Boa tarde a todos. Bom dia e boa noite aos dois ou três leitores que se encontram em um fuso horário diferente.
Em outubro do ano passado, o leitor Marcelo Druck me enviou um relato bastante interessante sobre sua viagem à Coréia do Sul, aquela cheia de prédios altos e gente de cabelo colorido. Fã de Fórmula 1, Marcelo aproveitou a ocasião para assistir ao GP da Coréia, realizado no dia 14 de outubro de 2012. A corrida em si foi uma merda, creio que eu mesmo devo ter dormido depois da segunda ou terceira volta, mas isso não importa. O intrépido viajante esteve lá em Yeongam naquele dia e suas impressões sobre o GP estão no relato postado abaixo. Para quem nunca esteve numa corrida internacional de Fórmula 1, o que é o meu caso e certamente é o de 97,8% dos meus leitores, é uma leitura imperdível.
A propósito, a melhor parte de sua viagem ao noroeste asiático certamente não foi a corridinha de Fórmula 1. Em abril deste ano, o portal G1 apresentou as histórias de alguns brasileiros doidos que contrariaram as opiniões ortodoxas de amigos e parentes e decidiram conhecer a Coréia do Norte, conhecida como o país mais fechado do planeta. Marcelo foi um destes. Na reportagem, você poderá ler algumas de suas impressões sobre a misteriosa nação norte-coreana. Detalhe para a foto com o militar, impressionado com a presença de um sujeito branco, bigodudo e orgulhosamente trajado com a camiseta do Grêmio.
(Só eu fiquei gratuitamente incomodado com o outro brasileiro, que fazia questão de tirar foto com cara de tonto com os norte-coreanos?)
Inspirador. Meu sonho de conhecer o Cazaquistão se tornou um pouco menos inalcançável depois disso.
Eu deveria ter postado esse texto ainda no ano passado. Não o fiz por inúmeras razões, a maior parte delas relacionada à absoluta falta de tempo. Hoje, tomei vergonha na cara. Peço desculpas novamente ao Druck pela demora. E ainda conclamo aos leitores para que enviem suas histórias. Já assistiu a uma corrida em outro país? Teve algum contato interessante com o mundo do automobilismo? Já foi piloto, chefe de equipe ou dono judeu de alguma categoria internacional? Mande seu relato. Prometo que não demorarei onze meses para postar.
Chega de parlatório. Vamos ao texto.
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Antes de mais nada, este é um relato sobre pilantragem.
Os coreanos são um povo muito organizado e honesto, ao menos para o olhar leigo. O país parece funcionar como um relógio suíço. O grande exemplo disso (e que diferença para quem vem de São Paulo!) é o transporte público. Lá eles primeiramente esperam os outros passageiros saírem e só depois entram no vagão do metrô, sem desespero nem empurra-empurra. Também é impressionante ver que os ônibus e estações do metrô não costumam ter catracas e as pessoas pagam mesmo assim.
Não houve pilantragem em nenhum transporte público. Usei meu T-Money, o Bilhete Único deles com nome de rapper ruim, em todos meus deslocamentos.
Quando comprei meu ingresso para assistir à corrida em Yeongam, não sabia que a Coréia do Sul era assim. Faltavam alguns meses para as minhas férias e eu não acreditava que nenhum povo pudesse ser tão organizado. Acabei por escolher o ingresso mais barato, só para ir na corrida mesmo.
O autódromo de Yeongam fica nos arredores de Mokpo, uma aprazível cidade na costa sudoeste do país. Pelo que havia lido, diziam que era um cu de mundo, mas foi fácil chegar lá de trem-bala. O preço era bem justo, cada passagem custava uns R$ 80 para uma distância maior que o trajeto São Paulo – Rio de Janeiro, mas a viagem só durou umas três horas. Também havia ônibus gratuitos da estação para o autódromo.

“Se tu quiser mostrar essa bizarrice…”. Sem problemas, até porque bizarro mesmo seria uma foto dessas com o Psy
Como comprei meu ingresso pela internet, deveria retirá-lo perto da entrada da reta dos boxes. Fiquei espantado ao ver que o funcionário era um tiozão inglês com cara de pilantra. Como faltavam cerca de duas horas da corrida, fiquei por ali para dar uma olhada nas lojas das equipes antes de ir para meu lugar. Esperava ter qualquer produto das equipes pequenas e a única coisa que me interessou foi uma jaqueta da Force India. Mas tudo era muito caro e deixei pra lá.
Vi que dava pra subir para a arquibancada livremente, sem ninguém pra me revistar ou pedir meu ingresso. A princípio, eu queria apenas tirar umas fotos, ver os boxes, a preparação dos carros, o desfile dos pilotos. Imaginei que mais cedo ou mais tarde ia aparecer alguém pra conferir o ingresso de todo mundo. Não era possível que fosse tão fácil assim ver a corrida num lugar dez vezes mais caro do que o que eu paguei.
Resolvi brincar com a sorte, até porque precisava muito ir ao banheiro. Aproveitei que ainda faltava uma hora pra começar a corrida, tempo de sobra para ir ao meu lugar de direito caso me barrassem agora. Que nada, entrei tranquilamente e até dei um olá (“anneyong hasiminika” em coreano, só pra você imaginar como é o negócio) para uns policiais.
A largada é impressionante. Todo o barulho, a expectativa, o cheiro de gasolina, o Romain Grosjean pronto pra fazer alguma merda. É um negócio até meio assustador, mas todo fã de automobilismo precisa ver isso antes de morrer, ou acabarem com o motor a combustão, o que seria muito pior do que morrer.
Sobre a corrida, nem tenho muito para falar. Até porque, além de não acontecer muita coisa, da reta dos boxes não dava pra ver nenhuma outra parte do circuito. Só pelos telões que colocaram em cima do paddock. Torci para dar algo errado, algum carro pegar fogo ou algo parecido, mas os pit-stops também foram divertidos.
Depois da corrida, até deu pra ficar relativamente perto do pódio. Mas aí eu já estava mais preocupado em voltar logo pra estação e estava com medo de ter gastado toda a sorte do dia fazendo o penetra. Precisava voltar pra Seoul.
23 de setembro de 2013 at 13:18
Primeiro mundo é outra história. Vai a organização do GP do Brasil fazer algo desse tipo pra ver no que vai dar. Seria 250.000 cabeças em um lugar onde só cabe 120.000. Eu achei interessante no tocante do evento e como paulistano desde 1987 eu ainda não consigo conceber uma corrida de F1 fora de uma megalópole como é corriqueiro em cerca de 75% do calendário da F1.
23 de setembro de 2013 at 14:19
Muito interessante. E o melhor exemplo de como são as coisas por lá. Em termos de organização (e ingénuidade) e como eles encaram isto da Formula 1. Como vai tão pouca gente, as coisas são mais “à vontade”.
Como ele foi no dia e não no fim de semana, teria sido engraçado se ele fosse dormir num dos muitos motéis existentes por lá e saber que impressão é que ficou deles. Pelo menos em relação aos brasileiros…
23 de setembro de 2013 at 15:12
Eu fiz Couchsurfing, mas durante a viagem dormi num motel coreano na primeira noite. Foi curioso. A TV era gigantesca e havia um computador lá.
Nos moteis brasileiros a gente não precisa de computadores pra se divertir.
23 de setembro de 2013 at 15:35
TV gigante, motel… Hm.
24 de setembro de 2013 at 10:48
“todo fã de automobilismo precisa ver isso antes de morrer, ou acabarem com o motor a combustão, o que seria muito pior do que morrer”.rsrsrs
Espero não ver a morte do motor a combustão. Abç
28 de setembro de 2013 at 20:56
Interessante. Muito legal ver lugares onde há essa honestidade. Outro dia li um texto sobre uma tal teoria sobre a janela quebrada. Quem quiser ler, postarei o link no final do comentário. Acho que talvez a sensação de ordem, respeito e limpeza por si só geram um circulo vicioso onde a pessoa age de forma ordeira. Não sei se por intimidação pela forma organizada ou mesmo pela vontade de ser mais um dos que agem de boa índole. Ainda quero ver uma corrida de Formula 1 e Formula Indy onde quer que seja. Na sexta feira retrazada (20/09) assisti o show do Iron Maiden exatamente no S do Samba no Anhembi. O palco ficava no final da reta do sambódromo. Foi meu único contato com o automobilismo recentemente. De certa forma, caminhei pelo circuito citadino. hahahahahahahha
Link que mencionei:
http://clinicaalamedas.wordpress.com/2013/08/25/teoria-das-janelas-partidas/