável pra você. Mas como é que veio o convite pra você entrar lá?

ROBERTO: Veja bem, vocês vem as coisas de uma maneira muito negativa, cara. Se não fossem essas equipes, eu não faria uma carreira de 32 anos. Essas equipes, por piores que sejam em termos de resultados, me deram condições de continuar minha carreira, cara. Bem ou mal, o Enzo Coloni me levou um ano para a frente e eu ganhei dinheiro para viver. E a Eurobrun é a mesma coisa, cara. Você tem de lembrar que a história da minha carreira não é só competir, é ter feito uma carreira no automobilismo.

VERDE: Não, é que geralmente tem muito piloto que diz que “ah, eu corri na equipe tal, pior coisa da minha vida, me arrependo, não deveria ter ido pra lá, se eu tivesse tomado outro rumo”. E escutar um ponto de vista desses é algo diferente para mim. Eu fico até meio chocado, entendeu? É muito fácil reclamar, na verdade.

ROBERTO: Veja bem, o (Ron) Tauranac me deu a chance de correr na Fórmula 2. Depois, ele tirou a possibilidade de eu ser campeão. Na melhor fase da minha vida. Eu tava bom pra caralho, no auge. Eu tinha feito um ano bem mais ou menos nos Estados Unidos e ele deu uma chance na minha carreira. Só que ele tirou a possibilidade de eu ser campeão. Eu posso reclamar, cara? Não posso. O cara me deu uma chance de continuar minha carreira. E de chegar em segundo. O (Flavio) Briatore me deu a chance de disputar a Fórmula 1 com o Nelson, cara. Ele me tirou porque ele tinha de tirar, pô. Eu tava velho para correr de Fórmula 1. E não podia ter dois brasileiros.

Então, o que acontece comigo de diferente em relação aos outros? Os outros pilotos iam só pra correr, eu fui pra fazer uma profissão. Então, como profissão, eu fui muito bem sucedido. Do nada, eu criei uma carreira de 32 anos sem nunca ter estudado. Então, é assim que eu vejo. Por isso que eu não sou azarado. Eu sou muito sortudo de, sem nada, ter tido tantas oportunidades boas, somente pelo meu talento técnico e pela minha habilidade de guiar. E pelos amigos que sempre me ajudaram em oportunidades diferentes. E são pessoas como você que vão poder fazer o público entender esse lado, que eu espero poder mostrar no meu livro.

VERDE: Eu vou colocar essa retificação porque, realmente, Roberto, quando a gente toma contato com sua carreira, a gente pensa “pô, coitado do cara, correu de Coloni, de Eurobrun, de AGS, disso, daquilo, aí foi pra Indy, pegou Payton-Coyne, correu na Herdez, correu na Pacific Coast”. Então, a gente tende a achar que, neste ambiente cruel do automobilismo, a gente acha que, pô, coitado do cara. O Hamilton, por exemplo, começa na McLaren… Bacana você pensar assim.

ROBERTO: Veja bem, cara. Por causa dessas equipes que eu pude mostrar meu talento. Classificar a Andrea Moda em Mônaco talvez tenha sido melhor do que ser campeão do mundo de Fórmula 1, cara. Todas as equipes de Fórmula 1 saíram para fora e me aplaudiram de pé. São prazeres que só eu sei o valor.

VERDE: E, fora a Ferrari e a Benetton, você teve algum contato sério com alguma equipe de média pra grande?

ROBERTO: Tive um contrato com a Lotus, que não vingou, mas que me deu possibilidade… Olha só, cara. Eu levei metade da grana necessária para correr de Fórmula Ford e, com aquele dinheiro, fiz 22 corridas e 22 testes. E vivi daquele dinheiro. Eu precisava de 25 mil dólares para correr na Van Diemen, fazendo 30 corridas por ano com 30 testes. Eu, com 13 mil dólares, fiz 22 corridas, 22 testes e vivi com esse dinheiro. Na Van Diemen, você precisava de dinheiro pra viver além daqueles 25 mil dólares. E esse foi o único dinheiro que eu levei que era dinheiro de amigo, que me patrocinava no primeiro ano. A Van Diemen me contratou, eu trabalhava como motorista da van, pra ganhar dinheiro para viver, e eu tinha um carro de graça para correr. O melhor de tudo é que eu fui campeão, ganhei 15 corridas de 30.

Depois da Van Diemen, minha carreira acabou, cara. Se não fosse o Peter Collins, da Lotus, me dar um contrato de testes de três anos e me pagar pra eu ter dinheiro pra viver na Europa, as oportunidades de substituir pilotos na Fórmula 3 que deram sequência na minha carreira não aconteceriam. Então, a Lotus me deu a oportunidade de voltar para a Europa. Depois, quando a McLaren quis assinar para eu correr, não me deixaram correr.

VERDE: Isso foi que ano?

ROBERTO: Ah, cara, foi quando o (Andrea) de Cesaris pegou aquela situação, lá…

VERDE: 1981.

ROBERTO: Foi 81, né?

VERDE: Aham.

ROBERTO: 81. Eles não deixaram eu correr. Falaram “não, você vai correr com a gente”. E depois não me deram a oportunidade. Mas veja bem, eu não vejo desse jeito. O que eu vejo? Que por causa do contrato de testes com a Lotus, eu pude voltar para a Europa e dar sequência na minha carreira. Se não fosse eles, eu não fazia a Fórmula 3. A McLaren nunca teria me convidado para correr. O Tauranac me deu oportunidade em 84. Em 85, eu tinha o sonho de correr na Fórmula 1. Se eu não tivesse ficado na Europa, eu não tinha tido oportunidade depois.

A maneira que eu vou pedir pra você me ajudar a mostrar isso é como você apresenta isso. Porque eu não fui um piloto azarado. Eu fui um piloto sortudo que, sem nada, conseguiu fazer tanta coisa e até chegou no pódio na Fórmula 1. A história da minha vida não é a de um piloto que foi competir, mas de um piloto que foi fazer uma carreira no automobilismo sendo mecânico de motocicletas. E quando teve a oportunidade de representar bem uma equipe, sempre brigou pra ser campeão. Oportunidades que vieram em 80, 84… Em 83, não foi uma oportunidade excelente, mas quase deu pra ser campeão. Na Fórmula Pacific, do outro lado do mundo, quando eu corri lá com o carro do Peewee (Greg Siddle)… Eu também fui campeão mundial de Fórmula Atlantic. E quando o Tauranac me deu a oportunidade (na Fórmula 2 em 1984), se ele deixasse eu ganhar, poderia ter sido campeão, mas cheguei em segundo. Quando eu tive oportunidade na Fórmula 3000, vencemos. E na Indy…

Então, a minha história não é a daquele cara que tinha dinheiro e foi representar a melhor equipe. É o contrário. Fui aquele cara que, sem condições de estar nas melhores equipes, com trabalho e esforço, conseguiu mostrar resultado e teve oportunidades únicas, e quando tive estas oportunidades, mostrei resultados ainda melhores.

VERDE: Para terminar, vou fazer algumas perguntas mais distantes da competição. Dos ambientes que você conviveu, o da Fórmula Indy, o da Fórmula 1 e o da Fórmula 3000, como eles eram? O da Fórmula 1 eu imagino que era o mais cruel. O que você acha?

ROBERTO: A Fórmula 1 da minha época era fantástica. Época do turbo, que eu presenciei o Nelson correndo por lá, época fantástica. Cada um inventava uma coisa diferente, era um ambiente muito legal. Eu lembro que o Nelson (Piquet) sempre falava bem. A Indy, quando eu fui correr lá, era um campeonato meio que caseiro… Como é que chama isso em português? Um campeonato… amador… Não chega a ser amador, mas era bem tipo amador. E, por mais que fosse muito legal correr lá, eu tinha o sonho de correr da Fórmula 1. E falei para mim que “no dia que eu não puder mais correr na Europa, eu vou voltar pra cá para correr”. Porque eu tinha gostado muito.

Depois que eu saí da Fórmula 1 e fui pra Indy, eu vi que a Indy estava no mesmo nível da Fórmula 1 da minha época na Europa. Então foi muito legal correr de Fórmula Indy. Hoje em dia é que a Fórmula 1 está muito pouco prazerosa.

VERDE: Você ainda frequenta o paddock?

ROBERTO: Frequento, porque eu tô cuidando do Lucas Foresti e tô começando a me entrosar de novo, a abrir as portas para ele de novo.

VERDE: Mas é aquela nojeira que a gente vê à distância?

ROBERTO: Agora é profissional. Antigamente, eram pessoas que amavam o automobilismo, sendo profissionais, mas a essência era o amor e a paixão pelo automobilismo. Na época que eu tava lá. E isso deu sequência na Indy, que era a mesma coisa. Hoje, o comercial tomou conta. O profissionalismo e o comercial tomaram conta da Fórmula 1. Então, as pessoas não têm aquele amor que eles tinham antes. É puro business.

VERDE: E na Fórmula 3000 eu imagino que o ambiente era bem tranquilo também, bem familiar.

ROBERTO: Ah, a Fórmula 3000 era fantástica, também. Mas você vê que até na Fórmula 3000, mesmo sem dinheiro, eu dei um jeito de correr. Talvez seja uma coisa única, que só eu fiz, mas eu consegui, pô. Hoje, você não conseguiria isso.

VERDE: Hoje, com a GP2 cobrando dois milhões de euros por vaga, é impossível.

ROBERTO: Cara, mas em 88, um milhão de dólares não era muito diferente, não. Você tinha pessoas como o Ron Salt e o Gary Anderson, que amavam o automobilismo. E que fariam qualquer coisa para correr. Hoje, não dá mais para fazer isso. Hoje, não tem isso mais. Se você não tiver grana para começar, você não começa, cara. Não vai encontrar ninguém que te ajude no meio do caminho. Hoje, você vai encontrar quem? Os investidores: a Red Bull, a McLaren investindo nos jovens… Mas também tinha isso na época: você tinha a Elf, que investia, você tinha a Marlboro, que investia… Você tinha isso na época, também. Mas hoje você não tem mais aquele cara que investe do bolso… Talvez até tenha, que nem aquele cara da Ásia, não sei…

VERDE: O Tony Fernandes…

ROBERTO: É, mas aí é coisa pessoal, né? Hoje em dia, se você não tiver grana, você não começa.

VERDE: Além do Lucas Foresti, quais pilotos você gerencia?

ROBERTO: Eu cuidei do Pedro Nunes (ex-GP3) um pouco, ajudei ele. E ajudei o João Jardim (ex-Fórmula Futuro), que parou, né?

VERDE: Parou?

ROBERTO: Os dois pararam.

VERDE: E pra captar patrocínio no Brasil, vocês matam um leão por dia, né?

ROBERTO: Ah, cara, é muito difícil, mesmo. Mas eu não entro nessa parte, né? Eu só faço a parte das corridas.

Gregor Foitek

VERDE: Voltando um pouco, imagino que em 32 anos de carreira, você deve ter conhecido tudo quanto é tipo de gente. Você fez vários amigos e inimigos e eu gostaria de saber quais foram seus grandes amigos neste período.

ROBERTO: Olha, a minha carreira só foi possível porque eu tive um número grande de amigos que me ajudaram em situações diferentes. Foram amigos de lugares diferentes que apareciam dependendo da dificuldade. Todos eles estenderam uma mão para mim. E por causa deles, eu consegui fazer uma carreira de tanto tempo no automobilismo. Então, cara, eu só tive amizades. As pessoas que eu olho com um pouco de desprezo, mas que não considero como inimigos, são gente como Gregor Foitek, que tinha desprezo pelos outros pilotos, né?

VERDE: Mas ele era daquele jeito na pista ou também era estranho como pessoa?

ROBERTO: Como pessoa, eu não sei, mas na pista ele era assim. Então, são pessoas que eu mantenho distância. As que vêm à mente são ele e outras pessoas como o dono da AGS…

VERDE: Henri Julien?

ROBERTO: Não, o outro lá, o (François) Guerre-Berthelot. O Julien era gente fina. O Guerre-Berthelot, que quando comprou a equipe, não pagou a minha conta. Não pagou a minha passagem para ir para a Austrália e para o Japão, cara.

VERDE: Você tirou do bolso?

ROBERTO: Uma amiga minha comprou a passagem, porque tinha uma agência de viagens lá em Londres. E eu fiquei devendo pra ela, cara. Eu tive de tirar o dinheiro deles através de advogado no Brasil, quando eles foram treinar lá. São pessoas assim que eu olho com desprezo. Depois que eu fiz um trabalho enorme pra ele, ele não pagou a minha passagem aérea, cara. Pessoas como o Allan Hall (mecânico chefe da Ralt), que me trapaceou para eu não ser campeão… Mas eu não tenho ódio, não tenho inimigos, cara. Eu só tenho más lembranças dessas pessoas. São os três nomes que vêm à minha cabeça. O Guerre-Berthelot, da AGS, que não me pagou, depois que eu consegui um ponto pra ele. Ele não pagou a passagem, não é que ele não pagou dinheiro, ele não pagou a passagem…

VERDE: E ele tinha recursos pra isso, né?

ROBERTO: Claro que tinha. Na hora que botou o advogado lá, ele pagou na hora.

VERDE: E ele comandou a equipe até o fim dela?

ROBERTO: Não, ficou por pouco tempo. Ele ficou lá em 1987 e já passou pra frente no ano seguinte, 88.

VERDE: Picareta…

ROBERTO: No ano seguinte, quem recebeu os advogados foi o novo dono. Coitado. (risos)

VERDE: Ô bagunça essa AGS, hein?

ROBERTO: É…

(começo a quinta parte da entrevista falando da única corrida que Moreno fez na Fórmula 3000 em 1986. Naquela época, ele corria na Indy, mas os sonhos ainda estavam ancorados na Europa…)

VERDE: OK, vamos voltar para a Fórmula 3000. Em 1986, você fez uma corrida em Birmingham, não foi? Um toró terrível na Inglaterra…

ROBERTO: Ali foi o seguinte: quando eu tava com o Gary (Anderson) lá na Galles, eu falei pra ele que queria voltar a correr na Europa porque eu ia ficar muito velho pra correr na Fórmula 1 se eu não voltasse. Aí ele falou pro Ron Salt (dono da Bromley), que conseguiu que eu corresse a corrida de Birmingham no lugar de outro piloto lá (Volker Weidler).

Aí eu bati, cara. Eu bati de frente naquele muro que o David Hunt bateu e furou o muro lá de traseira. Eu bati de frente, cara. O chassi subiu assim, cara, e eu machuquei a coluna.

VERDE: Mas machucou feio?

ROBERTO: Cara, eu não podia nem respirar. Quando eu respirava, doía. E eu corri assim mesmo, porque tava chovendo e aí deu pra levar. Eu tomei uns remédios que o médico me deu para dor, e como estava chovendo, eu consegui correr.

VERDE: Mas era uma chuva muito pesada. Um tufão passou por lá, não foi?

ROBERTO: Foi… Choveu muito, cara.

VERDE: E como é que teve corrida?

ROBERTO: Ah, cara, sei lá… Corremos na chuva.

VERDE: Entendi.

ROBERTO: Eu corri pra terminar porque, na verdade, eu tava machucado. Quando eu respirava fundo, doía meu pulmão.

VERDE: E a Bromley era a mesma equipe pobre de 1988 ou naquela época ela tava um pouquinho melhor?

ROBERTO: Cara, era um pouquinho pior, porque não tinha o Gary, né?

VERDE: Mas era a mesma coisa, então? Dois mecânicos, o Ron Salt, o mesmo caminhão…

ROBERTO: Mesma coisa.

VERDE: Caramba…

ROBERTO: Existia um piloto que pagava lá que eu acho que não correu nessa corrida.

VERDE: Volker Weidler… Daí no ano seguinte, você foi pra Ralt, né? Voltou pra Ralt, aliás.

ROBERTO: Aí quando eu estava em Birmingham, o (Ron) Tauranac olhou pra mim e falou “porra, o que você está fazendo aqui?”. Eu falei “Ron, eu quero voltar a correr na Europa. Eu quero tentar chegar na Fórmula 1 de novo. Agora que eu juntei um dinheirinho nos EUA e deu para estabilizar, dá pra arriscar de novo”. Ele falou “pô, Roberto, mas você tava com a vida feita nos Estados Unidos, cara. Tu é maluco de vir pra cá?”. Eu falei “ah, se eu não vier agora, eu nunca mais vou conseguir chegar na Fórmula 1”. Ele falou “ah, então você vai guiar pra mim”. Apertou minha mão e acabou o problema.

VERDE: Mas você não tava com vontade correr na Fórmula Indy naquela época?

ROBERTO: Eu tava, mas eu sonhava em correr na Fórmula 1, né? Eu tava num processo… Desde 82, quando eu não me classifiquei com a Lotus (no GP da Holanda), o meu nome ficou mal. Em 85, eu quase entrei na Toleman. Aí eu fiquei a pé. A única oportunidade que apareceu foi a Tyrrell, do meu amigo lá, que falou “ó, Roberto, eu ponho você pra correr”. Se não fosse o Ken Tyrrell mandar os mecânicos dele em Silverstone, eu não tinha mecânico para correr.

(antes que você entenda errado, Roberto Moreno pilotou um Tyrrell na Fórmula 3000. Esse carro era preparado pela equipe Barron Racing, que apareceu apenas nas quatro primeiras etapas da temporada de 1985)

VERDE: Se não tivesse mecânico, ia ficar sem ter feito nada, então…

ROBERTO: É. Chegou em Thruxton, eu contratei dois mecânicos da Toleman pra me ajudar. Eu tinha arrumado uns patrocínios locais por lá, uns amigos daqui, uns amigos dali… Foi assim que eu corri em Thruxton.

VERDE: A Fórmula 3000 era assim, então? Dependendo da equipe, era tudo na base da permuta, dava um jeitinho aqui, um jeitinho ali, conseguia dinheiro de algum jeito… Era assim mesmo?

ROBERTO: A Fórmula 3000, não. Eu era assim. Porque era o único jeito pra eu correr. Senão, eu tinha de ir embora pra casa, cara. Como é que eu ia fazer?

VERDE: Na Ralt, em 1987, você tinha sido eleito um dos dez melhores pilotos do automobilismo internacional pela revista Autosport. Eu acho que você brigaria pelo título com o Stefano Modena, mas você teve muitos problemas. O que aconteceu?

ROBERTO: Cara, eram coisas diferentes. Primeiro, o chefe dos mecânicos (Allan Hall) me boicotava.

VERDE: Por quê?

ROBERTO: Porque, em 1984, o Allan era sócio do Mike Thackwell na equipe, apoiava a carreira do Mike Thackwell. E ele me boicotava para eu chegar em segundo, autorizado pelo Tauranac, porque o Mike Thackwell havia ajudado o (Jonathan) Palmer a ganhar no ano anterior. E pro Ron não deixar a impressão que tava me boicotando, ele deixava o Allan fazer. E eu descobria as coisas que ele fazia. E jogava na cara dele que ele era um filho da puta.

VERDE: Mas o Tauranac também era um filho da puta?

ROBERTO: Não. O Tauranac tava fazendo o papel dele de dono de equipe. Ele tinha feito um acordo com o Mike Thackwell de que se o Mike ajudasse o Jonathan Palmer, no ano seguinte ele seria o campeão. E a equipe era muito superior às outras. Como eu tava correndo de graça e ainda ganhava salário pra correr na Ralt, o Ron não me contou que eu ia chegar em segundo até a corrida de Misano. Lá, ele falou “o Mike vai ganhar o campeonato e você vai chegar em segundo”. Mas enquanto isso, o Allan Hall boicotava o meu carro.

Uma das condições que eu pedi pro Ron pra voltar a correr pra ele em 1987 seria dele dar um jeito pro Allan não me boicotar mais. Mas mesmo assim, o filho da puta me fazia alguma coisa.

VERDE: Mas a troco de quê ele fazia isso? Não tinha mais Mike Thackwell na história…

ROBERTO: Ele era sacana, meu.

VERDE: Não gostava de você, mesmo…

ROBERTO: Ele era sacana. Maldoso. Em Pau, botou menos combustível no meu carro. Em Vallelunga, tirou um parafuso importantíssimo que segurava o fundo do carro embaixo do motor. Os mecânicos falaram “Roberto, foi ele que trocou o fundo do carro no final de semana e não fez o buraco do parafuso”.

VERDE: Mas o Ron Tauranac não demitiu esse cara?

ROBERTO: O cara ajudava muito o Ron, era importante pra ele. E a cada problema que surgia, ele dava uma gerenciada, né? Aí o começo foi isso. Eu descobri quando eu montei em um carro reserva em Spa e, de último lugar, eu fiz a pole-position em uma volta. Todo mundo bateu palma quando entrei nos boxes. Mas eu saí do carro e queria matar um, cara. Eu falei “Ron, ninguém toca o dedo nesse carro e se a gente não descobrir o que esse filho da puta fez, eu não corro mais para você”. Aí a gente gerenciou essa situação. Mas mesmo assim, em Pau, ele botou menos combustível do que o que eu precisava para terminar a corrida, acabou o combustível faltando uma volta e meia para o fim. Na primeira corrida, quebrou a quarta marcha do carro, porque ele botou marcha velha no meu carro.

VERDE: Em Silverstone, né?

ROBERTO: Em Silverstone. Na corrida de Donington, as pastilhas de freio da frente acabaram e entrou ar no burrinho da frente, faltando lá três voltas pra acabar também. Em Pau, faltando uma volta e meia, acabou o combustível, e eu estava na liderança.

VERDE: Você não teve um problema em Jarama também?

ROBERTO: Em Jarama, a gente testou um diferencial novo que não funcionou, que quebrou no meio da corrida.

VERDE: Em Imola…

ROBERTO: Em Imola, eu bati em numa zebra e o carro quebrou. Quebrou a suspensão.

VERDE: Você ganhou em Enna, né? Enna foi a única, né?

ROBERTO: Em Le Mans, que eu ia ganhar, largando em décimo, já tava em segundo. Quando eu cheguei atrás do Luis Perez-Sala, que tava em primeiro, furou meu pneu.

VERDE: Puta que o pariu… Em Enna, eu ouvi falar que você meio que sacaneou a equipe, não foi? Você desacelerou na reta, aí todo mundo pensou “pô, esse carro quebrou de novo”. Aí de repente, o Pierluigi Martini surgiu lá no fundo, você acelerou e ganhou. Foi isso mesmo?

ROBERTO: Na reta, não, né? Eu fiz a última curva, que é a chicane, onde você aparece na frente dos boxes. Eu saí daquela curva e puxei pra direita como se o carro tivesse quebrado e diminuído a velocidade antes da bandeirada. Aí quando eu vi o Martini chegar perto de mim, eu acelerei de novo e cruzei a bandeirada.

VERDE: Mas foi pra sacanear com os caras?

ROBERTO: Sacanagem, não. Foi uma brincadeira, né?

VERDE: Tinha alguma coisa a ver com o Allan Hall?

ROBERTO: Vou fazer os caras acharem que eu vou quebrar de novo. Toda vez eu quebrava, né? Faltando três ou quatro voltas…

VERDE: Foi uma corrida que você passou bastante gente, né? Você largou em oitavo e passou um por um. Um calor do caramba, 40°C.

ROBERTO: Exatamente.

VERDE: E como era lá com o (Mauricio) Gugelmin lá na equipe?

ROBERTO: O Gugelmin era muito bom, cara. Ele era um piloto muito rápido, muito bom de classificação. Mas eu, com o mesmo carro dele, andava sempre mais constante do que ele na corrida.

VERDE: Eu ouvi falar que o Ron Tauranac não gostava dele. O Ron Tauranac tinha problemas com ele, não era?

ROBERTO: Não, muito pelo contrário, o Ron gostava muito dele. E o Allan Hall gostava muito dele também.

VERDE: OK, de Fórmula 3000 a gente já falou tudo o que eu queria. Queria saber um pouco das equipes pequenas de Fórmula 1. Como é que era a Coloni?

ROBERTO: Cara, a Coloni era uma equipe de Fórmula 3000 na Fórmula 1.

VERDE: Mesma estrutura e tal?

ROBERTO: Pequenininha. Era uma equipe que estava sendo patrocinada pela Ferrari, era apoiada como equipe júnior. Quando o Enzo Ferrari faleceu, eles cortaram o apoio.

VERDE: Cortaram, assim, do nada?

ROBERTO: É, a equipe ficou sem apoio.

VERDE: Então se o Enzo Ferrari não tivesse morrido, provavelmente a Coloni teria se dado bem melhor, então?

ROBERTO: Com certeza. Com o apoio que a gente teria lá… Quando o carro novo chegou, o (Enzo) Coloni ficou sem dinheiro. Ele investiu tudo para fazer o carro novo. A gente mal tinha dinheiro para comprar rodas?

VERDE: E como é que uma equipe de um carro só coloca um outro carro pro (Pierre-Henri) Raphanel também?

ROBERTO: Porque o Raphanel trazia um dinheiro.

VERDE: Mas dava pro gasto, compensava?

ROBERTO: Sei lá, eu acho que naquela época, a gente tinha o apoio da Ferrari, não?

VERDE: Cara, não sei.

ROBERTO: Depois é que ficou sem grana, o carro novo chegou e não deu pra desenvolver nada.

VERDE: Mas você teve umas atuações interessantes, tipo Montreal, Estoril… Como é que foi? Em Montreal, você tava de carro novo, né?

ROBERTO: É. O carro novo lá na sessão molhada era o mais rápido.

VERDE: E era bom o carro?

ROBERTO: Era bom, só que não tinha dinheiro para terminar o carro. A gente corria de pneu Pirelli, não era sempre que nós tínhamos melhores pneus. A Pirelli ia para as corridas com vários pneus em desenvolvimento. Se achasse um pneu bom, ela não tinha o suficiente para todo mundo.

VERDE: E ainda davam para as equipes melhores, né?

ROBERTO: Se eu treinasse com pneu bom, não teria um outro jogo de pneu para a corrida, porque uma equipe melhor pegava.

VERDE: Entendi. E teve um caso que me chamou a atenção, no Estoril. Você tinha uma asa nova…

ROBERTO: Estoril?

VERDE: Você tinha uma asa nova, ia largar em 15º…

ROBERTO: Em Mônaco, com aquele carro antigo, eu não tinha a asa grande. Eles botaram no carro do Raphanel.

VERDE: Por isso que ele largou lá na frente, né?

ROBERTO: E eu tive de classificar com a asa pequena lá.

VERDE: Ah, interessante. Eu não sabia disso. E o Raphanel ficou com o gosto de largar à frente do Piquet, foi a única vez que ele largou no ano, né?

ROBERTO: Não sei. Não lembro, cara. Vou te contar uma verdade, cara. Eu não tenho lembrança da passagem pela Coloni e pela Eurobrun.

VERDE: A memória quis apagar…

ROBERTO: Era uma maneira de sobreviver, só. Era um trabalho, cara.

VERDE: Não foi nada muito prazeroso, então?

ROBERTO: De jeito nenhum.

VERDE: A Andrea Moda, então…

ROBERTO: Era só… O cara me pagava por corrida.

(Eu e Moreno continuamos falando da temporada 1988 da Fórmula 3000. Iniciamos com Birmingham, onde ele obteve sua quarta vitória no ano)

VERDE: Vamos pra Birmingham agora. Você ganhou em Birmingham também, né?

ROBERTO: É, em Birmingham, a gente estava com o chassi novo, né? Demorou um pouquinho pra acabar com os problemas desse chassi novo. Tivemos três largadas. Na última, eu consegui pegar a liderança e ganhar a corrida.

VERDE: Foi um caso de vitória de ponta a ponta?

ROBERTO: Foi, mas tava um ambiente muito ruim, né? Tinha tido aquele acidente em Brands Hatch… O ar estava meio poluído, sabe?

VERDE: Teve acidente em Birmingham também, né? Na própria largada. O David Hunt bateu muito forte e… Sabe o Marcus Zamponi?

ROBERTO: Sei.

VERDE: Então, o Marcus Zamponi quase foi atingido por uma roda do David Hunt. Ele estava tirando uma foto e quase levou uma roda na cabeça.

ROBERTO: Ah, coitado do Zampa… (risos)

VERDE: Bom, mas em Birmingham não teve muita novidade pra você, né?

ROBERTO: Em Birmingham, eu lembro que, na primeira largada, eu não tinha largado muito bem. Na segunda largada, eu também não larguei muito bem, mas eu passei o (Pierluigi) Martini por fora na mesma curva que o David Hunt bateu. Ele fez um buraco no muro lá, né? Aí parou a corrida, né? Na última largada, eu larguei bem, mas o (Martin) Donnelly também largou muito bem.

VERDE: O Donnelly assustou naquele final de campeonato, né?

ROBERTO: É, ele tava andando muito bem, né? O melhor de tudo daquele campeonato, cara, é que a gente corria com orçamento mínimo. E a gente brigava com os caras com orçamento completo.

VERDE: Mas o que era um orçamento completo? Por exemplo, quanto que a Eddie Jordan ganhava da Camel? Quanto que eles faziam de orçamento?

ROBERTO: Lembro que precisava de um milhão de dólares para correr naquele ano.

VERDE: Caralho. Mas por piloto?

ROBERTO: Por piloto.

VERDE: Mas o que estas equipes tinham? Um staff de vinte pessoas? O que elas tinham de diferente?

ROBERTO: Era um motor de Fórmula 1. Um motor da Cosworth que precisava levar para revisão. Você tinha de ter dois motores, no mínimo. A revisão de cada motor era uma bela de uma grana. Você tinha um chassi que custava 70 mil libras, 100 mil dólares. Sem motor, né? Então, de carro, você tinha uns 200 mil dólares de peças. Precisava também de um caminhão. Depois, as viagens. Eu não sei o orçamento direito, mas eu lembro que era um milhão de dólares.

VERDE: Fora os gastos extras, né? Mas quem eram os funcionários que compunham uma equipe?

ROBERTO: Um mecânico por carro, um responsável pelo câmbio, o cara que cuidava dos pneus, um engenheiro de dados… E tinha muita equipe que gastava com caminhão, com equipamento… E a gente tinha o necessário, só.

VERDE: E a Bromley era a equipe mais pobre do campeonato, então?

ROBERTO: Cara, a gente tinha um caminhão que o carro não cabia na horizontal. O carro só cabia em pé.

VERDE: E a mídia abraçou a causa de vocês? O pessoal era muito elogioso, os jornalistas gostavam, como é que era?

ROBERTO: Se não gostasse, né? A gente chegava sem nada e ganhava a corrida…

VERDE: A Autosprint chegou a fazer capa, né? Não sei se a Autosport ou a Autosprint…

ROBERTO: A Autosport e a Motoring News também. Tinha foto do meu carro na primeira página sem um patrocínio.

VERDE: Nessa época, em Brands Hatch, em Birmingham, você já tinha patrocinador? A equipe já conseguia colocar patrocínio no carro, né?

ROBERTO: A partir de Monza… Em Monza, eu tinha a Assitalia, que era do Guido Forti. Depois de Monza, a gente começou a botar a Marlboro no carro e no meu macacão. E o Ron (Salt, dono da Bromley) conseguiu patrocínio de uns patrocinadores locais para Birmingham. Meu carro tava cheio de patrocínio em Birmingham.

VERDE: Eu tenho muita foto de Fórmula 3000 aqui. E tenho umas suas aqui que, realmente… A diferença de Silverstone pra Birmingham é incrível. E é tudo patrocinadorzinho de cinco mil dólares, dez mil dólares…

ROBERTO: Era dos amigos do Ron, de onde ele morava.

VERDE: E a sobrevivência até o fim do campeonato já estava garantida, não?

ROBERTO: Com certeza. Eu nem precisei utilizar o dinheiro da Marlboro no carro. O mais legal de tudo foi que… Tinha muita ligação minha com o Gary (Anderson, engenheiro da Bromley). E foi isso que fez que a gente ganhasse corrida e o campeonato. Quando a gente resolveu montar o carro em Pau, o carro original, foi importantíssimo. Se eu não tivesse ganhado aquela corrida, a minha carreira acabava ali, cara.

VERDE: A sua carreira acabaria ali mesmo?

ROBERTO: Eu ia chegar no meio do ano devendo um carro.

VERDE: Pode se dizer, então, que a corrida de Pau representou uma espécie de ponto de referência na sua carreira.

ROBERTO: Com certeza. Aquela corrida foi importantíssima para eu poder ir para a próxima corrida, depois para a próxima e por aí foi… Depois, a Ferrari, o contrato que garantiu queeu acabasse o ano. E mesmo assim, o Ron conseguiu dinheiro para terminar o ano… O que atrapalhou a equipe foi quando ele botou outro piloto.

VERDE: O Eric Bernard…

ROBERTO: A equipe não estava em condições de gerenciar dois pilotos.

VERDE: Pois é… E teve de contratar pessoal, né? Teve de colocar mais gente pra trabalhar.

ROBERTO: Chegou em Brands Hatch, o Ron ficou puto com a gente porque queria que o Gary desse mais atenção ao Eric. Aí eu peguei minhas coisas, eu e o Gary, e fomos embora. Teve um treino que a gente não fez.

VERDE: Sério? Em Brands Hatch, mesmo?

ROBERTO: É. Por isso que eu larguei mal. O Gary falou “Ron, se você acha que eu não tô trabalhando direito, põe alguém no meu lugar”. Eu falei “se o Gary for embora, eu vou também”.

VERDE: Vocês pediram as contas, então.

ROBERTO: Saímos andando, os dois. Eu com o capacete e o Gary com a malinha dele. Aí ele veio pedir desculpa, foi pegar a gente lá na saída, com o carro. A gente perdeu a primeira classificação. Por isso que eu classifiquei mal em Brands Hatch.

VERDE: Rapaz, a equipe era quase uma família, então.

ROBERTO: Era o Gary, o Ron e os dois mecânicos. Aí ele botou aquele cara lá (Eric Bernard), teve de contratar outros mecânicos, não tinha dinheiro, o Gary tinha de dividir entre eu e o cara, não tinha ninguém pra mexer no computador…

VERDE: O caminhão também não comportava dois carros…

ROBERTO: O caminhão eu não lembro como é que ele fez… O carro foi com alguém, alguma coisa assim, eu não lembro.

VERDE: Aí você sentiu que a equipe deu uma desandada…

ROBERTO: É, porque aí começou a dividir… Achavam que eu ia ganhar o campeonato de qualquer forma e que eu não precisava de atenção diária. Eu falei “então, tá. Se você tá achando que a gente não tá trabalhando, a gente vai embora”. O Gary falou “eu vou embora”. Aí eu falei “então eu também vou”. Depois de Brands Hatch, eu tava muito puto, porque eu fiz muito pelo Ron, a equipes se dividiu e não tinha dinheiro pra dois carros.

(Uns quatro minutos de gravação perdidos, coisa triste)

Em Dijon, eu era muito rápido lá. Dei uma largada excepcional naquele dia. Depois da segunda curva, eu já tinha aberto uns dois, três segundos pro segundo…

VERDE: Mas aí ganhou o Donnelly, né?

ROBERTO: Eu liguei pro John (Nicholson), que faz o motor e falei “pô, John, o que que houve, cara?”. “Ah, Roberto, você pediu pra eu fazer uma revisão de graça e eu desmontei o motor”. O Ron tava pagando as revisões do motor. Ele não pagou o motor, mas chegou uma época que ele começou a pagar as revisões do motor. Na última prova, eu precisava fazer a revisão. Aí eu pedi pro Nicholson uma revisão de graça pra poder ir pra Dijon. Ele falou “eu desmontei, as válvulas estavam todas perfeitas e botei tudo de novo”. E válvula não é uma coisa que você olha pra ela e vê defeito. Você tem de trocar elas pela milhagem. Aí quebrou uma válvula.

Ele falou “aí, Roberto, você já tinha ganho o campeonato, aí eu arrisquei um pouquinho”. (risos)

VERDE: No fim das contas, você ficou dois anos e meio na Fórmula 3000. O que você achava da categoria?

ROBERTO: A Fórmula 3000, cara, era a categoria mais competitiva que tinha na época. Nem a Fórmula 1 era tão competitiva quanto a Fórmula 3000.

VERDE: Eu vejo que era uma categoria que o Bernie Ecclestone criou como uma alternativa porque a Fórmula 1 tava com problema de crescimento de custos. Ele queria um campeonato barato.

ROBERTO: Na verdade, era um campeonato que substituiu a Fórmula 2. A Fórmula 2, em 84, tinha a superioridade do motor Honda. Era uma categoria com motor Honda e motor BMW. E o Bernie resolveu fazer uma categoria com os motores que sobraram da Fórmula 1, porque ela já estava na época do turbo, se não me engano. Foi por isso que foi criada a Fórmula 3000, porque tinha muito motor sobrando e era um motor melhor que o da Fórmula 2… Então, todo mundo ia ter basicamente o mesmo motor. Então, ele fez uma categoria mais competitiva. E as pessoas poderiam usar os carros de Fórmula 1 antigos.

VERDE: O que foi o seu caso, né?

ROBERTO: No primeiro ano, eu corri lá com um Tyrrell, né? Mas foram só duas corridas. Aquilo foi um favor que o gerente da equipe estava fazendo para mim, que ele gostava muito de mim.

VERDE: Você tinha um contrato com a Toleman, não tinha?

ROBERTO: Não. Era assim: quando eu acabei a Fórmula 2, eu poderia ter ido correr com o Rick Galles nos EUA, um contrato de três anos. Mas eu resolvi esperar a oportunidade da Toleman porque era a minha chance de voltar à Fórmula 1. Eu fiz um teste no Estoril depois da corrida (GP de Portugal de 1984) com o carro do Ayrton, o Toleman, e eu fui mais rápido do que ele com os pneus de corrida. Eu poderia ter largado em quinto lugar com os pneus de corrida com o tempo que eu fiz na segunda ou terça-feira depois da corrida do Estoril.

Então, eu tinha uma oportunidade verdadeira de voltar a correr através da Toleman. Eu fiquei esperando aquela situação e acabou que, uma semana depois de eu dizer não ao Rick Galles, a Toleman me disse que não tinha pneus e que não iria correr. E eu fiquei a pé.

VERDE: Então, se eles tivessem pneus, você iria correr com eles?

ROBERTO: 99% de certeza.

VERDE: Sem levar patrocinador nem nada?

ROBERTO: Não.

VERDE: Olha só… Mas era outra época, né? Hoje em dia, isso é quase impossível.

ROBERTO: Eles fizeram um teste com três ou quatro pilotos no circuito do Estoril depois da corrida. Segunda, terça e quarta. E eu fui o piloto escolhido pelo engenheiro, que é o Pat Symonds, que teve aquele negócio com o Nelsinho. E ele foi o construtor do meu primeiro carro de corrida, na Fórmula Ford da Inglaterra.

VERDE: Boa gente o Pat Symonds?

ROBERTO: Muito boa gente.

(Amanhã, tem mais)

(A terceira parte da entrevista começa após a vitória na corrida de Monza na Fórmula 3000 em 1988, a visita de um velho amigo e o convite ferrarista)

VERDE: Foi em Monza que você recebeu um convite para ser test-driver na Ferrari, não foi?

ROBERTO: É, naquela corrida foi superlegal porque o Pedrão, que é aquele cara que trabalha com o Nelson (Piquet)… O Pedrão é um gênio. Inventou o primeiro aquecedor de pneu que já existiu em corrida de automóvel.

VERDE: Ah, foi ele?

ROBERTO: Foi ele em 78, na equipe do Nelson na Fórmula 3 na Inglaterra. O Nelson tinha os primeiros pneus quentes que existiram nas corridas de automóvel. Ele fez um forno de alumínio grande, que cabia quatro pneus alinhados, um em cima do outro. Havia uma tampa em cima e um fogareiro embaixo. Mesmo naquelas pistas frias, mesmo que os pneus esfriassem um pouco até a hora da largada, as rodas ficavam quentes. Então, o Nelson tinha os pneus quentes mais rapidamente que os outros.

Então, o Pedrão estava construindo o barco do Nelson na Itália. Eu o chamei para assistir à corrida e ele foi. E o Pedrão foi o cara que me deu a oportunidade de ter o meu primeiro carro de Fórmula Vee que eu acabei não conseguindo dinheiro para montar, lá na oficina dele, na Confibra, que fazia fibra de vidro lá em Taguatinga. E o Pedrão foi lá. E a gente tava se divertindo, eu molhando ele… Quando eu tava no pódio e a champanhe estourou, a rolha caiu lá embaixo na mão do Pedrão!

E a gente tava lá embaixo brincando, se divertindo, jogando champanhe nele, né? Parou um cara todo bem-vestido, com a namorada do lado… “Queria que você ligasse aqui pro meu chefe. Ele quer falar com você”. O cara tava bem-vestido, eu parei de jogar champanhe, dei atenção a ele rapidinho, peguei o cartão, enfiei no bolso, falei “muito obrigado” e mandei champanhe no Pedrão, né? (risos) Quase molhei o cara, na verdade. E esqueci.

VERDE: Você nem tava pensando em nada na hora, né?

ROBERTO: Eu nem sabia quem era o cara. Aí eu já tava morando em Kings Bromley, né? Uma cidadezinha que onde o Gary estava com aquela casa nova dele. E ele arrumou um amigo que a mãe tinha falecido. Na propriedade deles, tinha a casa da mãe que tava fechada. Eu lembro que a gente entrou lá, cara, e a casa tinha um congelador que tava cheio de torta que a mãe dele fazia! Aí ele botou todas as coisas pessoais da mãe num quarto e deixou a gente usar o resto da casa. E a gente pagava uma mixaria para morar lá, mas era uma casa superlinda, onde a minha filha ficou conosco.

Aí minha mulher falou “ô Beto, eu vou lavar seu macacão, mas tem um cartão aqui, você quer ele?”. Tinha um nome e um telefone na Itália. Nem sabia quem era. Depois, falando com o Peewee (Greg Siddle), que estava na Austrália, perguntei “Peewee, conhece esse cara aqui? Marco Piccinini?”. Ele falou que não. Aí eu tava olhando o cartão e quando olhei com mais cuidado, tinha um cavalinho da Ferrari em autorelevo. Falei “caramba, tem um cavalinho aqui, cara”. Ele falou “liga lá pra ver se não é da Ferrari”.

E era o Marco Piccinini, que era o braço direito do Enzo Ferrari, que fazia todas as negociações com a FIA. Tinham pedido pra ele fazer um contrato comigo pra que eu fosse piloto de testes pra desenvolver o câmbio semiautomático da Ferrari. Tinha sido um comando do (John) Barnard, que me queria na equipe. Ele tinha ouvido falar da minha capacidade técnica e deu ordens explícitas para que eu fosse contratado pra ser o piloto de testes do carro dele.

Eles me deram um patrocínio para eu terminar o ano, da Marlboro. Eles pediram pro pessoal da Marlboro para me darem uma força para poder terminar o meu ano de Fórmula 3000. Me deram um contrato de três anos. No primeiro ano, eu seria piloto de testes da Ferrari tendo como prioridade a Fórmula 3000, ou seja, eu testaria nos dias vagos. No segundo ano, me colocariam em uma equipe da Fórmula 1 que eles iam gerenciar como se fosse uma equipe junior da Ferrari. Esta foi uma condição que eu pedi porque eles queriam que eu testasse até março. Eu falei “pô, mas depois de cinco anos dando a volta por cima, se eu ficar testando com vocês até março, eu não vou ter uma equipe para correr no ano que vem. Isso eu não quero”.

Isso eu fiz com a Lotus uma vez. Quando veio a oportunidade pra eu correr, quando a McLaren me ofereceu para correr, não deixaram eu sair. Aí ele falou “não, a gente não é a Lotus”. Eu falei “é, mas eu não quero isso não, muito obrigado”. E enquanto eu tava conversando com o Marco Piccinini lá em Mônaco, eu pensei “pô, como é que eu vou pagar a minha passagem pra vir aqui”. Já tava meio sem saber porque eu tinha feito um empréstimo para ir para lá. O cara da passagem falou pra mim “olha, se você fizer o contrato, você me paga; se você não fizer, eu garanto a sua passagem e você me paga um dia se puder, e se não puder também, não me paga”. Eu já tava pensando “puta, como é que eu vou pagar essa passagem, caramba?”. Aí eu levantei e falei “Marco, muito obrigado, mas você escolheu o cara errado”.

VERDE: Caramba, você tava com a moral, hein?

ROBERTO: Eu só não queria aquilo, né? Eu tava supernervoso, na verdade. Ele falou “senta aí, cara. Você vai ter de me explicar o que tá acontecendo aí”. Eu expliquei pra ele e ele falou “não, espera aí”. Aí ele foi lá dentro, fez uns telefonemas, voltou e falou “ah, vou botar você em uma equipe de Fórmula 1, então”. Então tá bom. Eu perguntei “qual equipe?”. Ele falou “não sei ainda. A gente vai arrumar uma equipe para você correr”. Eu falei “Tá bom. Mas eu quero ser piloto da Ferrari no terceiro ano”. Ele falou “tá bom” e a gente fez um contrato. Eu estava duro e, da noite para o dia, comecei a ganhar dinheiro. Fiquei muito bem financeiramente. Fui morar em Mônaco pra ficar perto da Ferrari.

VERDE: Tudo isso depois da corrida de Monza, então?

ROBERTO: Depois de Monza.

VERDE: Então, esse negócio de dormir no carro e ter de fazer faxina no fim de semana acabou, né?

ROBERTO: Isso daí foi em 1979, no meu primeiro ano.

VERDE: Eu tinha lido em algum lugar que tinha sido em 1988, mas foi em 1979, então?

ROBERTO: Em 1988, eu tinha muito pouco dinheiro, mas o Gary arrumou uma casa de um amigo dele pra eu morar, onde eu pagava bem pouquinho. O Ron Salt me dava um dinheirinho para eu viver com a minha mulher e a minha filha. Não tinha dinheiro sobrando, não, mas deu pra gente viver. Quando a Ferrari entrou, minha vida mudou.

VERDE: Aí ficou confortável mesmo, né?

ROBERTO: Ficou. Até porque eu tinha um dinheiro guardado que eu havia ganho nos EUA em 1985 e em 1986. Quando eu tinha alguma dificuldade, eu usava. Mas minha época de lavar prato foram os dois primeiros anos na Fórmula Ford.

(uma curiosidade puramente pessoal)

VERDE: Tá certo. A próxima etapa foi em Enna-Pergusa… Eu tenho uma curiosidade que… Eu vou confessar que minha pista favorita é Enna-Pergusa. O que você achava de Enna?

ROBERTO: Era uma pista muito rápida onde era difícil para o piloto enxergar, no final da reta, onde ficava a chicane. Era uma pista rápida com uma, duas, três chicanes. E mais nada. É uma curvona de pé no fundo e três chicanes. É uma pista que maltrata muito o motor. Era muito suja, você saía de lá com o capacete todo furadinho. Não era uma pista que anima muito os pilotos, não.

VERDE: Quais eram as pistas que você mais gostava naquela época?

ROBERTO: Ah, Spa, que era a melhor, Silverstone e Suzuka, no Japão.

VERDE: E as que você menos gostava?

ROBERTO: Ah, eu não lembro, cara.

VERDE: Jarama, Jerez, essas pistas muito travadas… Os pilotos não costumam gostar muito…

ROBERTO: Eu nunca tive uma pista que eu não gostasse, não. Tinha pista que eu gostava mais do que as outras. Nunca tive esse negócio de não gostar de pista, não.

VERDE: Bacana. Em Enna, foi a primeira vez que o Foitek estragou sua vida, né? Você estava nas primeiras posições e aí o Foitek chegou e bateu em você, não foi?

ROBERTO: É, na primeira curva, ele freou dentro de mim, cara.

VERDE: E causou inclusive um acidentaço lá atrás, né? Envolveu bastante gente.

ROBERTO: Acho que sim. Mas eu tive que ir lá na terra. Entrou terra no meu motor e travou a guilhotina do acelerador. Aí eu tive de parar.

VERDE: Acabou a corrida ali pra você, né?

ROBERTO: É.

VERDE: A Bromley tinha muita dificuldade para consertar o carro quando dava um acidente ou uma quebra?

ROBERTO: A gente não tinha dinheiro pra arrumar o carro, não, cara.

VERDE: A Reynard facilitava de alguma forma?

ROBERTO: A Reynard deu um chassi novo pra gente quando eu bati em Brands Hatch.

VERDE: Deu mesmo?

ROBERTO: Deu de presente.

VERDE: É, Enna, pelo visto, não tem muita coisa pra falar.

ROBERTO: Em Enna, na primeira volta, travou o acelerador e a gente ficou ali.

(a gente conversou bastante sobre a famosa corrida de Brands Hatch, aquela do acidente do Johnny Herbert)

VERDE: Brands Hatch. Bom, teve aquele acidente na Paddock Hill, que o Foitek fechou você…

ROBERTO: É, na verdade, aquilo ali… Muita gente fala “pô, Roberto, você não tinha de ficar por fora dele”. Mas o que acontece: na Fórmula Ford, eu fiz tantas corridas ali onde… Quando você sai daquela última curva, o cara fecha pra dentro e você pega o vácuo dele, ou você bate atrás ou você põe pra esquerda. O cara te respeita, ele vê que você está ali e te dá um espaço. O Gregor não quis saber. Não é que eu ia passar ele por fora, como muita gente achou. Quando chega lá na a hora de frear, você freia um pouquinho mais, mas você freia por fora, você atrapalha o cara na freada porque você não deixou ele ir pra fora e você acaba saindo mais rápido daquela curva e passa na próxima.

Mas o Gregor não quis saber, meu. Ele está cagando e andando, se você está ali do lado dele. E ele me deu um chega-pra-lá que não teve jeito, meu. A porrada que eu tomei na roda… Eu saí voando. Aí o carro desmontou ali. E por causa daquela batida, eles pararam a corrida e deram uma relargada. E com isso, ele fez um sanduíche no Johnny Herbert, a suspensão do carro do Johnny Herbert quebrou por causa da pressão que o Foitek botou na roda dele e houve aquela chacina lá que praticamente acabou com a carreira do Herbert.

VERDE: E sobrou pro Grouillard também, né?

ROBERTO: É. O cara não respeitava ninguém.

VERDE: E você chegou a brigar com o Foitek, não foi?

ROBERTO: Ah, cara, eu não cheguei a brigar porque sou pequeno pra bater em alguém, né? Mas que eu mandei ele praquele lugar, eu mandei, né?

VERDE: Não sei se você sabe, mas no hospital, a família do Johnny Herbert foi pra cima da família do Foitek. Porque, pô, o cara só fez porcaria lá em Brands Hatch. O que ele fez com você foi até pouco perto da fechada que ele deu no Herbert.

ROBERTO: Foi mais ou menos igual. O Herbert teve uma consequência muito maior. Se bobear, o que ele fez comigo foi muito pior, porque ele deu um chega-pra-lá. Com o Johnny Herbert, ele deu uma prensada. E a suspensão do Johnny Herbert, porque o Reynard era fraco e a gente não sabia, quebrou. A minha quebrou lá num teste que eu fiz em Le Mans.

VERDE: Deu acidente pra você?

ROBERTO: Deu, mas eu acabei não batendo porque, graças a Deus, tinha aquela caixa de brita em subida. O carro enterrou na caixa de brita.

VERDE: E aquele pandemônio que deu lá em Brands Hatch, o que vocês acharam na época, você que tava vendo a corrida nos boxes? Como é que tava o negócio lá?

ROBERTO: Cara, aquilo lá foi um acidente muito sério. Foi ali que a gente descobriu que o chassi da Reynard era muito frágil.

VERDE: É, havia um buraco no cockpit do Herbert, né?

ROBERTO: Foi um chassi feito pra ficar bom e barato e era um chassi que quebrava muito fácil.

VERDE: E os outros eram muito melhores? O March, o Lola?

ROBERTO: Com certeza. O March e o Lola eram muito melhores.

VERDE: Não imaginava… Bom, depois você não participou mais da corrida, né? Veio o (Martin) Donnelly, que estava estreando…

ROBERTO: Eu achava que eu ia parar de correr porque eu achava que a gente não teria dinheiro para arrumar o chassi.

VERDE: Então bateu desespero em você…

ROBERTO: Aí eu liguei pro Adrian Reynard. Ele achava que o Johnny Herbert iria ganhar o campeonato.

(algumas palavras sobre Herbert, aquele que tinha sido desenvolvido para ganhar o título da Fórmula 3000 em 1988)

VERDE: Mesmo naquela altura?

ROBERTO: Quando o Johnny Herbert saiu do campeonato, aí ele falou “porra, é melhor a gente dar uma força pro Roberto pra garantir, né?”. Aí ele me deu um chassi.

VERDE: Bacana. Se o Herbert tivesse saído ileso, o chassi ia pra ele, né?

ROBERTO: Aí eu já não sei, né? Eu já não sei…

VERDE: A Reynard, então… Vocês eram a terceira ou quarta prioridade deles?

ROBERTO: A Reynard estava investindo no Johnny Herbert.

VERDE: Não era nem na Eddie Jordan Racing, era no Johnny Herbert.

ROBERTO: Através da Eddie Jordan. Eles estavam querendo que ele fosse campeão porque ele era a nova esperança inglesa. O único talento natural inglês que eu conheci na minha época foi esse cara. Ele era muito bom. Era um talento completamente natural.

VERDE: A gente viu ele na Fórmula 1 e…

ROBERTO: Ele estava com a perna toda quebrada, né?

VERDE: Isso que é foda, né? Deve sofrer até hoje…

ROBERTO: Com certeza.

(amanhã, tem mais)

(A segunda parte da entrevista começa com a história de sua primeira vitória na temporada de 1988 da Fórmula 3000, no circuito de Pau. Antes disso, Roberto Moreno passou por uns sufocos com seu engenheiro, Gary Anderson)

VERDE: Aí, Pau foi a primeira corrida que você ganhou. Essa você ganhou de ponta a ponta, né?

ROBERTO: É, essa aí tem uma história superlegal. A gente foi testar em Pembrey e o Gary (Anderson, engenheiro da Bromley) falou “quando a gente for pra Pau, essa suspensão bloqueada deste carro não vai funcionar”. Esse carro, para funcionar a aerodinâmica, tinha uma suspensão dianteira que usava oito voltas de precarga na mola. Era uma coisa absurda. A mola só dava uma mexida quando freava.

Aí nós convencemos o Ron (Salt, chefe da Bromley) de que era importante testar. E a gente conseguiu um circuito baratinho lá em Pembrey que, na época, pouca gente usava. Hoje em dia, muita gente usa. A Ralt foi a primeira a descobrir o circuito lá. Um dos meus mecânicos da época da Ralt vivia lá e ele conhecia esse circuito. Aí nós fomos lá ver o circuito e a Ralt foi a primeira a testar por lá porque era um circuito barato, embora um pouco longe, quatro horas de viagem, mas ainda era na Inglaterra.

Fomos lá e nós conseguimos testar. Eu me lembro que passei o dia testando e só saí do circuito depois que a gente virou o mesmo tempo com a suspensão mexendo e com a suspensão bloqueada, que era o estilo normal daquele carro. Embora estivesse começando o campeonato, a gente estava sempre procurando alguma coisa técnica para melhorar, né? E isso foi uma ideia do Gary, nós fomos lá, passamos o dia testando, conseguimos fazer a suspensão funcionar e viramos o mesmo tempo no final no dia. Fizemos um teste de comparação de novo para tirar a prova dos nove. Confirmou. Aí nós fomos para Pau.

Chegamos em Pau, cara. Eu saí dos boxes. Eu me lembro que a gente teve pouco treino, não sei o porquê. Não sei se foi o ano que teve um tufão lá e a gente perdeu o primeiro dia de treinos.

VERDE: Isso foi em 1987.

ROBERTO: É, né? A gente andou pouco. Eu sei que, quando a gente chegou na classificação, eu saí com o carro. Eu não me lembro que sessão que foi, tá? Acredito que tenha sido na classificação. Se foi na classificação, a gente não fez muito treino. Não tenho certeza se foi na classificação ou no primeiro treino.

Eu sei que a gente andou pra caramba lá. Eu saí com o carro, dei uma volta, duas voltas, cheguei lá no Parque e o carro estava saindo muito de frente. Aí eu entrei nos boxes e o Gary perguntou “O que que houve, cara? Não vai esquentar os pneus, não?”. Eu falei “Gary, quando a gente chega lá no Parque, eu viro o volante e o carro sai muito de frente, cara. O carro não vai esquentar os pneus assim”.

Aí ele não gostou muito por eu ter parado nos boxes sem ter esquentado os pneus e falou “não, vai lá, primeiro você esquenta os pneus e depois vem me dizer o que o carro está fazendo. A gente passou um dia inteiro arrumando esse carro e não é com duas voltas que você vai me dizer que o carro não funciona, né?”. “Não, cara, o carro não funciona”. “Ah, cara, duvido. Volta lá e vai ver”.

Aí eu saí, dei uma volta e parei de novo. Quando eu ia fechar a segunda volta, resolvi parar. Aí o Gary já ficou puto, né? Ele falou “Roberto, como é que é isso? Vai lá e dá uma volta”. “Não, Gary, muda o carro aí, põe o carro original que a gente vai virar bem aqui”. Ele falou “você tá louco, cara. Nós não perdemos esse tempo todo à toa”. Conversa vai, conversa vem e a gente ficou nessa briga. Eu dei mais uma saída, voltei e falei “Gary, esquece, cara. Ou você põe esse carro como é o original ou eu não vou guiar”. Ele ficou bravo pra caramba, quase brigou, não sei o quê, aí ele falou “vou fazer metade”.

Aí ele fez metade e eu saí. Antes de completar a segunda volta, parei. Ele falou “e agora, cara?!”. Eu falei “ó, precisa de mais. Melhorou um pouquinho, mas precisa de mais”. Aí ele ficou puto pra caramba, queria brigar comigo e o tempo foi passando. Aí eu convenci ele a colocar mais sobrecarga nas molas e fazer o carro ficar na altura certa que nem a gente fazia antes. Eu falei “não se preocupa, o carro não vai tocar no chão, eu freio de um lado ou do outro da pista, não vou frear no meio da pista”, já que o centro é mais alto que as laterais.

Eu lembro que eu saí e parei nos boxes. Ele falou “porra, e agora?!”. Eu falei “agora ficou bom”. Ele falou “e aí, você não vai virar tempo, não?”. “Opa, me dá um jogo de pneu melhor aí, que esse acabou na brincadeira que a gente tá fazendo”. Aí ele me deu um jogo de pneu melhor, eu saí e virei o melhor tempo. Uma volta antes da bandeirada. Então, isso aí, cara, foi um momento que eu me lembro até hoje. O Gary, dali pra frente, começou a acreditar em mim em tudo o que eu falava. E eu me lembro disso como se fosse a classificação, cara. Naquilo ali, a gente fez a pole-position.

VERDE: E pole-position em Pau é um passo e meio para a vitória, né?

ROBERTO: Não, mas eu não tava no grid e virei a pole, entendeu? Foi uma puta de uma volta que nem ele acreditou que eu fosse capaz. Eu não sei o que aconteceu nos treinos porque, se isso aconteceu na classificação, eu rodei muito pouco nos treinos, alguma coisa aconteceu nos treinos.

VERDE: Na corrida…

ROBERTO: Larguei bem, abri e terminei em primeiro. Chegou uma hora que um retardatário bateu na minha frente e bloqueou a pista.

VERDE: Você lembra quem era?

ROBERTO: Não lembro, era um retardatário, cara. Bem na hora que eu ia passar ele. Eu tive que parar o carro para não bater nele.

(acabei descobrindo que o retardatário em questão era o austríaco Fritz Glatz, um falecido gentleman driver que era conhecido por pilotar utilizando nomes falsos em várias línguas e sempre relacionados à sua falta de cabelo, como Pierre Chauvet, Umberto Calvo e Frederico Careca)

VERDE: Tem uma curva lá que tem 180°. É aquela lá? Sempre dá porcaria lá.

ROBERTO: Eu tô lembrando aqui, não sei se foi nesse ano que o Raphanel largou na minha frente e eu botei pressão nele até ele bater.

VERDE: Foi em 1987 isso aí.

ROBERTO: 1987, né? Então, em 1988 eu larguei na frente, eu lembro que fiz a primeira curva bem pela direita. Até o James Hunt tava lá, fazendo comentário da corrida para a transmissão inglesa.

VERDE: O irmão dele tava lá, né? Ele corria na categoria.

ROBERTO: Não sei, cara. Eu sei que o James tava lá, trabalhando lá. E ele veio me dar a maior força, pô, tinha me visto guiar, ficou muito impressionado com a precisão com que eu fazia a mesma curva em todas as voltas.

VERDE: Elogio do James Hunt, caramba…

ROBERTO: É, muito legal, depois da corrida.

VERDE: Aí você ganhou uma grana, né? Pela vitória em Pau…

ROBERTO: É, aí eu acho que a gente ganhou cinco mil dólares. E esses cinco mil dólares levaram a gente… Eu pensei que era a última corrida, né? O dono da equipe falou “ó, Roberto, com esse dinheiro aqui, dá pra gente correr em Silverstone, que é pertinho lá de casa, cara”.

VERDE: Vocês correram as três corridas sem nenhum apoio?

ROBERTO: Só com dinheiro do Ron Salt. Inclusive, eu tenho uma foto que eu adoro aqui na minha casa, do carro de Pau praticamente só com o número e com os patrocinadorezinhos pequenininhos que eram dos organizadores. Avon, aqueles pequenininhos.

VERDE: Geralmente, é patrocínio técnico, né?

ROBERTO: Exatamente.

VERDE: Aí depois você foi pra Silverstone, choveu e você ganhou…

ROBERTO: Choveu na tomada de tempo, né?

VERDE: Isso, choveu na tomada de tempo. Na corrida, o Gachot largou na pole, mas você passou e ganhou. Como é que foi?

ROBERTO: Foi assim, ó: o Gachot fez a classificação no seco. A gente se classificou no molhado. A sessão mais rápida faz a pole-position e fica com todo o grid da direita em Silverstone. A outra turma da chuva fazia todo o grid da esquerda, por isso que a gente largou em segundo. Eu era o mais rápido na chuva, mas larguei em segundo. E secou. E no warm-up, a gente não tinha andado no seco ainda.

O Gary começou a tirar asa no carro. Aí eu dei uma voltinha rápida e falei “Gary, na curva lá de baixo, não ficou bom, não. Põe mais asa”. Ele falou “como isso, Roberto? Aqui tem muita reta!”. Eu falei “não, pode botar mais asa, que se eu fizer aquela curva lá de pé no fundo, eu vou ser mais rápido na reta”. Ele falou “é, Roberto, mas você vai largar em segundo, o cara vai te atrapalhar na curva, você não vai conseguir fazê-la de pé no fundo e vai ficar lento na reta”. Eu falei “não se preocupa, não, Gary. Não vai demorar muito pra eu passar esse cara”. Aí ele aceitou, colocou mais asa e o carro ficou rápido pra caramba.

Aí nós largamos e eu acho que depois de uma ou duas voltas, passei o Gachot, fui abrindo e fui embora. E cada volta que eu virei era mais rápida que a outra. Minha volta mais rápida foi a última da corrida, a da bandeirada.

VERDE: Você ganhou abrindo um temporal pros outros, né?

ROBERTO: Eu não sei quanto eu abri, mas o que impressionou muito o Gary foi a constância das voltas e o ritmo de corrida que eu fiz até o final.

VERDE: Pelo que eu vi, você fez a volta mais rápida da história da Fórmula 3000, um recorde que ficou durante um bom tempo.

ROBERTO: Aí eu já não sei, cara. Eu sei que minha última foi a minha mais rápida.

VERDE: Você fez uma volta em 218km/h. Eu tenho um anuário que diz que sua volta em Silverstone foi a mais rápida da história. Aí veio mais dinheiro, né?

ROBERTO: É, aí o prêmio era pouco, cinco mil dólares, algo equivalente a isso, eu lembro disso. E o Ron falou “ó, Roberto, pô, você ganhou outra corrida, a gente tá bem no campeonato… Vale a pena a gente ir até Monza pra ver no que dá”.

Aí a gente foi pra Monza e eu fiz a pole. Chegando em Monza, eu tinha um amigo que era o Guido Forti, que tinha uma equipe de Fórmula 3000 que corria com carro Dallara, que andava em último. Eu fui no Guido e falei “Guido, quanto é que você recebe destes caras de patrocínio?”. Ele falou, sei lá, dez mil dólares, quinze mil dólares por corrida, era só uma ajuda. Eu falei “me dá dois mil dólares desse dinheiro aí e eu ponho teu patrocínio no meu carro”. Aí ele aceitou. Me deu os dois mil dólares e botou o patrocínio no meu carro. Eu ganhei a corrida, fiquei na primeira página do jornal lá e ele fez a maior publicidade pro patrocinador. (risos)

VERDE: Você mesmo foi lá e negociou com o próprio Guido?

ROBERTO: É, eu pedi pra ele.

VERDE: Coisa de amigo, então?

ROBERTO: É, eu fiz muito isso na Fórmula Atlantic aqui nos EUA. Eu levantava os patrocínios na última hora.

VERDE: Eu fiquei sabendo de uma coisa, isso foi em 1985. Você estava na Barron, que corria com carro da Tyrrell na Fórmula 3000. No Estoril, que era a terceira etapa, você estava no restaurante negociando com um patrocinador pra conseguir dinheiro para comprar rodas. Porque a equipe era tão pobre que não tinha condição pra nada.

ROBERTO: Não é que era pobre. A equipe era de um carro só. O manager da equipe, que foi o meu chefe de equipe na Fórmula 3, queria que eu corresse. Então ele botou o carro reserva para eu correr. E eu não sei se eu cheguei no Estoril com eles, na verdade.

VERDE: Acho que você fez umas cinco corridas com eles. Você percorreu um pouco menos da metade do campeonato. Aí depois você foi pra Galles.

ROBERTO: Silverstone, Thruxton…

VERDE: Estoril, Pau… Acho que você chegou até Vallelunga.

ROBERTO: Eu não corri em Pau com a Tyrrell, não.

VERDE: Será que foi até Enna?

ROBERTO: Não, não. Eu fiz só Silverstone e Thruxton. A gente tentou em Nürburgring, mas deu neve. Eu não fiz mais nenhuma corrida com eles.

fui confirmar e vi que Moreno disputou as etapas de Silverstone, Thruxton, Estoril e Vallelunga da Fórmula 3000 em 1985 com um Tyrrell azul e preto)

VERDE: Serviu pra alguma coisa correr com eles? Correr com um Tyrrell velho contra os outros carros?

ROBERTO: Me colocou no meio, mostrou que eu queria correr. Eu fazia qualquer coisa pra poder correr, né?

VERDE: Serviu, né? Você fez seus contatos e depois foi pros EUA. Mas voltemos para 1988. Em Monza, vitória de ponta a ponta, né?

ROBERTO: É, teve duas corridas, né?

VERDE: É. Teve um acidente na volta 13 com o (Fabien) Giroix, que ele quebrou a perna e se ferrou todo.

ROBERTO: Nossa preocupação na corrida era não deixar o acidente mexer com a gente. O cara bateu na Lesmo e caiu do outro lado, lá na árvore.

VERDE: Mas vocês achavam que o cara tinha, sei lá, morrido?

ROBERTO: Não, mas a gente sabia que ele tinha se machucado bastante.

VERDE: Mas o que aconteceu com ele?

ROBERTO: Ah, ele machucou as pernas. O Giroix ficou um tempão com as pernas ruins. E o outro também se machucou, não me lembro do nome dele.

VERDE: Massimo Monti. Foi ele que bateu em você em Jerez, acho.

ROBERTO: Que eu rodei no finalzinho, né?

VERDE: Mas em Monza, o que consta é que o Apicella andou perto de você, mas foi tranquilo. Não chegou a ser como Pau, mas também foi tranquilo.

ROBERTO: Eu tinha aberto tanto na primeira corrida que, na segunda, só precisava manter uma certa distância. Mesmo que eles chegassem na minha frente, eu ainda tinha um espaço para ganhar a corrida. Na primeira corrida, eu terminei bem à frente.

VERDE: Foi em Monza que você recebeu um convite para ser test-driver na Ferrari, não foi?

(Esta parte aqui você só vai ler na próxima parte, macacos)