A Fórmula 1 é cega. É muda. E surda. E não faz a menor questão de reverter suas incapacidades. Daqui a dois fins de semana, poderemos ou não ter o Grande Prêmio do Bahrein, prevista quarta etapa da temporada 2012. Tudo depende do resultado da reunião a ser feita entre Bernie Ecclestone, Jean Todt e representantes das doze equipes da categoria no próximo sábado em Shanghai. Todas as partes emitirão suas opiniões e colocarão na balança os prós e os contras de viajar para o Bahrein. Da mesa, sairá o veredicto final: ou todo mundo voltará diretamente para a Europa ou a Fórmula 1 seguirá normalmente para o caldeirão do Oriente Médio.
Se existisse um mínimo de sensatez e dignidade em Ecclestone e Todt, é óbvio que ninguém embarcaria para o Bahrein e a Fórmula 1 nunca mais colocaria os pés no país. É óbvio que não estou esperando que os pilotos vistam capuzes, saiam às ruas e se unam aos protestantes xiitas jogando pedras e tochas contra a polícia. Não espero que Bernie Ecclestone cuspa na cara do rei Hamad al Khalifa ou que Jean Todt lidere um coral entoando We are the world, we are the sunnis. Nada disso. Só acho meio nojento que haja carros correndo e gente se divertindo enquanto o pau come do lado de fora. A única coisa que se espera da Fórmula 1 é o não-alinhamento com um regime que não se importa em assassinar algumas pessoas contrárias aos desmandos oficiais.
Se eu fosse o dono do mundo, publicaria uma lista de lugares aonde a Fórmula 1 não poderia ir. Não sou a favor de porcaria alguma na China, um país que dispensa comentários. Acho meio constrangedor erguer o circuito do GP da Índia no meio de um rincão indecorosamente pobre. E nunca sequer pensaria em um GP do Irã. Sim, sou meio radical com essas coisas. País sem liberdade, sem recursos ou sem respeito à dignidade humana não tem o direito de sonhar em realizar corrida de qualquer coisa. Primeiramente, é preciso consertar os problemas reais. Mas é óbvio que nada disso irá acontecer.
Não é de hoje que a Fórmula 1 se enfia em lugares encrencados e tenta fingir que tudo está bem. A melhor história é a do Grande Prêmio da África do Sul de 1985.
Nós, que temos menos de 25 anos, não temos lá muita noção do que era para um não-branco viver na África do Sul daqueles dias. Entre 1948 e 1994, o país foi regido por um sistema legalizado de segregação racial de nome apartheid. Desenvolvida por uma fração da minoria branca que compunha o Partido Nacional no fim dos anos 40, a legislação da apartheid considerava que o país era um conjunto de nações que deveria ser dividido como tal. Os sul-africanos foram classificados em quatro etnias: branca, nativa, indiana (vale ressaltar que muitos indianos emigraram em massa para a África oriental) e “colorida”, que era a nomenclatura utilizada para designar os mestiços.
A intenção era clara: estando legalmente diferenciadas, as etnias acabariam tendo direitos e deveres diferenciados. Com isso, era possível construir um país onde os brancos teriam privilégios e as demais raças ficariam com as sobras. Os atos proclamados posteriormente proibiram o casamento inter-racial, definiram que cada raça poderia morar somente em regiões delimitadas pelo governo, permitiram que áreas e estabelecimentos públicos pudessem ser freqüentados apenas por brancos e estabeleceram que os brancos receberiam educação superior às outras raças. Estas foram apenas alguns dos absurdos aprovados no país durante aqueles dias.
O que a África do Sul estava fazendo naquela época constrangia um mundo que respirava aliviado por ter acabado de extirpar o nazismo da Alemanha. Inicialmente, países como o Reino Unido e os Estados Unidos não reagiram negativamente, pois precisavam do ouro sul-africano e contavam com o governo do país na luta contra o comunismo em plena Guerra Fria. Conforme as coisas pioravam e a opinião pública tomava contato com a realidade, as sanções aumentaram e a África do Sul começou a se isolar.
No mundo esportivo, várias organizações esportivas baniram a participação de atletas e equipes sul-africanas. A FIFA proibiu a participação da África do Sul das competições oficiais a partir de 1963. O Comitê Olímpico Internacional não permitiu a participação do país nas Olimpíadas de 1964 e 1968 e baniu em definitivo sua delegação a partir de 1970. Pressionados pela comunidade internacional, outros esportes tiveram problemas para realizar competições envolvendo a África do Sul e acabaram riscando o país do mapa. Qual foi a única grande modalidade que realizou 25 eventos em plena era da apartheid? Adivinhem.
Em 1985, a autista Fórmula 1 tinha uma corrida prevista para o dia 16 de novembro, um sábado de sol, no circuito de Kyalami. Naquele ano, a revolta popular contra a apartheid havia chegado a níveis insustentáveis. Greves envolvendo estudantes e trabalhadores do campo paralisaram o país. Nas cidades, bombas e granadas eram arremessadas pelos revoltosos nos órgãos públicos e nas forças oficiais. O presidente Pieter Botha chegou a oferecer a liberdade condicional ao então presidiário Nelson Mandela, mas o ativista antiapartheid recusou a oferta. O principal jornal de oposição ao regime, o Rand Daily Mail, fechou as portas após sucessivos prejuízos. A economia mergulhou em uma crise de dívida externa após os bancos internacionais terem decidido cortar suas linhas de crédito. Seria neste ambiente sadio e pacífico que a Fórmula 1 iria fazer seu show.
Nos meses que antecederam a corrida, as discussões sobre o quão ético seria realizar alguma coisa por lá estavam ainda mais tensas do que hoje em dia. Na verdade, poucos acreditavam que a Fórmula 1 realmente iria para a África diante de tantos problemas. A própria organização parecia descrente, e isto pode ter sido uma das razões para ela decidir antecipar o evento do dia 16 de novembro para o dia 19 de outubro, outro sábado de sol.
No fim de agosto, o jornal italiano Corriere dello Sport perguntou a várias pessoas envolvidas com a Fórmula 1 o que elas achavam da realização do GP da África do Sul. As opiniões foram negativas em uníssono. O tricampeão Niki Lauda foi incisivo: “É uma loucura ir à África do Sul. Eles têm problemas demais para se interessarem por uma prova de Fórmula 1”.
O colega Elio de Angelis concordou: “Não deveríamos ir à África do Sul. Primeiramente, por motivos humanitários: estão matando pessoas por motivos políticos. Além disso, nós, da Fórmula 1, estamos correndo sérios riscos. Nossa presença naquele país seria utilizada pela polícia e pelo exército como justificativa para maior intervenção e repressão aos grupos que protestam contra a discriminação racial”. Alguém imagina um piloto contemporâneo dando uma opinião deste tipo?
No dia 9 de agosto de 1985, o presidente brasileiro José Sarney, por meio do decreto nº 91.524, sancionou uma política que restringia “todos os contatos esportivos, culturais e artísticos com a África do Sul, conforme recomendado pelas Nações Unidas”. Todos ficaram curiosos com relação à postura do governo brasileiro em relação às participações de Nelson Piquet e Ayrton Senna na corrida.
Em 10 de setembro, tendo como base o decreto descrito acima, o Itamaraty solicitou à FISA que transferisse a corrida para outro país. Ao mesmo tempo, o órgão diplomático pediu a Senna e Piquet para que não participassem da corrida caso ela acontecesse. Nelson, estritamente profissional, respondeu que não corria pelo Brasil, mas sim pela Brabham. Para ele, somente um decreto-lei poderia impedi-lo de ir em frente, portanto. Ayrton, por outro lado, só veio a falar oficialmente sobre o assunto dias depois. Disse que poderia boicotar, sim.
Houve ainda uma possibilidade da CBA cassar as licenças de Senna e Piquet, mas a medida foi considerada drástica e até mesmo inócua, pois eles poderiam arranjar facilmente uma carteirinha em qualquer paizeco por aí. Não dava para segurá-los, esta era a verdade.
Outros países também se manifestaram. Também em 10 de setembro, os governos da Suécia e da Finlândia anunciaram que não queriam ver seus pilotos, Stefan Johansson e Keke Rosberg respectivamente, participando da corrida. Se Johansson e Rosberg desobedecessem, perderiam as suas licenças e não poderiam chorar. A ministra da Educação finlandesa argumentou que a atitude seria tomada até mesmo para evitar que, no caso de vitória de Rosberg, o hino finlandês fosse executado no pódio.
Em 11 de setembro, o ministro da Juventude e dos Esportes da França pediu para que as equipes do país, Ligier e Renault, não participassem da corrida de Kyalami. No dia seguinte, a Renault anunciou que não participaria da corrida. Como a Ligier era diretamente ligada ao presidente François Mitterrand, ela também não demorou mais do que alguns dias para anunciar que não viajaria à África do Sul. Logo de cara, duas equipes a menos para a corrida. O pior para a Fórmula 1 é que nenhuma delas poderia ser punida, pois alegavam “motivos de força maior” para não comparecerem.
A situação ficava cada vez mais tensa. O francês Alain Prost, que havia acabado de se sagrar campeão, afirmou à mídia francesa que seria ridículo se o GP da África do Sul fosse realizado sem competidores como Rosberg, Senna e Piquet. Foi uma bela resposta ao presidente da FISA Jean-Marie Balestre, que disse que daria para fazer a corrida com apenas quinze carros.
Em 14 de setembro, Balestre voltou a demonstrar que não cederia a qualquer pressãozinha política e confirmou a realização do GP da África do Sul no dia 19 de outubro. Mas a pressãozinha estava virando um negócio cada vez mais difícil de lidar. No dia 18 de setembro, o Itamaraty voltou a mandar outra cartinha à FISA exigindo o cancelamento do Grande Prêmio da África do Sul.
Nestes mesmos dias, o governo da Itália também confirmou sua oposição à realização da corrida. E suas equipes, Ferrari, Alfa Romeo, Minardi e Osella, também correriam o risco de não participar do GP. O comendador Enzo Ferrari confirmou que não correria se sua rival, a McLaren, também não competisse. De bobo, ele não tinha nada: Ferrari e McLaren eram as grandes candidatas ao título.
Isso quase aconteceu quando o Reino Unido também considerou não deixar suas equipes irem à África. Como a esmagadora maioria das escuderias vinha da Inglaterra, as coisas ficariam realmente pretas. Considerando que a alemã Zakspeed não disputava provas fora da Europa, o mais bizarro dos cenários previa apenas uma equipe apta para participar do GP da África do Sul: a novata americana Haas!
Mas nem a Itália e nem o Reino Unido estabeleceram proibições e suas equipes puderam embarcar normalmente para Kyalami. Não demorou muito e Ayrton Senna também reviu sua posição de possível boicote, confirmando sua participação no GP da África do Sul. Portanto, 21 carros estariam presentes: as francesas Ligier e Renault realmente ficaram de fora, assim como a RAM, que não tinha dinheiro para prosseguir. O evento, para alívio de Jean-Marie Balestre e do governo sul-africano, estava salvo.
No Brasil, a participação de Piquet e Senna foi alvo de críticas. O cantor Martinho da Vila chegou a pedir para que eles não largassem, pois “seriam considerados racistas pelos meus irmãos negros”. Ativistas do movimento negro e alguns deputados fizeram coro com o sambista. Mas os dois largaram.
Depois de tanta choradeira, o GP da África do Sul transcorreu normalmente. Tão revoltosos enquanto estavam na Europa, pilotos e equipes não falaram uma única palavra contra o evento quando foram para lá. Alguns patrocinadores, como a Marlboro, a Barclay e a Beatrice, decidiram não estampar seus decalques nos seus carros. Em alguns países, como foi o caso na Itália, as emissoras de TV não transmitiram a prova como protesto. E só.
O GP de 1985 realmente aconteceu, mas a FISA não queria mais saber de confusão. Na semana seguinte à da corrida, o presidente Jean-Marie Balestre anunciou o cancelamento a edição de 1986 alegando a falta de “garantias necessárias para figurar no certame”. Após duas décadas e meia, a Fórmula 1 finalmente deixaria de dar as caras num pais que tratava pessoas de maneira completamente diferente unicamente por causa da cor da pele.
No fim das contas, o que aconteceu dentro das pistas é o que menos importa. Qual é a razão, então, da escolha da foto de Philippe Streiff para ilustrar o post?
Streiff havia sido contratado pela Ligier em meados de 1985 para substituir Andrea de Cesaris após o GP da Holanda. Como a equipe de Guy Ligier seria uma das duas que boicotariam a etapa da África do Sul, o piloto acabaria tendo de perder esta corrida. Para sua sorte, a Tyrrell tinha uma vaga aberta no carro que pertencia ao falecido Stefan Bellof.
Streiff conversou com Ken Tyrrell e os dois decidiram unir forças inicialmente apenas para a corrida de Kyalami, mas sempre pensando um pouco além. O acordo era vantajoso para ambos os lados: o piloto acabou abrindo caminho para a assinatura de um contrato válido para toda a temporada de 1986 e a equipe conseguiu descolar os motores Renault turbo por intermédio da chegada de Streiff.
No fim, todos ficaram felizes: Streiff, Tyrrell e Renault. Como é bom concretizar um bom negócio. Até mesmo o sofrimento daqueles negões lá fora desaparece, não é?

11 de abril de 2012 at 20:52
Fabulosa história, Verde! Eu não faria melhor. Parabéns.
11 de abril de 2012 at 20:59
Verde, voce esta perfeitamente certo em criticar governos como Bahrein, cuja unica diferenca com o Iraque de Saddam é a presenca de familias amiguinhas aos paises ocidentais que lhes salva da pecha de “bad guys”. Mas é de dar nó no estomago ver ataques covardes a paises como a India, cujo unico crime é ser pobre. Terem se mantido um pais com cultura unica, talvez o pais mais antigo do mundo mesmo passando por uma colonizacao tao brutal quanto qualquer outra, ser um pais tao fantastico e tao aberto ao mundo como sempre foi, nao merece ataques do tipo “limpam o orificio anal com o dedo”. Entenda que voce pode criticar um governo, nao gostar de uma cultura, discordar de um dogma, enfim. Mas odiar um povo é impossível, quando se fala de mais de um bilhao e trezentas milhoes de pessoas, é triste. Um pouco mais de respeito a cultura alheia e a qual voce, evidentemente, nao conhece, lhe cairia muito bem. Desculpe a puxada de orelha, leio teus textos diariamente e é sem duvida um fonte de informacao automobilistica imprescindivel. Grande abraco de bem perto de Hockenhein.
11 de abril de 2012 at 21:06
Não odeio os indianos. Acho que uma corrida lá é algo absolutamente ofensivo para a população local, aliás.
11 de abril de 2012 at 21:44
“Países como o Reino Unido e a Inglaterra…”
Ué, mas e Inglaterra e Reino Unido são o mesmo país, não? hehehehe
Creio que você queria dizer Estados Unidos.
Ótimo texto verde.
11 de abril de 2012 at 22:58
Belo texto. Aliás esse GP do Bahrein não faria falta nenhuma se fosse cancelado. Seria ainda uma otima maneira de mostrar apoio aos revolucionários locais.
12 de abril de 2012 at 1:32
Sendo que na corrida seguinte, Streiff conseguiu seu único pódio na carreira, correndo novamente pela Ligier mas já sob contrato da Tyrrell, aliás ja li numa Autosport que nessa corrida Guy Ligier quase deu porrada no pobre Phillipe que não estava contente com o terceiro lugar e foi pra cima de Laffite querendo o segundo posto e os dois quase bateram o que ia tirar os pódios da equipe francesa.Mas ele recebeu ordem pra permanecer em terceiro mesmo.Queria ver o tampinha do Ligier querer bater no Streiff de 1,89 ia ser hilário.Aliás pilotos altos são raridade né?Eu tenho 2,02m nunca ia entrar num F1(entrei numa Ensign em jacarepaguá 1982 mas eu tinha 12 anos) tanto que meu carro é uma pick up Ranger.Mas fiz uma pesquisa sobre os altos(os mais altos) e foi uma relação pequena.Os com mais de 1,85(John Watson,Phillipe Streiff,Ralph Firman, Justin Wilson, Hans Stuck, David Coulthard, Robert Kubica, entre outros que não me lembro agora, mas acho que o mais alto mesmo foi Hans Stuck com 1,94, batendo Wilson por 2cm.
Verde posso sugerir uma matéria, que já sugeri ao meu amigo Rianov!
Que tal vc fazer uma matéria sobre os grande prêmios disputados no circuito alemão de Solitude?
É só uma idéia, e qdo eu retomar meu blog Legend F1(parado por falta de tempo) deixarei o link aqui!E desculpe eu emendar um assunto em outro.
Abraços
Fábio Mandrake
12 de abril de 2012 at 9:45
No fim o Streiff teve um castigo bastante cruel…
Quanto à Índia, é um país desigual, mas não necessariamente pobre, em PIB absoluto. O Brasil é da mesmo estilo, desigual mas não necessariamente pobre…
Quanto a Kyalami, tem aquela do James Hunt, que falou no ar que “ainda bem que eles não estavam lá”, sendo que o plano da BBC era para ele e Walker transmitirem do UK sem ninguém saber (como têm feito Galvão e cia. aliás). Sá não lembro se foi em 1985.
12 de abril de 2012 at 10:11
Amigo Verde, com todo o respeito, o argumento de não-realização da corrida na Índia também serviria para o Brasil, não é verdade? Também vivemos num país “miserável”, pelo menos aos olhos dos europeus, sem falar que nos anos 70 e 80 vivíamos numa ditadura militar das mais odiosas… e tínhamos corrida de F1! Falar que a Índia é miserável nos dias de hoje, sendo uma das economias mais fortes do mundo, é falar com pouco conhecimento, talvez até preconceito, desculpe chegar a pensar nisso. O mesmo poderia ser aplicado na sua visão em relação à prova chinesa. Todos os países tem problemas, não é papel da F1 resolvê-los. Quando os problemas são grandes demais e as consequências sociais são graves, como na África do Sul no passado e no Bahrein agora, acho vergonhoso um evento esportivo como a F1 acontecer. Agora, intolerância com o regime estabelecido num país, por pura antipatia ou por conceitos que só têm valor na nossa cultura, acho tão absurdo quanto esses outros valores que todos condenamos. Nossa cultura só vale para nós mesmos, querer aplicá-la à força para os outros sempre será um erro. Os chineses seguem crescendo no mundo capitalista, enquanto os americanos e europeus, tão certos em tudo, seguem pro buraco.
12 de abril de 2012 at 10:50
O Brasil é um país muito menos problemático do que a Índia. Isso é, São Paulo é uma cidade muito menos problemática do que qualquer lugar da Índia. É violenta, poluída e abarrotada, mas não tanto quanto as grandes cidades indianas e ainda não tem problemas com castas (ainda muito frequente nas cidades médias e pequenas) e excesso de pobreza (segundo a ONU, 37% da população do país vive abaixo da linha da pobreza).
Além do mais, o GP do Brasil é financiado com dinheiro público municipal. Um enorme absurdo, mas que pode ser minorado se considerarmos que o orçamento da cidade de São Paulo é o terceiro maior do país (perde apenas para o da União e o do Estado de São Paulo) e que o retorno à cidade será maior do que o de qualquer outro evento. Enquanto isso, o GP da Índia é financiado com dinheiro do governo central (muito mais imprescindível do que o dinheiro da maior cidade de um estado rico do Brasil) e nunca trará o mesmo retorno aos indianos, como ocorre com todas estas novas corridas asiáticas.
Quanto à Fórmula 1 não resolver os problemas, é o que eu disse no texto: só espero da categoria que ela não se alinhe automaticamente com regimes que firam a dignidade humana (caso do Bahrein) ou a liberdade (China). Isso valeria para o Brasil da ditadura. Eu seria estritamente contra um GP do Brasil naquela época.
É isso. E mais uma vez: não tenho problemas com povos. Tenho, sim, com aspectos pontuais de algumas culturas. E principalmente com governos.
Abraços!
13 de abril de 2012 at 15:13
Po Verde, eles tem uma equipe de Formula 1, dois pilotos no grid, e uma das maiores producoes automotivas do mundo. O que mais seria necessário para terem o direito de sediar um GP?
A Hungria recebe a Formula 1 desde os tempos do pacto de Varsóvia e tiveram apenas um representante até hoje. Quanto às castas, entre todos os indianos que conheci, a divisao de castas nao me pareceu nem um pouco pior do que encontramos em qualquer país terceiromundista, e muito menos cruel.
Pior do que os governos opressores (Seja ele os Estados Unidos ou o Camboja), sao os países supostamente “evoluidos” e que financiam Libéria, Libia, Bahrein, Yemen, assassinatos políticos na China. A meu ver Alemanha, Franca, Italia, Inglaterra, Russia, sao tao sujos quanto os governos de Costa do Marfim, Congo, Nigéria, Burma, Paquistao, pois sem o suporte pesado e o interesse dos países “moralistas” e suas corporacoes que transformam pessoas em uma celula de excel, muitos desses ditadores teriam caido a muito tempo. Olha quantos anos o Kadafi passou fazendo uma limpeza etnica na Libia até que virasse um “bad guy”. Nao há lugar no mundo com maior quantidade de filhos da puta por metro quadrado do que Monaco, cara. A formula 1 é um esporte, só isso.
3 de dezembro de 2014 at 23:05
Alem disso ainda tem a questão da liberdade! Liberdade é subjetivo, vou dar um exemplo: na Africa do Sul tinha-se muita liberdade… para o branco. Liberdade não é água pra dizer se tem ou não no copo.
No Brasil nao se tem liberdade pra andar na rua em qualquer horario ou para ter um objeto por exemplo. Nem nos protestos tem basta ver nas manifestações de 2013 muita gente foi presa, mas rapidamente saiam dada a ilegalidade das prisões (uma parte nao todos).
Usar a F1 como arma politica e tao ruim quanto fazer o que bernie faz que é usar a F1 como uma empresa pra encher seus bolsos de dindin, sendo a bagaça é um esporte.
E sim leio bastante o blog, so nao tenho o costume de comentar.