julho 2010


RED BULL8 – Do que adianta ter o melhor carro se os dois pilotos se encontram em rota de colisão? Além do mais, como de costume, apenas um carro da equipe chegou ao pódio, o de Webber. Existem sérias dificuldades de expertise em administrar o ego de seus dois pupilos, e isso pôde ser visto na choradeira do australiano ao não receber uma nova asa dianteira como seu companheiro e na briga interna antes da primeira curva. Só dou uma nota alta pela vitória.

MCLAREN 8,5 – Ao contrário da Red Bull, a equipe parece viver em uma longa lua de mel. Tendo aprendido com os erros de 2007, Hamilton e Button mantêm um aparente bom relacionamento e buscam não atrapalhar um ao outro. Com isso, mesmo tendo um carro inferior ao da Red Bull, conseguiu um segundo e um quarto lugares que a mantiveram na frente tanto no campeonato de pilotos como no de construtores.

MERCEDES8 – Fazia um bom tempo que não obtinha um bom resultado. Rosberg fez uma boa corrida e levou a estrela de três pontas ao pódio pela primeira vez desde Shanghai. Já Schumacher teve mais um fim de semana infeliz. As alterações no carro parecem ter surtido efeito.

WILLIAMS 8,5 – Colocou dois carros na zona de pontos pela primeira vez desde há dois séculos. Rubens andou lá na frente o tempo todo e até Hülkenberg mostrou competitividade. Ótima fase.

SAUBER 8,5 – Outra equipe que está em excelente fase. No entanto, apenas Kobayashi conseguiu fazer uma ótima corrida e marcar pontos. De La Rosa vinha razoavelmente bem, mas foi atingido por Sutil e teve de abandonar. De qualquer maneira, os tempos de abandonos sucessivos e turbilhões de má sorte estão, ao menos, dando uma trégua.

FORCE INDIA 6,5 – Fez mais uma corrida típica, com Sutil terminando nas posições pontuáveis mais baixas e Liuzzi sequer aparecendo. O momento da equipe é tão bom que marcar quatro pontos já não é mais considerado algo notável.

TORO ROSSO 4 – Nem Buemi e nem Alguersuari marcaram pontos. O espanhol ainda abandonou no final da corrida. Fim de semana típico, sem graça.

RENAULT 3,5 – Os dois pilotos tinham carro para marcar pontos. Os dois pilotos acabaram tendo problemas. O polonês narigudo, que vinha para brigar pelo pódio, teve um problema em um eixo traseiro. O russo, que vinha para marcar pontos, teve um pneu furado. Um fim de semana bem ruim dos amarelados.

FERRARI 2 – Fim de semana vermelho, mas de vergonha. Alonso e Massa, que tinham ido razoavelmente bem nos treinos, se tocaram na primeira curva, o que comprometeu a corrida do brasileiro. O asturiano ainda tomaria uma punição por fazer uma ultrapassagem irregular sobre Kubica. No fim, terminaram em 14º e 15º, algo terrível para uma equipe com tamanha história e a prepotência.

LOTUS 5 – Distorcendo a matemática, a equipe ficou logo atrás da Ferrari dispondo de um orçamento seis ou sete vezes menor. Trulli e Kovalainen fizeram aquela corrida isolada, sem poder ameaçar as equipes estabelecidas e sem ser ameaçada pelas equipes menores. Dessa vez, a Virgin até que tentou, mas não conseguiu.

VIRGIN 4 – Avançou um bocado em Silverstone, mas ainda precisa comer mais arroz e feijão para chegar de vez na Lotus. De qualquer jeito, Glock largou à frente de Trulli e andou um bom tempo à frente de Kovalainen. Di Grassi abandonou logo.

HISPANIA 2 – Colin Kolles afastou Bruno Senna por este descer o cacete no seu carro por e-mail enviado por engano ao chefe. No lugar, os ienes de Sakon Yamamoto, que não comprometeu. Chandhok também não fez nada de muito feio e os dois carros terminaram a corrida. Mas a equipe se mostra bastante frágil quando se trata de resolver assuntos internos.

TRANSMISSÃOIMPRESSIONANTE! – E o Sr. Impressionante voltou às transmissões globais de Fórmula 1. O mais impressionante é que eu só ouvi o dito cujo falando esta palavra apenas uma vez, lá no final da corrida. Reginaldo Leme, ao ver Sebastian Vettel entrando nos pits com o pneu furado, disse que tinha certeza de que o alemão encostaria o carro e iria para casa. Segundos depois, lá estava Vettel deixando os pits com quatro pneus novinhos em folha. Luciano Burti não falou nada de muito memorável, ou é a minha memória que é falha. De qualquer jeito, provavelmente teremos de nos acostumar com o Sr. Impressionante, já que Galvão Bueno anunciou que a aposentadoria está próxima.

CORRIDA NÃO TÃO IMPRESSIONANTE! – Todos, incluindo eu, diziam que a pista ficaria bem mais veloz e mais propícia para ultrapassagens. Nada disso aconteceu. A pista ficou cerca de 3km/h mais veloz, o que não quer dizer nada na prática. E aquele novo trecho permite qualquer coisa a não ser ultrapassagens. Enfim, não foi a melhor das corridas. Webber e Hamilton sumiram na liderança enquanto Kubica segurava um enorme pelotão atrás. No final da corrida, como vem acontecendo nas últimas etapas, houve algumas ultrapassagens, mas nada que salvasse a corrida. O leitor pode argumentar que a corrida não foi tão ruim assim e que sou eu que pego no pé de Silverstone. Pode até ser, mas o fato é que a corrida esteve longe de ser sensacional.

GP2 DOMÍNIO HISPANOHABLANTE – Pastor Maldonado, do jeito que vai, será o campeão da GP2 neste ano. Em Silverstone, o venezuelano venceu a terceira corrida Feature consecutiva, e disparou na liderança do campeonato. A vitória veio de maneira absolutamente fácil, o que mostra que o cara está em ponto de bala para ganhar o título. A corrida dominical, bem mais interessante, assistiu à vitória do mexicano Sergio Perez, que ultrapassou os dois pilotos da iSport, Oliver Turvey e Davide Valsecchi, para vencer pela segunda vez nessa temporada. O piloto da Addax, com isso, pulou para a quarta posição do campeonato. Entre os quatro primeiros colocados, três pilotos que falam espanhol (Maldonado, Dani Clos e Perez). Pelo visto, falar espanhol anda compensando um bocado no esporte.

MARK WEBBER9,5 – Correu empurrado pela raiva de ter sido preterido por Vettel. Dominou quase todos os treinos livres e só não levou o dez por ter perdido a pole-position. Na corrida, sem medo de cara feia, largou bem mesmo tendo saído do lado mais sujo e tomou a liderança das mãos de Vettel ainda na primeira curva. Depois, só levou o carro até o fim para correr para o abraço. Mas ao invés de um abraço, mandou um “nada mal para um segundo piloto” para sua equipe. Vitória à la Nelson Piquet em 1987.

LEWIS HAMILTON 8 – Em um fim de semana feijão-com-arroz, largou em quarto, assumiu a liderança na segunda volta e por lá ficou até o fim. Sem ter o melhor carro, buscou apenas marcar o máximo de pontos possível para manter a liderança do campeonato. Conseguiu, pois.

NICO ROSBERG8,5 – Dessa vez andou bem, tendo consigo um Mercedes com alterações. Ficou um bom tempo preso atrás de Kubica, mas assumiu a terceira posição após as paradas e manteve-se aí até o fim, sendo obrigado a apertar o ritmo para segurar Jenson Button nas últimas voltas. A estratégia de manter-se com pneus macios por mais tempo ajudou.

JENSON BUTTON 7 – Inacreditavelmente mal na classificação, o inglês fez uma bela corrida de recuperação e ganhou várias posições com as paradas. Terminou em quarto e a apenas alguns metros de Nico Rosberg.

RUBENS BARRICHELLO8,5 – Fez outra grande corrida. Largou em oitavo, ganhou posições na primeira volta e esteve sempre entre os primeiros. Diante das possibilidades de seu Williams, o quinto lugar foi um resultado excepcional.

KAMUI KOBAYASHI8,5 – Assim como Barrichello, fez uma grande corrida pela segunda vez consecutiva. Perdeu para De La Rosa na classificação, mas fez uma largada impecável e ganhou várias posições. Depois, manteve uma tocada agressiva e terminou com um ótimo sexto lugar. Quando seu carro é rápido e confiável, o cara está por lá.

SEBASTIAN VETTEL 6,5 – Um cara tenso. Marcou a pole-position, mas demonstrou que corridas, embora não sejam vencidas na primeira volta, podem ser perdidas por lá. Tentou conter a ultrapassagem de Webber na primeira curva, mas não conseguiu. Além disso, teve de ir aos pits trocar um pneu furado. Após isso, só restou a ele fazer uma corrida de recuperação. Mostrou combatividade no final da corrida, mas terminar em sétimo após sair em primeiro é ruim demais. É PhD em perder corridas.

ADRIAN SUTIL 7,5 – Mais uma boa corrida. Fez uma boa largada e mostrou muita agressividade em momentos como a ultrapassagem sobre Schumacher. Perdeu o sétimo lugar para Vettel a apenas duas voltas do fim, mas não pode reclamar por ter marcado mais quatro pontos.

MICHAEL SCHUMACHER 4,5 – Fez mais uma corrida dispensável. Mal na classificação, ganhou boas posições na largada e até parecia estar se encaminhando para um resultado melhor. No entanto, ficou um bom tempo preso no tráfego, saiu da pista em um determinado momento, tomou algumas ultrapassagens e foi o piloto que mais perdeu posições na rodada de pit-stops. Misturando falta de sorte e pilotagem insuficiente, o heptacampeão volta a ficar claramente atrás de Rosberg.

NICO HÜLKENBERG 7,5 – Não foi bem nos treinos, mas se recuperou drasticamente na corrida. Optou por largar com pneus macios e ficou mais tempo na pista do que a maioria dos adversários, o que significou ganhar algumas posições de presente após a rodada de pit-stops. Ameaçou atacar Schumacher, mas não conseguiu nada. De qualquer jeito, marcar um ponto não é algo ruim para um piloto em sua posição.

VITANTONIO LIUZZI 4 – Só apareceu no fim de semana por ter bloqueado Hülkenberg de maneira quase criminosa na classificação. Punido, largou apenas em vigésimo e até conseguiu subir bastante na corrida, mas não marcou pontos mais uma vez.

SEBASTIEN BUEMI 5 – Fez aquela típica corrida de piloto do meio do pelotão. Largou lá no meio e terminou lá no meio. De qualquer jeito, foi melhor que seu companheiro mais uma vez.

VITALY PETROV 5 – Largou muito bem, como é de costume, e parecia estar rumando para marcar pontos pela segunda vez no ano. No entanto, foi vítima do azar e teve um pneu furado, o que acabou com qualquer chance. Um pouco mais de agressividade também faria muito bem ao russo.

FERNANDO ALONSO 6 – Via de regra neste ano, o espanhol se envolveu em uma corrida cheia de tormentos. Apesar de ter ido bem na classificação, ele se envolveu em um entrevero com seu companheiro Massa logo na primeira volta. Depois, ao disputar posição com Kubica, cortou uma curva, ganhou sua posição e não a devolveu, o que resultou em um drive-through que teve de ser cumprido justamente no momento em que o safety-car foi à pista. Com isso, perdeu um monte de posições e não restou nada além de levar o carro ao fim. Vem misturando azar, agressividade e capacidade de se meter em confusões em doses cavalares.

FELIPE MASSA 3,5 – Batido por Alonso nos treinos, esperava ao menos marcar pontos. Nem isso conseguiu, já que se envolveu em um toque com o mesmo Alonso na primeira volta da corrida, o que resultou em um pneu furado. A partir daí, só restou chegar ao fim e esperar pelo milagre que não veio. Está com uma urucubaca danada.

JARNO TRULLI 4,5 – Não foi tão bem na classificação ao largar atrás de um Virgin. No entanto, liderou de ponta a ponta a corrida das equipes novatas, se é que dá pra dizer assim.

HEIKKI KOVALAINEN 4 – Apesar de ter sido o melhor das equipes pequenas na classificação, não largou tão bem e ficou atrás de Glock durante um bom tempo na segunda metade da corrida. Ainda assim, terminou.

TIMO GLOCK 5 – Com um Virgin melhorado, o alemão também conseguiu fazer uma atuação relativamente convincente. Largou à frente do Lotus de Trulli e chegou a executar uma ultrapassagem sobre Kovalainen na metade da corrida. Apesar de ter terminado atrás dos carros esverdeados, não deixa de ter feito uma boa atuação.

KARUN CHANDHOK 4 – Como era esperado, largou à frente de Yamamoto e andou à sua frente o tempo todo até o final da corrida. Ser superado pelo japonês no comparativo de voltas mais rápidas é um ponto negativo.

SAKON YAMAMOTO 4 – Chamado às pressas para correr no lugar de Bruno Senna, fez seu trabalho com dignidade. Apesar de estar em um nível claramente inferior a qualquer outro no grid, agiu com parcimônia e não cometeu erros, buscando levar o carro até o fim. De quebra, fez uma volta mais rápida melhor que a de Chandhok. Levando dinheiro e terminando a corrida, o limitado japonês parece ser mais adequado à equipe neste momento do que o sobrinho do tricampeão.

JAIME ALGUERSUARI 4 – Apesar de parecer incapaz de superar Buemi em treinos, conseguiu se aproximar bastante na corrida. Chegou a andar em quinto antes de sua parada nos pits e esteve próximo dos pontos. No entanto, abandonou no final da corrida. Ainda assim, segue atrás do companheiro suíço.

PEDRO DE LA ROSA 7 – Com o nono lugar no grid, tinha tudo para fazer sua melhor corrida do ano. No entanto, foi empurrado por Barrichello para fora da pista na primeira volta e acabou se envolvendo em um toque com Sutil na metade da corrida, o que acabou danificando o aerofólio traseiro. Temendo uma quebra bastante desagradável em uma pista veloz como Silverstone, preferiu abandonar a corrida. Muito azarado.

ROBERT KUBICA 7,5 – Andou bem nos treinos, fez uma boa largada e tinha tudo para ter chegado ao pódio. No entanto, seu carro não estava lá aquelas coisas, e o polonês acabou segurando uma fila de pilotos por um bom tempo. Mais para frente, teve um problema com o eixo traseiro e teve de abandonar a corrida.

LUCAS DI GRASSI 3 – Com o desempenho apresentado nos treinos livres, parecia vir para seu fim de semana mais competitivo do ano até aqui. No entanto, errou na classificação e não conseguiu se recuperar muito nas poucas voltas que percorreu na corrida. Dessa vez, um problema hidráulico o retirou da disputa.

SILVERSTONE: A primeira corrida de Fórmula 1, há exatos 60 anos, aconteceu aqui. É um lugar aonde se respira o típico british racing vintage: traçado veloz, enormes áreas de escape preenchidas com grama, autódromo localizado no meio da roça e climão daqueles típicos festivais de automobilismo que só os ingleses sabem fazer. Nunca gostei muito do traçado, mas reconheço que, diante de tantos circuitos insossos e travados, Silverstone é um alento. Só espero que chova. Corridas no seco costumam ser tenebrosamente chatas.

YAMAMOTO: Péssima notícia para Bruno Senna: o brasileiro não participará do Grande Prêmio da Inglaterra. Seu substituto na Hispania é o nipônico Sakon Yamamoto, um dos pilotos mais dispensáveis que já apareceram na categoria nos últimos 15 anos. Com discretíssimas passagens nas extintas Super Aguri e Spyker, ele fará sua primeira corrida de Fórmula 1 desde 2007. Ao contrário da maioria dos japoneses, é um piloto sossegado. O problema é que ele é sossegado demais. Sua presença se justifica pela vinda de ienes, muitos ienes.

GABY: E Bruno Senna não utilizará seu novo motor Cosworth, que ganhou o nome de uma amiga sua. Pergunto duas coisas: quem em sã consciência daria nome a um motor? E quem, em sã consciência, daria o respeitoso nome de Gaby a um motor?!

FRANK WILLIAMS: A outra notícia que chocou a muitos é a renúncia de Frank Williams à presidência de equipe que ele fundou com Patrick Head em 1977. Depois de 33 anos, sete títulos de pilotos e nove de construtores, Sir Frank passa o bastão para Adam Parr, chefe executivo da equipe. Aos 68 anos, ele já sente o peso da idade, e a essa altura da vida já não deve estar tão animado para tocar uma equipe que não sai do meio do pelotão. Ainda assim, sair da presidência não quer dizer abandonar a equipe: Frank Williams seguirá trabalhando na equipe. E espero que siga assim por muitos anos.

FINAL DA COPA DO MUNDO: Bernie Ecclestone sempre chutando o balde. Por capricho do todo-poderoso, a Fórmula 1 terá de fazer uma corrida quase que indesejada no mesmo dia de uma das finais mais esperadas da história das Copas do Mundo. De um lado, Fernando Alonso, Jaime Alguersuari e Pedro de la Rosa torcendo para La Fúria. Do outro, er… a torcida pela Laranja Mecânica será representada por um solitário Giedo van der Garde, piloto da GP2. Do fundo da minha alma, não consigo escolher nem Espanha e nem Holanda, já que ambos são os dois times europeus sem títulos que mais merecem entrar para a turminha dos fodões. De qualquer jeito, vou na lógica e digo que dá Holanda.

Ayrton Senna era o mais veloz. Alain Prost era o mais sensato. Nelson Piquet era o mais esperto. A Fórmula 1 consagrou quatro nomes nos anos 80, gente que dava às corridas um ar novelístico. Os torcedores raramente se portavam indiferentes perante eles, que protagonizavam cenas de romance, terror, comédia e ação dentro e fora das pistas. Quem gostava do Senna odiava o Piquet, e vice-versa. Havia quem achasse os dois uma dupla de patetas latinoamericanos, preferindo o Professor Prost. E havia quem gostasse do quarto elemento, que não foi citado acima. Com vocês, Nigel Ernest James Mansell.

Tadinho do Mansell, muitos pensavam. Nascido em uma minúscula cidade do interior inglês, Nigel parecia ser o mais vulnerável e limitado dos quatro, um tanto quanto perdido em um ambiente insalubre no qual um come o outro sem grande cerimônia. Teatral, fanfarrão, choramingão, desastrado e um puta piloto, ele se comportava como um verdadeiro anti-herói, um gênio às avessas. Não por acaso, havia aqueles que achavam que se tratava de um piloto diferenciado e havia também aqueles que pensavam que o Leão não passava de um retardado sem rédeas. Eu não nego a ninguém: estou no segundo grupo. Perder três títulos mundiais da maneira que perdeu é coisa de retardado sem rédeas. Mas… que retardado foda!

Recentemente, Mansell se envolveu em um violento acidente nas 24 Horas de Le Mans. Em determinado momento, ele perdeu o controle de seu Ginetta-Zytek e estampou o guard-rail, saindo do carro de maca e com uma concussão no seu pequeno cérebro. Neste próximo fim de semana, ele será um dos comissários do Grande Prêmio da Inglaterra. Diante de tantos acontecimentos, eu tenho de homenageá-lo. Mas como estou falando de Nigel Mansell, conto sobre cinco acidentes que poucos se lembram.

5- FÓRMULA 1, DETROIT, 1985

(4:11)

Nos anos 80, os pilotos pagavam todos os seus pecados ao serem obrigados a correr em Detroit, um circuitinho vagabundo localizado no meio da enorme cidade americana. Em 1985, Nigel Mansell, ainda considerado apenas um idiota veloz, fazia seu primeiro ano na equipe Williams e estava muito esperançoso sobre suas possibilidades naquele circuito de rua.

Após obter um excelente segundo lugar nos treinos, Mansell perdeu uma posição na largada para um incrível Keke Rosberg. Sofrendo com os pneus duros, o inglês se arrastava e perdia posições também para Elio de Angelis e Stefan Johansson. Na volta 23, ele rumou aos pits e trocou os pneus. Três voltas mais tarde, o inglês entrou rápido demais na curva 2, pisou em uma zebra, passou reto e acertou o muro com força. Vendo o vídeo, nem pareceu ter sido tão forte, mas acreditem: foi.

O inglês saiu do carro zonzo, com a mão machucada e o nariz sangrando. Esse negócio dele sair do carro todo estropiado, aliás, era uma marca registrada sua.

4- TOCA, DONINGTON PARK, 1993

Em novembro de 1993, após ganhar o título da Indycar, Nigel Mansell foi convidado para disputar uma etapa do TOCA, campeonato inglês de turismo, em um Ford Mondeo pintado de azul e estampado com o Red Five. Diante de 60 mil espectadores e visando o suntuoso prêmio de 120 mil libras esterlinas, Nigel veio para a corrida do seu modo habitual: inconsequente e perigoso.

Em uma pista levemente úmida, Nigel ocupava a terceira posição quando acabou entrando rápido demais no Old Hairpin, perdeu o controle, tentou consertar, piorou a situação e atravessou na frente do Vauxhall Cavalier de Tiff Needell a mais de 200 km/h. Tocado pelo Vauxhall, o Mondeo de Mansell rodopiou e atingiu com violência o muro. Nigel perde a consciência e sua cabeça rodopia enquanto o carro não para.

Segundos depois, o inglês recuperou a consciência e, após ser extraído do carro em uma operação que durou 20 minutos, rumou para um hospital para exames. Tirando algumas dores nas costas, nada de errado havia acontecido com o Leão.

3- THUNDER IN THE PARK DAY, DONINGTON, 2001

Em 2001, Nigel Mansell chegou a ser cogitado para ocupar o segundo carro da Minardi ao lado do jovem Fernando Alonso. O boato, extremamente estapafúrdio, resultou em um convite de Paul Stoddart a Nigel para ele participar do Thunder in the Park Day, um dia de descontração promovido pela Minardi no qual havia uma corrida com carros de dois lugares no circuito de Donington. Nigel pilotaria um dos cinco carros e carregaria a bordo o empresário Jonathan Frost, que havia pago 80 mil dólares pela diversão.

Como de costume, Mansell dirigiu como se não tivesse mulher e filhos. Na corridinha, ele e Fernando Alonso, que trazia consigo a jornalista Louise Goodman, disputavam a liderança agressivamente. Na última curva, Mansell veio mais rápido do que a sensatez permite e acertou com tudo a traseira do Minardi de Alonso. O inglês voou e caiu na contra-mão, enquanto que o espanhol atravessava a linha de chegada sem a asa traseira.

No fim das contas, Mansell terminou em segundo e Alonso em terceiro. O vencedor foi exatamente Paul Stoddart, que era piloto nas horas vagas. O Leão ainda saiu ironizando que “tentou passar por cima de Fernando e Louise porque eles são muito baixinhos”…

2- INDY, PHOENIX, 1993

(1:24)

Mansell doidão. Se na Fórmula 1 ele já aprontava das suas, na Indy ele se transformou na grande atração da temporada de 1993 com suas loucuras nos circuitos ovais. Ele não desacelerava, andava e ultrapassava por fora e não tinha o menor medo de nada. O preço a ser pago foi uma pancada daquelas no curto porém traiçoeiro oval de Phoenix, no estado do Arizona. Segunda etapa do campeonato de 1993, 4 de abril de 1993.

No primeiro dia de treinos, Mansell foi o primeiro piloto da história da pista ao andar na casa dos 20 segundos. Desvairado, ele veio para o segundo dia de treinos visando andar ainda mais rápido. Não deu certo, é claro: tentando andar mais do que o permitido em uma curva, seu Lola-Ford rodopiou a mais de 280 km/h e estampou o muro de traseira. Uma roda marota ainda voou e atingiu o capacete de Mansell, que desmaiou na hora.

O Leão só viria a acordar 20 minutos depois, quando já estava no centro médico. Depois disso, ele rumou de helicóptero ao hospital, fez alguns exames e, apesar de ter diagnosticado um estiramento em um tecido adiposo localizado nas costas, decidiu ignorar as recomendações médicas e voltou ao autódromo para disputar o qualifying. A direção de corrida, sensata, impediu sua participação e Mansell ficou de fora da corrida. Um mês depois, ele ainda teve de passar por uma cirurgia para resolver o estiramento.

1- FÓRMULA 1, INTERLAGOS, 1992

Este acontecimento reune tudo que é típico de Nigel Mansell: uma tentativa imbecil de ultrapassagem, uma peleja com Ayrton Senna, um acidente, um piloto zonzo e um pouco de choradeira. Vamos lá, então.

Nos treinos livres de sábado, Mansell fez um tempo quase dois segundos mais rápido que o de Riccardo Patrese, o segundo mais rápido. Nos segundos finais do treinos, qualquer um que estivesse em sua posição sossegaria e reduziria para voltar para os pits. Mas não o Leão, que estava acelerando com tudo quando encontrou, no Bico de Pato, o McLaren de Ayrton Senna, que estava em volta rápida. Sem a menor noção, Nigel tentou ultrapassar Senna por fora, ficou sem espaço, rodopiou e acertou o muro com relativa força.

Mansell saiu do carro grogue e chorando! Estava em estado de choque e com uma boa dor de cabeça, tanto que teve de se debruçar por alguns segundos no muro aonde deu a pancada. Após dar um pulo no centro médico, tomou uma aspirina e voltou para fazer a pole-position à tarde. Dessa vez, uma novidade: Nigel Mansell assumiu a culpa pela batida. Também, pudera…

Vocês já devem ter percebido que me interesso por biografias insólitas. Não vejo graça em ler sobre a vida de Ayrton Senna, Michael Schumacher ou demais pilotos manjados pela milésima vez. O Bandeira Verde faz de tudo para apresentar caras que, por motivo ou outro, foram esquecidos por torcedores, pelos midiáticos e até mesmo pelos convivas dos paddocks da Fórmula 1. São pilotos bons, muito bons, mas que não puderam alcançar a glória máxima da Fórmula 1. O Clique de hoje homenageia um que cabe perfeitamente nessa descrição, o sueco Thomas Danielsson. Thomas quem? “Tomas Dênielsom”, se você quiser pronunciar corretamente. Ele foi vítima de uma situação única na história do automobilismo.

Nos anos 80, a Suécia passava por um período de entressafra no automobilismo. O país até conseguiu lançar alguns nomes razoáveis, como Steven Andskar e Eje Elgh, mas apenas Stefan Johansson conseguiu representá-lo na Fórmula 1. Havia campeonatos bastante razoáveis no país escandinavo, mas não era o suficiente. Qualquer nome que aparecia no cenário internacional, portanto, recebia atenções especiais. E Thomas Danielsson, oriundo de Kungsbacka, era um desses.

O sueco, um tipo franzino com cara de garoto, emplacou no kartismo do início dos anos 80, chegando a peitar Ayrton Senna em algumas edições do Mundial de Kart. Em meados dos anos 80, dominou o campeonato sueco de Fórmula 3, chamando a atenção dos chefes de equipe europeus. Em 1986, fez sua estréia na Fórmula 3 inglesa pela Madgwick. Nesta primeira temporada, apenas um pódio foi obtido, mas em 1987, Danielsson entrou na briga pelo título do campeonato. Apesar de ter vencido corridas e de ter demonstrado muita agressividade, ele terminou apenas em 4º. De qualquer jeito, foi o suficiente para Eddie Jordan chamá-lo para competir em sua célebre equipe de Fórmula 3000 em 1988 ao lado de Johnny Herbert, que havia sido concorrente seu na Fórmula 3.

Thomas Danielsson guiaria um Reynard todo pintado de amarelo que era considerado um dos carros favoritos para o título. No entanto, o ano começou bastante errático. Em Jerez, ele perdeu o controle do carro e sofreu um acidente a mais de 200km/h. Em Vallelunga, outro acidente e seu carro fica preso nas redes de proteção. Nesta corrida, seu companheiro Herbert também sofreu um forte acidente e teve de ficar de fora da etapa seguinte, em Pau. Deste modo, o inglês pôde ficar com a equipe nos pits. Observando a pilotagem de Danielsson, ele fez uma preocupante constatação: o sueco errava basicamente todas as curvas. Erros escandalosos, que não poderiam ser cometidos por um piloto profissional.

Diante disso, a FISA decidiu fazer uma completa investigação médica em Thomas Danielsson. Durante esse período, ele ainda correu em Silverstone e em Monza, se acidentando também nesta última corrida. Apos a etapa italiana, a federação veio com um veredito surpreendente: o sueco era absolutamente incapaz de enxergar em 3D. Ele nasceu com um distúrbio na visão que o impede de ter noção da profundidade das coisas. Em decisão inédita na história do automobilismo, a FISA baniu o piloto para sempre por ser fisicamente incapaz de competir.

Um veredito imbecil desses só poderia trazer a revolta da mídia e do próprio piloto. Danielsson entrou com um processo contra a FISA na justiça comum alegando ter totais condições de competir. O argumento era que a doença era congênita e nunca representou qualquer dificuldade extra para ele. O trâmite se seguiu por um bom tempo, mas ao contrário do que ocorre na justiça brasileira, foi decidido em alguns meses. E Thomas Danielsson ganhou a causa, recebendo de volta sua superlicença.

De quebra, a Madgwick, sua equipe dos tempos de Fórmula 3, o convidou para ser seu piloto na Fórmula 3000 em 1989. E aí começa a volta por cima do sueco.

Na primeira corrida da temporada, em Silverstone, Thomas saiu da terceira posição e passou os dois primeiros colocados ainda antes da primeira curva. E, após isso, sumiu na liderança. Sua primeira vitória na Fórmula 3000 foi celebrada por todos. Após ela, o sueco perdeu outra vitória certa em Vallelunga por um erro primário no final da corrida e obteve um suado pódio em Pau, ao ter de conter um sedento JJ Lehto. Infelizmente, a concorrência melhorou e Danielsson não manteve a forma do início do ano. Terminou em 6º, com 14 pontos. Mesmo assim, ele teve uma oportunidade de testar um carro de Fórmula 1.

No dia 4 de julho de 1989, Thomas Danielsson foi convidado por Günter Schmid, dono da Rial, para fazer uma visitinha à equipe, que estava testando no circuito de Hockenheim. De súbito, quando chegou lá, Schmid revelou que queria ver Danielsson andando em seu carro. O pedido foi tão surpreendente que o piloto teve de pedir pra mandarem capacete e macacão da Suécia para lá! No mesmo dia, ele entrou na pista com um Rial ARC02 para fazer algumas voltas na longa pista alemã. Infelizmente, a equipe estava testando no mesmo dia que alguns Mercedes-Benz de rua rodavam para testes da montadora. Ainda assim, Thomas fez 20 voltas e ficou a 1s4 do melhor tempo feito pelo experiente Christian Danner.

Bastante satisfeita, a Rial decidiu dar uma nova oportunidade ao jovem piloto. No dia 26 de julho, lá estava Danielsson em Hockenheim novamente, dessa vez em um teste oficial da FOCA com outros 29 pilotos. O ARC02 era muito ruim, e ele terminou em último. No entanto, ele foi apenas dois centésimos mais lento do que Volker Weidler, piloto oficial. Ficou claro que ele tinha potencial para competir na Fórmula 1.

Infelizmente, a Rial faliu no final do ano e Thomas Danielsson não teve mais nenhuma outra oportunidade na categoria. Diante disso, ele se mandou para o Japão e competiu por cinco anos na Fórmula 3000 japonesa antes de se aposentar do esporte a motor profissional. Hoje, não sei o que faz da vida. Se eu conseguir encontrar seu e-mail, tentarei uma entrevista. Seria sensacional ouvir do próprio como foi ser o piloto que a FISA recusou por não enxergar em 3D.

Gerson Gouveia? Quem é este?, pergunta alguém não tão informado.

Gerson é um dos melhores pilotos da atual temporada da Stock Car V8. Não é difícil reconhecê-lo. Seu carro, pintado de azul e preto, carrega o número 53 e é patrocinado pela Goodyear e pela Gouveia Metalúrgica, empresa de sua abastada família. Na vida pessoal, ele é casado com a estudante de jornalismo Diana Rodrigues, embora já tenha apresentado alguns claros pendores pedófilos. À primeira vista, a descrição parece indicar a vida de um personagem de novela. E é mesmo. Representado por Marcello Antony, Gerson é um dos principais personagens de Passione, novela da TV Globo.

Como em toda novela global, o enredo é previsível, forçado, superficial e até mesmo errático. Apesar de todo o background de corridas, as atenções estão voltadas para o computador de Gerson. O que será que o aflige tanto quando alguém se aproxima da máquina? As evidências indicam que ele guarda um bom número de fotos de criancinhas para seu deleite sexual. Como em toda novela global, previsível, forçada, superficial e até mesmo errática, deve ser isso mesmo: Gerson é pedófilo. E é isso que importa, no fim das contas. A Stock apenas empresta sua grife e toda sua estrutura para servir como cenário de uma historinha boba.

Já andei falando um tempo atrás sobre a subserviência da Stock Car perante a Globo. A categoria move montanhas para agradar a emissora e recebe, em troca, alguns minutos compartilhados com esportes praianos e reportagens sobre a cor da cueca do Neymar na programação dominical global. Uma das concessões foi exatamente ceder espaço para as gravações da tal novela. Para isso, após uma sessão de treinos da última corrida realizada em Interlagos, alguns pilotos (14, mais precisamente; o restante do grid foi completado com edição computadorizada) foram colocados na pista para fazer algumas voltas simulando uma corrida com Gerson Gouveia. Eles gostaram, é claro. Alguns deles, como Norberto Gresse e Lico Kaesemodel, tiveram seus quinze minutos de fama, que não conseguem obter nas corridas de verdade, e puderam expor seus patrocinadores. No fim das contas, o único que se incomodou um pouco com esse negócio foi Thiago Camilo. O incômodo, aliás, se deu pelo motivo errado: ele estaria incomodado com a possibilidade de Gerson Gouveia ser gay. E, no fim das contas, em Interlagos, ele deixou que alguns artistas entrassem no seu carro. E tudo ficou por isso mesmo, como sempre ocorre na Stock.

Não estou dizendo que a Stock Car deve chutar a bunda da turma de Passione e criar um clima ruim com a Globo. Se Carlos Col e companhia sentem que a novela trará uma atenção maior para a categoria, que venha. O problema é efetuar um enorme esforço por tão pouco espaço, e de baixa qualidade. A Stock teve de adequar um horário de seu cronograma em Interlagos e simular uma corrida completa desde o burburinho anterior à largada. Em troca, a categoria quase não é citada. E quando aparece na telinha, ganha contornos irreais. Para a novela, pouco muda, já que não é intenção dela expor os pormenores da Stock. Mas e para o automobilismo? Qual é o ganho em ter aquilo que foi exibido no capítulo do dia 5 de julho? O capítulo em questão é esse daí do vídeo. Não costumo ver novelas, mas dei a sorte (ou não) de ter assistido a esta pérola na TV.

O vídeo fala por si só, mas sigo com os comentários. Na corrida em questão, Gerson Gouveia larga em segundo. Dou um doce pra quem acertar o pole-position escolhido pelo pessoal da novela. Após a largada, Gouveia ultrapassa o darling global na curva que identifiquei como sendo o Laranjinha e assume a liderança. Um indivíduo reclamão e perfeccionista até o fio de cabelo como eu não deixaria de perceber que a edição de imagens é completamente aleatória, criando uma sequência completamente errada da ação. O piloto sai da Ferradura, entra na Junção, desce no S do Senna, segue pela reta dos boxes, completa o Pinheirinho e segue em diante, confundindo a cabeça deste pobre infeliz.

As imagens misturam a movimentação dos carros com closes de Gerson Gouveia, que faz a corrida pensando no pé na bunda que tomou de Diana alguns momentos antes. Nisso, eu reconheço: apesar de novelístico, acontece do piloto ir pra corrida pensando nessas coisas. Diz a lenda que Ivan Capelli passou vergonha na Ferrari e na Jordan porque havia tomado um belíssimo chifre de sua esposa. E o próprio Senna teria descoberto, alguns dias antes da fatídica corrida de Imola, algumas histórias bem desagradáveis envolvendo Adriane Galisteu. Mas ressalto: são lendas. Não provo nada. Voltando ao Gerson, era visível que ele não tinha condições psicológicas para a corrida. Mais cedo ou mais tarde, o erro aconteceria.

E aconteceu. Gerson e o darling global se tocam na entrada do S do Senna, e o carro de Gouveia segue reto na curva. Contrariando as leis da física promulgadas por Galvão Bueno, o carro rodopiou e deu um belíssimo duplo twist carpado do nada. O que se seguiu foi uma série de capotagens de fazer Gualter Salles corar de inveja. Após algumas piruetas, o carro de Gerson Gouveia parou de cabeça para baixo, e lá estava o piloto inconsciente e com sangramento no nariz. E terminou aí o show. Sylvester Stallone, criador do horrendo Driven, se sentiria orgulhoso do filme que fez. Apenas um post scriptum: Driven é de 2001, época em que os efeitos especiais ainda não eram tão avançados.

Tempestade em copo d’água? Pode até ser. Afinal de contas, não é intenção da novela se aprofundar no tema automobilismo. A dona de casa que mora na Seropédica, com certeza, não está ligando se o carro capotou de maneira bizarra ou se o jogo de câmeras é irreal. O que importa é saber se o tal do Gerson Gouveia é pedófilo ou não. No fim das contas, todos sabemos. Sabemos que Gerson Gouveia é pedófilo. Sabemos que a Stock Car se prestou a algo risível. Sabemos que o pior de tudo é que a categoria gostou.

Porque não dá pra escrever algo grande no dia de hoje.

– Sou muito foda. No post anterior, disse que não fazia a menor idéia de quem substituiria Josef Kral na Supernova. Chutei alguns nomes inocentemente. Um deles era o de Luca Filippi, italiano que já havia feito duas temporadas completas pela equipe. E não é que o Italiaracing anunciou que será exatamente ele o substituto de Kral? Minha bola de cristal comprada na Santa Ifigênia é muito boa.

– Lembram-se da Cypher, aquela aspirante obscura à vaga de 13ª equipe da Fórmula 1? No Twitter, ela anunciou orgulhosamente que está conversando com Jonathan Summerton para tê-lo como um dos pilotos da equipe para a temporada 2011. Summerton já teve boas passagens pela Fórmula Atlantic e A1GP. Confiante, o próprio confirmou a conversa em seu Twitter. Só espero que os cypherianos não o façam de tonto.

– A A1GP deve voltar em 2011. Alguns investidores se uniram e arremataram alguns Ferrari (e até mesmo alguns Lola das primeiras temporadas) para tentar reviver aquele que foi um dos mais criativos e curiosos campeonatos da década passada. Dez dos dezoito países confirmados para o que viria a ser a atual temporada estariam comprometidos em competir em 2011. O calendário do ano que vem utilizaria boa parte das pistas que receberiam a temporada 2010. A conferir. Espero que dê certo.

Os sempre intrépidos espiões do Autosport flagraram, na semana passada, o novo Dallara-Renault da GP2. Este horrendo carro será utilizado nas próximas três temporadas nos campeonatos europeu e asiático da categoria. Pela foto, é possível perceber que a GP2 se aproxima a passos largos da Fórmula 1 ao seguir as tendências aerodinâmicas da categoria-mãe, com a asa traseira reduzida e a asa dianteira ampliada. Não por acaso, os pneus, que serão feitos pela Pirelli, serão compartilhados pelas duas categorias.

A foto foi tirada em uma versão alternativa do circuito de Magnycours. O piloto que faz o teste é o inglês Ben Hanley, que já competiu na categoria em 2008.

Feio. Espero que, ao menos, possibilite mais ultrapassagens. Vale lembrar que a GP2 vem sofrendo uma drástica diminuição nas disputas devido à configuração aerodinâmica do atual carro.

Aliás, falando em GP2, o tcheco Josef Kral deverá ficar de fora da temporada por, no mínimo, dois meses. Foram diagnosticadas fraturas em duas vértebras e o cara vai ter de passar um bom tempo tomando sopinha no hospital. Não faço a menor idéia de quem irá substitui-lo. Luca Filippi? Javier Villa? James Jakes? Qualquer outro nome?

Gostou dos acidentes sofridos no circuito de rua de Valência pelo australiano Mark Webber na Fórmula 1 e pelo checo Josef Kral na GP2? Pois é, eu também. Acidentes do gênero, quando ninguém sai quebrado, são dos mais divertidos que existem pela sua plasticidade visual e pelo estrago causado nos carros. O Bandeira Verde irá relembrar de cinco bons vôos que ficaram na memória dos fãs. Nenhum piloto ou animal saiu ferido nas gravações.

5- BUDDY RICE, IRL EM CHICAGO, 2004

O primeiro da lista ocorreu com um piloto que foi ultraestimado em sua época devido a uma vitória obtida nas 500 Milhas de Indianápolis há seis anos. O americano Buddy Rice, um típico yankee branquelo e rechonchudo que competia na Indy Racing League, se aproveitava do bom G-Force equipado com motor Honda e preparado pela equipe Rahal-Letterman para fazer de 2004 o melhor ano de sua vida. No entanto, o destino sempre deve estar pronto para pregar uma peça. Buddy Rice quase morreu do coração na corrida de Chicago.

Na volta 185, o americano vinha segurando a quarta posição contra Darren Manning, da Chip Ganassi. Em uma manobra errônea, Manning acabou tocando a traseira do carro de Rice, que perdeu o controle e, com a passagem de ar por baixo do assoalho, acabou levantando vôo, deu uma pirueta no ar e caiu de cabeça para baixo, se arrastando logo ao lado do muro. Fenomenal!

Buddy saiu inteiro do carro. E o acidente serviu para os urubus da Indy Racing League cobrirem de críticas os carros da categoria, alegando que eles seriam extremamente sensíveis a qualquer mudança na passagem de ar pelo carro, o que poderia ocasionar mais voos. Estes críticos não deixavam de ter alguma razão, e esse Top Cinq ainda vai mostrar o porquê.

4- CHRISTIAN FITTIPALDI, GP DE MONZA, 1993

Ah, eu não me canso de ver esse acidente. Chega a ser teatral ver dois companheiros de equipe causando um acidente tão impressionante na reta final de um Grande Prêmio em Monza.

Já falei deste acidente em outro Top Cinq, então serei breve: na última volta do GP da Itália de 1993, o brasileiro Christian Fittipaldi atacava o italiano Pierluigi Martini visando a sétima posição. Ambos eram pilotos da Minardi e já estavam brigando havia algumas voltas. Na reta final, Christian pega o vácuo do carro de Martini e tenta uma ultrapassagem pelo lado direito.

O italiano dá uma leve fechada, os dois carros tocam rodas e Christian faz uma pirueta de dar inveja a muito ginasta por aí. Fittipaldi ainda consegue aterrissar com as quatro rodas no chão e ainda completa a corrida com o carro todo torto. Um gran finale, sem dúvida.

3- PETER DUMBRECK, 24 HORAS DE LE MANS, 1999

Em 1999, a Mercedes-Benz tinha um carro tão veloz quanto perigoso na disputa pela almejadíssima vitória nas 24 Horas de Le Mans: o CLK-LM. Ele era belíssimo, todo cinzento e de perfil baixo, mas tinha um gravíssimo problema aerodinâmico no qual qualquer entrada de ar por baixo suprimiria o downforce, mandando o bólido para o espaço. Nos treinos, um dos pilotos da equipe, o australiano Mark Webber (HÁ!), sofreu nada menos do que dois vôos com seu carro nº 4. No último deles, no warm-up, o carro desceu a Mulsanne de cabeça para baixo por vários metros. O fotógrafo brasileiro Miguel Costa Jr. quase foi atingido pelo CLK-LM voador de Webber.

No entanto, o absurdo maior ficou reservado para a corrida. Peter Dumbreck, um dos pilotos do carro nº 5, estava fazendo as primeiras horas da corrida quando, de súbito, o CLK-LM passou por cima de uma ondulação localizada alguns metros depois da curva Mulsanne e o ar que passou por debaixo do assoalho fez o bólido levantar vôo. Como a velocidade era alta, o Mercedes começou a dar uma sequência de piruetas no ar até cair para fora do autódromo, no meio das árvores.

Milagrosamente, Peter saiu do carro com apenas algumas escoriações. A Mercedes, porém, aprendeu a lição. Após três vôos, a equipe retirou o carro nº 6, último remanescente da marca de três pontas, da corrida.

2- MANFRED WINKELHOCK, F2 EM NÜRBURGRING, 1980

Sensacional, este aqui.

O alemão Manfred Winkelhock conduzia seu March amarelado pelo longuíssimo e sinuoso circuito de Nürburgring em uma corrida de Fórmula 2 no ano de 1980. Em determinado momento da corrida, ele danificou seu bico no toque com um adversário. Como o dinheiro de sua equipe era escasso, o pai de Markus acreditou ser melhor continuar daquele jeito até onde desse.

Não deu. O carro perdeu considerável downforce e só mesmo a perícia de Manfred poderia mantê-lo na pista. No entanto, a descida Flugplatz acabou pondo um ponto final nessa insistência. Ao iniciar esta descida, um enorme fluxo de ar passou pelo bico do carro. Como o bico estava danificado, o ar conseguiu empurrar o carro para cima e o resultado foi esse daí: uma pirueta seguida de uma sequência de capotagens.

No primeiro instante, todos pensaram “já era”. Mas Manfred saiu ileso do carro. Um milagre, considerando a falta de segurança dos carros de Fórmula 2 naquele período. Infelizmente, o alemão faleceria em um acidente bem menos plástico com um Porsche no circuito de Mosport em 1985.

1- DARIO FRANCHITTI, DOIS EM UMA SEMANA, 2007 

O primeiro lugar só poderia ficar com um cara que consegue a proeza de sofrer duas piruetas em apenas seis dias!

5 de agosto de 2007, Grande Prêmio de Michigan, Indy Racing League. Franchitti, da Andretti Green, disputava a liderança com o inglês Dan Wheldon, da Chip Ganassi. Na volta 143, os dois vinham juntos pela reta quando Dario acabou esterçando demais à esquerda. Os dois carros se engancharam e Franchitti fez um revival de Buddy Rice ao levantar vôo e cair de cabeça para baixo. No entanto, o escocês fez um trabalho ainda melhor ao levar um monte de gente embora com ele: Scott Dixon (que chegou a ser atingido pelo Dallara voador), Tomas Scheckter e Ed Carpenter. No fim das contas, cinco carros destruídos e nenhuma unha quebrada. O mais impressionante, no entanto, é que Franchitti repetiu a dose na corrida seguinte, apenas seis dias depois! E o pior é que o acidente aconteceu logo depois da bandeirada!

11 de agosto de 2007, Grande Prêmio de Kentucky, Indy Racing League. Após terminar em sétimo, Dario Franchitti tirou o pé do acelerador para fazer a volta de retorno aos pits. No entanto, à sua frente, havia um japonês que desacelerou demais de maneira irresponsável. E aí começa o pandemônio: sem saída e em velocidade ainda elevada, Franchitti bate na traseira de Kosuke Matsuura, levanta vôo, dá uma pirueta no ar e aterrissa batendo de traseira no muro.

Mais uma vez, Dario Franchitti sai ileso. E até ganha um apelido bastante simpático, outrora pertencente a um tricampeão de Fórmula 1: o escocês voador.

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