O Bandeira Verde voltou. Por quanto tempo? Não faço ideia.
O site ficou parado por dois anos por questões pessoais, mas também por um certo desânimo deste aqui com as tais “corridas de carros e outras coisas”. Quando comecei esse espaço aqui, em 2010, havia uma certa expectativa com uma nova Fórmula 1, repleta de novas equipes e de coisas legais. Passados sete anos, algumas dessas escuderias desapareceram no limbo da história, a categoria mudou um bocado, perdeu ainda mais popularidade e virou um troço que apenas meia dúzia de abnegados ainda se esforça para gostar. Desanimei.
Por outro lado, gosto de escrever. É relaxante. E é apenas por isso que estou aqui. Argumento mais mesquinho, impossível. Tentarei manter essa mesquinhez pelo máximo de tempo possível, até minha paciência – ou o automobilismo – acabar. Não prometo nada. Apenas leiam. Ou não.
Lance Stroll. Tomei conhecimento de sua existência ainda em 2010, quando ele foi anunciado como um dos pupilos do Ferrari Driver Academy ao lado de nomes tarimbados como Sergio Pérez e Jules Bianchi. Na época, Stroll tinha apenas 11 anos de idade e ainda engatinhava no kart.
Achei estranho. O que diabos um pivete espinhento que sequer havia chegado à adolescência estava fazendo lá no tal programa de desenvolvimento de pilotos da Ferrari? Imediatamente, o que me veio à cabeça foi o caso de Lewis Hamilton, que já era apoiado por Ron Dennis aos dez anos de idade. Mas aí a narrativa era muito boa: garoto negro, sem muita grana e inacreditavelmente bom no kart. Se desse certo, Ron Dennis e a McLaren poderiam capitalizar em cima. Pois deu tão certo que o último título da equipe de Woking foi justamente vencido por Hamilton há nove anos.
Intrigado, fui verificar se Lance Stroll também havia sido um fenômeno do kart. De fato, ele era bom, tinha vencido campeonatos no Canadá e gozava de certa moral lá no meio dos Terrance e dos Phillips, nada que um Vitantonio Liuzzi ou um Sérgio Jimenez também não tivesse conseguido em seus respectivos territórios. O garoto era habilidoso, mas seu currículo ainda não justificava a aposta de Maranello. Havia, porém, uma informação a mais, algo que não podia ser negligenciado.
O pai de Lance Stroll era rico. Rico mesmo, desses que podem se dar ao luxo de comprar carros da Ferrari às dezenas. Rico a ponto de ter um perfil na Forbes. Eu não tenho um. Ainda. Nem você, e nem seus vizinhos. Mas ele tem.
Lawrence Strulovitch, nascido em 1959, é o 722º homem mais rico do planeta e o 15º de seu país. Ficou multimilionário expandindo os negócios de seu pai, Leo Strulovitch, que foi o responsável por levar a Pierre Cardin e a Polo Ralph Lauren ao Canadá nos anos 70. Lawrence herdou o império do papai e o anabolizou com a aquisição de marcas como Tommy Hilfiger e Pepe Jeans. Em 2003, incorporou ao seu portfólio a Michael Kors, abrindo seu capital oito anos depois. A trajetória meteórica rendeu a ele um patrimônio estimado em 2,4 bilhões de dólares.
Sabendo disso tudo, me perguntei se, por acaso, a Ferrari tinha algum interesse a mais em cima de Lance Stroll para além de seu talento e seus olhos azuis. A indagação, porém, me parecia meio ingênua e maldosa, já que a Ferrari nunca havia precisado se encostar em algum mecenas para obter dinheiro. Soava até ultrajante insinuar que os ferraristas, sempre orgulhosos de si e de sua história, se sujeitariam a adotar um kartista unicamente porque papai é cheio da grana.
No fim das contas, nem me interessei tanto em explorar mais o assunto, pois acreditava que Lance Stroll acabaria ficando pelo caminho mais cedo ou mais tarde – esse é o destino da maioria dos pilotos que se envolvem em programas de desenvolvimento. Afinal de contas, a Ferrari já tinha nomes bem mais interessantes em seu plantel de jovens: Pérez, Bianchi, Raffaele Marciello, Brandon Maisäno e por aí vai. Até chegar em Stroll, muita coisa teria de acontecer.
Pois não é que as coisas começaram a acontecer?
Stroll seguiu no kartismo até 2013, ganhando seus campeonatos e não incomodando ninguém. Em 2014, aos 16 anos de idade, fez o tão aguardado salto aos monopostos. Juntou-se a mais um punhado de pilotos na disputa da Florida Winter Series, um campeonato de Fórmula Abarth que a Ferrari promoveu em algumas pistas da Flórida durante o inverno europeu. Um desses pilotos também estava fazendo sua estreia em monolugares nessa competição. Seu nome era Max Verstappen.
Ao contrário do holandês, que até ganhou um par de corridas, Lance não fez nada de notável. Pegou um pódio em Homestead e só. Mas tudo bem, tratava-se de sua primeira experiência em carros de verdade, o campeonato nem era assim uma Brastemp, estava muito quente na Flórida, as praias o distraíram, enfim, dava para achar uma desculpa.
O primeiro campeonato de verdade para Lance Stroll foi a Fórmula 4 Italiana em 2014. Dessa vez, ele fez a lição de casa. Em 18 corridas, venceu sete e levou seu primeiro caneco de campeão para casa. Pode-se argumentar que nenhum dos adversários era lá grandes coisas – que fim levaram o vice-campeão Mattia Drudi e o terceiro colocado Andrea Russo? Mas pode-se argumentar também que, se ele fosse tão ruim assim, teria apanhado de vara da italianada e voltado correndo para o colo do papai Lawrence. Pois ele tinha uma tarefa a cumprir e cumpriu. Bom para ele.
Aqui cabe um aparte. Lance foi campeão da Fórmula 4 pela Prema Powerteam, equipe italiana fundada por Rick Rosin. Até uns quatro anos atrás, a Prema não significava nada no automobilismo de base, havia tido uma passagem meia-boca pela Fórmula 3000 Internacional em 1998 e chegou a ser considerada a pior equipe da Fórmula 3 Euroseries durante um tempo. Quem transformou o destino da Prema foi justamente Lawrence Stroll, que injetou uma fortuna na estrutura e se tornou um de seus acionistas.
Em 2015, Lance disputou outro campeonato de férias, a Toyota Racing Series, disputada na Nova Zelândia. Venceu quatro corridas e ganhou o título. Dessa vez, os adversários eram um pouco mais fortes: pilotos experientes como Brandon Maisäno e Artem Markelov e jovens de alguma capacidade como Santino Ferrucci, Arjun Maini e Callum Ilott. Stroll não se intimidou e bateu a galera aí. Até ali, tudo corria dentro dos conformes.
O que quase acabou com sua carreira antes mesmo dela decolar foi sua performance na Fórmula 3 Euro. Sempre pela Prema, Lance Stroll ganhou notoriedade mundial pelos dois acidentes pirotécnicos que causou durante a temporada. Em Monza, tentou fechar a porta de Antonio Giovinazzi na Curva Grande, tocou rodas com o adversário e o resultado foi esse maravilhoso duplo twist carpado (https://www.youtube.com/watch?v=YtyY50gMEts). Na rodada seguinte, em Spa-Francorchamps, conseguiu a proeza de fechar dois adversários na reta Kemmel e causou outra confusão das grandes. Os comissários se cansaram de tanta molecagem e resolveram banir Stroll da terceira corrida do fim de semana.
As imagens das cagadas de Stroll correram o planeta e movimentaram rodas de discussão. Estariam os pilotos das categorias de base muito atrevidos? Será que a sensação de segurança dos carros modernos é tão grande que o cidadao se vê no direito de fazer o que quer na pista? Os comissários não precisariam ser mais rigorosos para coibir certas gracinhas? Não haveria carros demais na Fórmula 3 Euro? Azul e preto ou branco e dourado?
A reputação de Lance Stroll sofreu um duro golpe e o garoto percebeu que precisaria maneirar um pouco. Voltou mais calmo após o banimento e até melhorou seus resultados, ganhando uma corrida em Hockenheim. No final do ano, beneficiado pela amnésia que sempre acomete a opinião pública, já não era mais considerado um filhote mal-ajambrado de Pastor Maldonado. Paralelo a isso, a família Stroll decidiu, nessa mesma época, trocar a Ferrari pela Williams, onde Lance se tornou um dos pilotos do seu programa de desenvolvimento.
Mas isso não significa que sua fama melhorou. A imagem de garoto desastrado deu lugar à de um riquinho que usa o dinheiro para mover montanhas para conseguir o que quer. Sempre com a Prema, Lance Stroll permaneceu na Fórmula 3 Euro em 2016. No papel, sua temporada foi impecável: 14 vitórias em 30 corridas e um título obtido com uma rodada de antecedência. Porém, não demorou muito até que brotassem as primeiras informações de bastidores sobre as estranhas circunstâncias que marcaram esse título.
Logo no primeiro fim de semana, em Paul Ricard, um dos adversários de Lance surgiu com uma acusação um tanto pesada. O inglês George Russell, que vai correr na GP3 esse ano, afirmou que Stroll assumiu a liderança da primeira corrida da rodada após uma ultrapassagem facilitada sobre o companheiro Nick Cassidy, que teria travado os pneus propositadamente na segunda volta para ser engolido pelo canadense. Russell, que correu pela Hitech e afirmou “não ser protegido pela sua equipe como Stroll é protegido pela Prema”, achou toda essa situação uma calhordagem do cacete.
George Russell pode até não ser parte isenta nessa história, mas sua má impressão acerca da situação encontrou eco em outros momentos. Em Hungaroring, outro companheiro de Stroll, Maximilian Gunther, teria tentado ao máximo evitar uma ultrapassagem sobre o canadense logo no começo da primeira corrida. Na primeira corrida em Zandvoort, Stroll largou em terceiro, atrás dos companheiros Cassidy e Gunther. Logo antes da primeira curva, Cassidy segurou Gunther e visivelmente tirou o pé, permitindo que Lance fizesse uma ridícula ultrapassagem por fora e tomasse a ponta.
Mas nada se compara às ocorrências de Nürburgring, em setembro. Na primeira corrida, Lance Stroll saiu na pole e foi seguido de perto por Nick Cassidy, que jamais tentou qualquer ultrapassagem sobre o canadense. Naquele ponto da temporada, ninguém mais levava a sério a postura de Cassidy, um talentoso neozelandês que já competia no Super GT japonês havia algum tempo e só estava disputando a Fórmula 3 Euro como um “consultor” da Prema. Olhando o vídeo da corrida, tento ter o máximo de boa vontade possível, mas não consigo. Nick Cassidy não quis atacar Lance Stroll. Por qual motivo? Descubra.
Na segunda corrida, Lance largou na pole, mas foi ultrapassado por Maximilian Gunther na primeira curva. O alemão não abriu espaço para Stroll nas primeiras curvas e todos suspiraram com a possibilidade de, enfim, haver uma batalha real entre os companheiros da Prema. Pura balela. Na 17ª volta, Stroll colou na traseira de Gunther e colocou o carro de lado para passar na parte mais rápida da pista. Maxililian não fez nada, não fechou a porta, não esperneou, ficou ali, olhando a paisagem. Antes mesmo da freada, a ultrapassagem já havia sido consumada. Risos de canto de boca.
Eu posso estar sendo altamente injusto. Pode ser que Cassidy e Gunther sejam dois bundões. Pode ser que eles tenham tido problemas. Pode ser que todas as vitórias tenham sido legítimas. Pode ser que Lance Stroll realmente seja muito melhor do que o resto do planeta. Pode ser que eu esteja enxergando coisas. Pode ser que eu precise parar de ser paranoico e cheirar meias velhas. Absolutamente nada pode ser descartado. Mas sou fiel àquela máxima: onde tem fumaça, tem fogo.
A Fórmula 3 é um meio-termo entre um jardim de infância e um sanatório. Imagine você uma categoria repleta de garotos em fase de ebulição hormonal, ávidos por mostrar serviço, fazer ultrapassagens impossíveis, ganhar corridas e chamar a atenção dos patrões da Fórmula 1. Assistir a uma corrida de Fórmula 3 é presenciar manobras irresponsáveis, tentativas de assassinato e coisas das mais politicamente incorretas possíveis.
Então como pode dois pilotos competentes, Maximilian Gunther e Nick Cassidy, se mostrarem tão passivos nas disputas por posições com Lance Stroll? Não estou esperando que ambos arremessem cascos e bananas contra o canadense, mas suas manobras nesse ano, em outras situações, seriam consideradas apenas provas cabais da covardia e da docilidade de ambos.
A suspeita das ordens de equipe é fortalecida pelo poder que Lance Stroll possui dentro da Prema. O fato de seu pai ser um dos acionistas da equipe permitiu que Stroll tivesse algumas coisinhas a mais em relação aos seus companheiros. Em Zandvoort, Lance foi punido após um treino classificatório e teve de largar do fim do grid nas corridas 2 e 3. O motivo da punição: a suspensão dianteira do seu carro – e apenas do seu carro – não estava dentro dos conformes.
A mídia inglesa logo levantou uma possibilidade curiosa: a tal suspensão teria sido desenvolvida pela Williams. A suspeita condizia com as informações de que a Prema tinha um Dallara de Fórmula 3 sendo utilizado para testes de engenharia na fábrica de Frank Williams em Grove. Além do mais, naquele mesmo fim de semana, um técnico da Williams estava presente nos boxes da Prema. Fazendo o que por lá, o malandrão? Uma visitinha marota e inocente?
Como se não bastasse, o carro de Stroll era o único que tinha um sistema de refrigeração de gelo seco sendo utilizado no motor antes das corridas. Os mecânicos chegavam e botavam o refrigerador sobre o motor para manter uma temperatura constante e fresquinha antes da largada. Chato, né?
Tem outras paradas aí que já são conhecidas por todos. O engenheiro Luca Baldisseri, aquele que trabalhou na Ferrari durante muitos anos, deixou Maranello no fim de 2015 para cuidar de Lance Stroll nessa temporada de 2016. O simulador que Stroll utilizou nessa temporada foi outro ponto controverso: era tão bom e preciso que a própria Williams resolveu adotá-lo para a temporada de 2017.
Eu poderia continuar falando também dos testes que Lance Stroll fez em dez pistas (incluindo Austin e Sochi) com um FW36 de 2014, dos vinte funcionários que a Williams alocou apenas para acompanhar esses testes, dos pneus que a Pirelli fabricou especialmente para essas sessões, dos 80 milhões de dólares que Lawrence Stroll gastou até aqui com seu filho e até dos rumores sobre a insatisfação da família Stroll com a presença de Valtteri Bottas na equipe. Contudo, tudo isso já foi amplamente explorado pela mídia. Vocês estão carecas de saber.
Pode-se dizer que Lance Stroll, nesse exato momento o único titular confirmado na Williams para esse ano, é o piloto que desembarca na Fórmula 1 com a melhor preparação prévia na história do automobilismo. Nem mesmo Jacques Villeneuve, que cansou de andar com um carro da mesma Williams antes de sua estreia na categoria, ou Lewis Hamilton, financiado por Ron Dennis desde a mais tenra infância, tiveram tantas facilidades e recursos para não debutar passando vergonha. O caso mais próximo é o de Nelsinho Piquet, cujo pai chegou ao ponto de transformar um carro de Fórmula 3 em um protótipo para poder burlar o regulamento da Fórmula 3 sul-americana e testar à vontade. Ainda assim, o custo da carreira de Nelsinho nem faz cócegas ao que Lawrence Stroll gastou com seu rebento.
“Ah, mas ele é um piloto-pagante como tantos outros. E ainda consegue bons resultados. Qual o problema dele?”.
Todos. O sucesso de Lance Stroll é mais pernicioso para o automobilismo do que qualquer Jean-Dénis Délétraz da vida.
Pernicioso porque Lance Stroll não é simplesmente um cara que usou o dinheiro da família para meramente comprar uma vaguinha mequetrefe na Fórmula 1 e ser feliz. Ele foi além e adquiriu todos os recursos necessários para desenvolver habilidades e construir um currículo bonito. Seu sugar daddy aceitou gastar algo próximo da centena de milhões de dólares para fazer de seu filho uma estrela do esporte.
Isso cria um precedente terrível para o automobilismo, que já vem definhando nos últimos tempos em função dos custos sempre crescentes. Se Lance Stroll vira alguma coisa na Fórmula 1, outros magnatas e perdulários cheios da nota poderão seguir o exemplo de Mister Lawrence e acabarão despejando toda a grana possível em suas crianças, visando transformá-las num futuro Senna ou Schumacher. E nesse ambiente ultra-competitivo e cheio de egos que é o mundo dos ricos, sempre haverá alguém querendo despender mais do que os demais. Nada impede que Mark Zuckerberg Junior custe, ao invés de apenas 80 milhões de dólares, uns 200 milhões.
Imagino uma distopia esportiva em que um xeique obcecado com o sonho de ser o pai de um multicampeão de Fórmula 1 comece a investir pesadamente em seu recém-nascido desde os primeiros dias: alimentação especial, roteiro de atividades físicas, acompanhamento psicológico, aulas extras de Física e Matemática, corridas de kart desde os três ou quatro anos de idade (sim, isso é possível), dezenas de karts e equipamentos de alta performance, alugueis de pista e tudo o mais.
Sabe aquela ideia famosa de que dez mil horas de treinos conseguem deixar você bom em qualquer coisa? Pois é. Se você anda de kart desde sempre, tem os melhores chassis, pneus e motores à disposição, pode alugar pistas e pagar mecânicos numa boa, segue dietas rigorosas, faz exercícios diariamente, estuda, assiste a muitas corridas, não bebe, não fuma, não trepa, não usa drogas, não tem outras preocupações na vida e respeita sua curva de aprendizagem, é lógico que você acabará virando um bom piloto. A receita é fácil de ser seguida quando se tem dinheiro e bom senso.
Bom senso foi justamente o que faltou aos pilotos pagantes de outrora, que chegavam à Fórmula 1 achando que apenas a conta corrente lhes bastava. Um dos erros mais comuns dos milionários que adentram o certame e quebram a cara é justamente querer apressar demais as coisas. Peguem o caso clássico do brasileiro Pedro Paulo Diniz, aquele que largou tudo para plantar vegetais orgânicos no interior. Filho do conhecido Abílio Diniz, PPD teria feito apenas um ano completo de kart antes de estrear na Fórmula Ford – erro dos mais crassos para o desenvolvimento de um piloto. Dali para frente, ele apenas colecionou fracassos nas categorias de base e só chegou à Fórmula 1 porque despejou um caminhão de dinheiro no projeto da Forti-Corse. Surpreendentemente não passou vergonha nas seis temporadas em que esteve presente, mas convenhamos: se tivesse seguido caminho semelhante ao de Lance Stroll, as chances de sucesso teriam sido exponencialmente maiores.
No automobilismo atual, por incrível que pareça, vários pilotos igualmente ricos também estão passando vergonha nos campeonatos menores justamente por forçarem a barra e insistirem em subir muito rapidamente de categoria, desrespeitando suas próprias capacidades evolutivas. O russo Nikita Mazepin, de origem quase tão abastada quanto Lance Stroll, saiu do kart em 2014 para uma temporada completa de Fórmula Renault em 2015 e uma na Fórmula 3 Europeia em 2016. Não andou nada em lugar algum, sempre peregrinou nas últimas posições e foi até suspenso de uma corrida da Fórmula 3 por ter acertado dois socos na cara de Callum Ilott.
Mazepin é piloto de testes da Force India, mas até o cachorro da rua sabe que ele nunca será piloto titular de coisa alguma. Mais uma vez: tivesse gasto o dinheiro em uma carreira inteligente e eficiente, poderia estar em outro patamar e ser visto como algo além de um garoto branquelo, riquinho e esquentado.
Outros exemplos são os indonésios Sean Gelael e Philo Paz Armand, ambos da GP2. A história dos dois garotos do Sudeste Asiático, patrocinados pelo frango frito da KFC, é parecidíssima: resultados discretos no kartismo local seguidos de uma ascensão fulminante pelas categorias de base europeias. Ao invés de utilizarem o dinheiro para aprimorar suas habilidades em passagens pacientes e bem trabalhadas pelas diferentes categorias, pulavam de um galho a outro sem qualquer planejamento, visando apenas crescimento rápido movido puramente a cifras. Resultado: chegaram rapidamente ao nível da GP2 e da Fórmula V8 3.5 sem qualquer desenvolvimento técnico real. Viraram figuras tarimbadas das últimas posições e só são lembrados por chefes de equipe por razões estritamente monetárias.
Enquanto os pagantes não entendiam que apenas o dinheiro não é suficiente, estava tudo bem: os caras entravam na Fórmula 1 pela porta dos fundos, passavam vexame por uma ou duas temporadas e depois saíam de fininho pela mesma porta dos fundos. Eram ridicularizados e criticados, mas faziam parte do folclore do esporte. Ninguém os levava a sério. E cá entre nós, desde que não machucassem alguém, sua presença não era exatamente a pior coisa do planeta.
O problema é que os Stroll foram os primeiros que entenderam que o dinheiro, se bem usado, também pode comprar o talento. E a partir do momento em que o talento tem um preço, outros também desejarão pagar por ele. E quem tiver mais dinheiro poderá comprar mais talento. O segredo está aí. Quem tiver bala na agulha que o siga.
No fim das contas, quem sabe, teremos Carlos Slim Junior e Warren Buffett III numa disputa ferrenha pelo título da Fórmula 1 em 2030. Quando isso acontecer, quando tudo virar uma brincadeira restrita a garotos multimilionários, pode ter certeza de uma coisa: os pilotos nascidos abaixo do topo absoluto da riqueza estarão fora do show. O esporte também.
13 de janeiro de 2017 at 10:32
Palavras não descrevem minha felicidade com esse retorno. Welcome Back, Verde.
13 de janeiro de 2017 at 10:56
Se pensar bem, Verde, fica até difícil descobrir até que ponto é talento e até que ponto é treino. Talento é aquele diferencial que permitia que Lewis ultrapasse Rosberg ou tirasse uma voltas mágicas seguidas do fundo da cartola, e nunca permitiu que Rosberg ultrapassasse Lewis numa briga direta pela vitória, mas fora isso, Rosberg treinou tanto na vida que conseguia dar sufoco em volta lançada e ganhar algumas corridas em que largasse na frente ou tomasse a ponta. E esse lance das 10 mil horas beneficiou o próprio Lewis, que estreou na F1 com duas temporadas de km rodados, o suficiente pra já chegar botando o pau na mesa contra o Alonso, que é um puta piloto. Acho que sempre o dinheiro mandou na F1, sobretudo pela quilometragem na base, mas realmente, se Stroll um dia for campeão, ricaços vão começar a injetar grana pra produzir o novo Schumacher.
13 de janeiro de 2017 at 10:57
Se pensar bem, Verde, fica até difícil descobrir até que ponto é talento e até que ponto é treino. Talento é aquele diferencial que permitia que Lewis ultrapasse Rosberg ou tirasse uma voltas mágicas seguidas do fundo da cartola, e nunca permitiu que Rosberg ultrapassasse Lewis numa briga direta pela vitória, mas fora isso, Rosberg treinou tanto na vida que conseguia dar sufoco em volta lançada e ganhar algumas corridas em que largasse na frente ou tomasse a ponta. E esse lance das 10 mil horas beneficiou o próprio Lewis, que estreou na F1 com duas temporadas de km rodados, o suficiente pra já chegar botando o pau na mesa contra o Alonso, que é um puta piloto. Acho que sempre o dinheiro mandou na F1, sobretudo pela quilometragem na base, mas realmente, se Stroll um dia for campeão, ricaços vão começar a injetar grana pra produzir o novo Schumacher.
13 de janeiro de 2017 at 11:34
Bem vindo de volta!
13 de janeiro de 2017 at 12:56
Teorias conspiratórias eu conheço bem, mas o autor desta tem que se tratar
13 de janeiro de 2017 at 13:26
Welcome back!
Seus leitores sentiram falta dos teus textos durante esse período sabático!
Escreva sempre!!
13 de janeiro de 2017 at 14:19
Cacete, que susto… mas enfim, bem-vindo de volta, Verde!
16 de janeiro de 2017 at 1:59
Pois é, eu falei umas coisas beeem pesadas, desculpa :/… Isso foi há um tempo, então sei lá, eu era meio escrotinho mesmo, acho que a gente evolui com o tempo, né? Enfim, é ótimo tê-lo de volta, Verde
13 de janeiro de 2017 at 16:55
Mais uma vez certeiro como sempre.Bem vindo de volta Verde.
13 de janeiro de 2017 at 18:36
“…and the bitch is back…”
13 de janeiro de 2017 at 18:52
Chovendo no molhado, k!
Welcome back!
Análise cirúrgica, irretocável!
Tenho para mim que esse Stroll só vai ser mais um Gutierrez da vida, daqui a pouco vai prá F-E fazer barulho de enceradeira.
Aguardando sua análise sobre a volta do que não foi (Massa).
Abraço.
Zé Maria
13 de janeiro de 2017 at 21:42
“Por qual motivo? Descubra.”
DESCUBRA!?!?!? Mais um seguindo a “Cenas Lamentáveis”!?!?!? hahahahahahahaha Se for, ótimo gosto!
Duas coisas:
1) POR FAVOR, não suma! Se precisar a gente faz vaquinha, cada um botando um real por mês pra tu mandar teu chefe pro raio que o parta e só viver disso aqui! Escreve muito melhor do que Flávio Gomes e Reginaldo Leme juntos. Eu gosto muito do Projeto Motor, mas eles não chegam nem perto de você.
2) Já que tu citou o Jean-Denis Déletraz, como tu acha que o filho dele, o Louis vai se sair? Vai ao menos conseguir algo melhor que passar vergonha, caso entre?
13 de janeiro de 2017 at 22:04
A melhor notícia desse dia é ver o seu retorno. Sei bem que está cada dia mais difícil escrever sobre automobilismo em forma geral, pois as discussões estão a cada dia mais superficiais. Um blog de conteúdo, como o seu é indispensável na blogosfera.
Sobre o Lance Stroll, realmente é chocante ver como se desenrolou a campanha do título. Realmente, coloca uma pulga na orelha de todo mundo em quem pensava ver algum potencial no moleque.
Agora, discordo no que diz respeito sobre a questão do talento desenvolvido apenas em relação ao treino. Por mais que o cara tenha tudo do bom e do melhor e treine incessantemente, acho que tem alguma coisa natural que faz a diferença.
Como já falaram antes, tem o exemplo Hamilton e Rosberg. O alemão teve tudo de bom e de melhor e treinou bastante desde muito cedo, embora o Hamilton tivesse o aporte da McLaren, não teve muita diferença na quantidade de trabalho de ambos. Dentro da pista, todo mundo via que o inglês era superior e que o Nico ganhava muitas vezes quando o britânico tinha um azar ou um erro.
E, por mais que o Stroll tenha tido todo tipo de treino antes de ingressar à Fórmula 1, ainda o vejo um pouco cru para tal. Diria que em talento puro, o Max Verstappen tem muito mais a disposição que o canadense. Posso estar errado, mas não vejo o Stroll como um futuro campeão do mundo.
14 de janeiro de 2017 at 21:05
Concordo. Aliás, acho que é justamente o Max, cuja estreia foi tão demonizada pelo Verde (compreensível até) que é o maior candidato a afastar esse risco dos riquinhos dominarem. Ele tá com muita cara de que vai brigar não só por títulos, mas até mesmo pra passar o Schumacher!
E é um cara do qual nunca se fala do dinheiro! Quando se perguntam como ele chegou aí, a primeira coisa que falam é do pai, e a maior parte que se indaga isso sabe bem quem é Jos Verstappen.
17 de janeiro de 2017 at 21:12
Acho que não se falou tanto do Verstappen porque também sempre este com a carreira envolvida com o programa de jovens pilotos da Red Bull. E lá é um moedouro de talentos, tanto que muitos ficaram pelo caminho. O moleque mostrou que estava acima disso.
19 de janeiro de 2017 at 19:35
Faz sentido. Acharam que era mais outro que ia rodar, mas logo esqueceram de tudo isso quando começou a mostrar talento (especialmente em Silverstone, Suzuka e aqui).
Enfim, não acho que o Stroll consiga tanto. Se o Max não chegar a ponto de superar o Schumacher como eu tou supondo, Stroll ainda tem que passar por outros caras naturalmente talentosos como Hamilton, Vettel, Ricciardo e Vandoorne.
13 de janeiro de 2017 at 22:39
Eu gosto do que Verde escreve.
Por um mundo melhor***
14 de janeiro de 2017 at 2:08
Caso os pais megabilionários continuem gastando dinheiro com seus filhos, de repente já pensou que a F1 pode só ter um ou dois carros brigando pela vitória em todas as corridas?
Ufa, ainda bem que isso nunca aconteceu…
Quanto à carreia de Sean Gelael, discordo. Acho que ele é fraquinho mesmo, mas só pulou etapas mesmo no ano passado. De resto, pareceu que o pai dele (dono da Jagonya Ayam) fez certo, levando ele para cima sempre acompanhado de pilotos mais talentosos e experientes.
A ideia é que ele corresse de endurance com Antonio Giovinazzi, até ganharam provas ano passado na Asian LeMans Series, mas a Ferrari tinha outros planos…
14 de janeiro de 2017 at 16:58
Viva Verde!!Ainda bem que tu voltou…mantenha o site ativo pra gente por favor…
15 de janeiro de 2017 at 12:59
Bem vindo de volta, Verde! Quase não acreditei quando vi um post novo aqui. Como você, também ando meio desanimado com issto que eles estão chamando de F1. Então, como amo tudo que se refere a automobilismo, seja qual for a categoria, na falta do “Bandeira Verde”, andei buscando material em outros blogs e me dei conta que agora em 2016 completou 30 anos do desaparecimento de Bertrand Fabi que, certamente, é um ótimo personagem para um texto seu. Já li algo sobre ele e sua curtíssima carreira realmente chamou minha atenção. Fica aí a sugestão para uma futura publicação sua. Abraço e bem vindo!!
16 de janeiro de 2017 at 14:49
Verde gostaria muito de ver sua visão dos acontecimentos de hoje ( bottas, massa, Pascal ,nasr fora) valeu.
19 de janeiro de 2017 at 19:37
Nasr fora vale uma segunda parte de um texto antigo dele chamado “Deles, minha, sua”.
16 de janeiro de 2017 at 16:06
Quando vi a notificação do post novo no meu e-mail achei que fosse vírus! Bom retorno!
17 de janeiro de 2017 at 12:29
Bem vindo de volta! Estaremos sempre aqui para ler e comentar!!!
17 de janeiro de 2017 at 21:58
E eu que, de vez em quando, acessava o link do blog na esperança de vê-lo funcionando outra vez. Grata surpresa. Bem-vindo de volta. Se ter leitores te motiva, podes continuar a escrever… :P
18 de janeiro de 2017 at 22:59
Beleza, Verde. Ótimo ler um texto novo após tanto tempo. Nas últimas vezes que havia tentado acessar o blog, dava uma mensagem de registro cancelado ou coisa do gênero.
Enfim, bom retorno e continue nos brindando com ótimos textose. E não se esqueça de concluir a saga da Onyx e o calendário do Verde de 2012. Hehehe
20 de janeiro de 2017 at 4:31
Bem vindo Verde! Excelente texto e concordo quanto ao fato da F1 atual ser algo que muitos ”se esforçam para gostar”, mas o grande problema é que não é só os dirigentes que são antiquados e incompetentes. Tá cheio de Bernie Ecclestone de sofá por aí, por exemplo:
Experimenta falar mal dele e sugerir algum método do Alejandro Agag e do Stéphane Ratel, para ver a enxurrada de gente enchendo o saco que vai aparecer. Ou então sugerir pistas como Road America, Watkins Glen, Phillip Island, Mugello, Potrero de los Funes, fazer de Interlagos uma ”Paul Ricard” da República das Bananas, com trocentos tipos de traçados e mais um monte de circuitos que não fazem parte da panelinha.
Em relação às equipes e pilotos de outras categorias, aí é que os xaropes esperneiam mais que o abjeto ex-governador suíno do Rio de Janeiro, com aquele argumento mais que batido do ”Cada um no seu quadrado”, que por sinal são os mesmos que dizem que a Manor só atrapalha e que só aparecem pilotos de péssima qualidade das categorias de base na maioria das vezes, uma enorme contradição desse bando de ”fã” fresco, eles tem tanto medo de arriscar quanto um Bernie.
Infelizmente muitos ainda consideram essa parte de gestão esportiva ”um saco” e é por isso que não tenho mais perfil com opiniões pessoais, sempre tem um babaca pra incomodar, nos chamar de ”lunáticos” ou ”mandar a gente se tratar”(como fez aquela anta contigo acima), melhor manter o meu perfil no ”Istragrando”(como diz minha mãe, sobre a referida rede social), com os meus desenhos amadores com edições toscas, haha. Abraços e me avise se tiver alguém com um Monza empoeirado pra vender. :P
20 de janeiro de 2017 at 9:26
que bom que voltaste! Verde.
Ótimo texto, como sempre.
Quando volta o Calendário do Verde? :)
Abraços
Dionisio
20 de janeiro de 2017 at 11:46
Excelente notícia o retorno do Bandeira. Eu tbm sempre dava uma passada pra ver se por algum milagre o blog ressurgiria das profundezas da internet… …e ele volta! Obrigado. E muito sucesso na mesquinhez.
9 de fevereiro de 2017 at 10:10
Deus existe!!!!! Valeu verde !! Obrigado por estar de volta! Voce nao imagina o quanto fiquei triste quando clicava no link do teu blog e o WordPress dizia que o dominio não existia mais! E agora só por desencargo clico no seu endereço que estava nos meus favoritos e voilà!!!! Tem texto novo! Espero que você consiga não deixar esse espaço morrer!!
13 de fevereiro de 2017 at 19:02
Análise certeira,a pergunta que vai fica no ar,será que o Felipe Massa vai ouvir aquela famosa frase:
Stroll is faster than you?
Se eles não estavam contentes com o Bottas,será que o Felipe vai vira segundo piloto a força,já que dizem que o pai dele o Mr Stroll comprou as ações do Toto Wolf,vai ser interessante acompanhar essa temporada,já rque teremos esse novo regulamento.
Regulamento esse muito parecido com aquele dos tempos em que o Massa potava pra fuder.
Vamos fazer Crawford para vc não deixar de escrever,muito bom seu site
28 de fevereiro de 2017 at 11:28
E olha o Stroll fazendo cagada já no começo!
É verde, tu exagerou mesmo… Dinheiro não compra talento e o espinhento tá provando isso. hehe
24 de abril de 2017 at 10:51
Aeeeewww Verde !!! Voltou !!! Que felicidade !!! Nem visitava mais o blog !!! Percebi que voltou quando vi um comentário seu no blog do Corradi !!! Dessa vez fica Verde, vai ter bolo !!!
12 de julho de 2017 at 1:32
Uau. Hoje 12 de julho resolvi lembrar do Verde e bah! Que show! Dois textos quando achei que não surgiria mais nada depois de mais de um ano sem entrar por aqui. Que venham mais seja quando for.!
12 de julho de 2017 at 20:14
CARALHO!!!! VOCÊ VOLTOU!!! Puta saudade de ler seus textos!