GP DE MÔNACO: No ano passado, havia declarado ódio a Mônaco. Esse ano, mudei ligeiramente de ideia e passei a admirar as imagens onboard dos pilotos esbarrando a 250km/h nos guard-rails que cercam os enormes hotéis, o cassino, a marina e tudo aquilo que caracteriza a nobreza mais caricata da Europa. Na verdade, Mônaco é igual a Pau, Macau, Bilbao, Birmingham ou qualquer outra cidade europeia tradicional que se dispunha a sediar corridas em seu centro, mas ganha relevância a mais por receber a Fórmula 1 desde sempre e por embolsar a grana de alguns milionários e lavadores de dinheiro importantes. No mais, a corrida costuma ser chata pra caramba. Melhora demais, no entanto, quando chove ou quando há um festival de acidentes. Porque é isso que o populacho gosta e quer: bagunça no terraço dos ricos.
QUINTA-FEIRA: Mônaco é tão idiossincrática que as primeiras atividades costumam acontecer na quinta-feira. Ouvi dizer, não sei se tese válida, que a sexta-feira era reservada para os ricaços desfilarem seus Lambos e Aston Martins (porque Ferrari e Porsche é coisa de neo-rico) pelas ruas de Montecarlo. Isso valia até alguns anos atrás. Hoje em dia, com GP2 e World Series by Renault compartilhando o mesmo paddock, é impossível comportar tudo em apenas três dias. E as sextas de pista livre viraram história. Amanhã, a primeira corrida da GP2. Os bacanas terão de dar espaço a moleques plebeus como Max Chilton e Rodolfo Gonzalez. E eu rio.
CAPACETE: Rubens Barrichello terá um capacete inédito para o GP de Mônaco. É este daqui. Foi sugestão do primogênito Eduardo, ao que parece. O resultado ficou bacana e o filho demonstrou ter bons predicados de um Sid Mosca, aquele que pintou a maioria dos capacetes dos brasileiros consagrados no automobilismo. No entanto, como sou chato e conservador, reclamo. Capacete é identidade. E a identidade, no geral, anda de mãos dadas com a simplicidade. Por isso que sempre gostei do capacete de Barrichello, simples, belo e bastante distinto. Ficar mudando, como ele vem fazendo nos últimos tempos, é trocar a identidade pela pura estética de momento. Por isso que não respeito essa geração atual, que picha seus capacetes com grafites, formas estilizadas e cores berrantes.
ASA MÓVEL: Sabe, uma das coisas que me fascina pra caramba no automobilismo é a sombra do perigo. Entendo o motivo pelo qual os pilotos dos anos 20 e 30 eram considerados heróis: corriam a velocidades altíssimas sem capacete, balaclava de nomex, cinto de segurança, santantônios, empresário, unhas feitas, cabelo penteado e ring-ding-ding. Corriam sem ganhar muito e morriam de alguma forma estúpida e carniceira se esborrachando em algum muro, poste ou grupo de espectadores por aí. Hoje em dia, nos dias do politicamente correto agressivo, gostar de algo que, ui, machuca é coisa de sociopata e fascista. Não ligo. Para mim, os pilotos se comportam como little fags ao reclamarem sobre o uso da asa móvel em Mônaco. Caramba, quem não quiser usar, que não use. E ninguém vai morrer por causa do seu uso. Aliás, o que há de absurdo em alguém morrer em uma corrida de carro? Piloto corre e deve ter noção de que, sim, pode morrer a qualquer hora.
INDY X MÔNACO: A Indy 500 é sempre realizada no último domingo de maio, todos sabem disso. Em termos de tradição, é também a corrida de monopostos mais importante do mundo. Creio que todo entusiasta do automobilismo deve ter um mínimo de respeito pela corrida. Por isso que não engulo muito esse negócio da Fórmula 1, que se considera o único evento esportivo relevante no planeta, querer realizar seu GP de Mônaco no mesmo fim de semana da corrida americana. O que custa adiar ou antecipar a corrida em uma semana? Será que o capricho de utilizar a corrida mais badalada da Fórmula 1 para tomar as atenções da Indy 500 vale mais do que qualquer coisa? Enfim, lamentável. De qualquer jeito, espero muito mais pelas 500 Milhas de Indianápolis. Mônaco, pelo contrário, é uma das etapas menos esperadas por mim. Pois é.
26 de maio de 2011 at 16:16
Puta merda, malditos monegascos com suas idiossincrasias, vou perder a corrida de sexta da GP2. E justamente em Mônaco.
26 de maio de 2011 at 19:49
Verde, achei muito bom seu texto ‘asa móvel’, bom de ler e rende u boas risadas – embora no fim das contas não possa concordar comn aceitar as fatalidades, não por peninha dos overpaid kids (como a eles se referia um diretor da goodyear uns vinte anos atrás), apenas porque, em qualquer tipo de corrida, uma morte é um abacaxi enorme pro evento, especialmente pra sede do evento em que ocorre a fatalidade.
quanto às datas coincidentes de Monaco e Indianápolis, é assim desde há muito tempo, com certeza desde os anos 60, talvez desde os 50 (não sei, teria que ir checar a história). não tem essa de um evento querer esvaziar o outro – pessoalmente não ligo pois os horários não batem mesmo, há um oceano de diferença entre os dois.
gostaria é de ver o schumacher tentando a Indy 500 ao invés dessa pobre aventura na F1 atual, isso sim.
notei que com a salada classificatória da GP2 hoje, amanhã o Bianchi vai largar logo à frente do Gutierrez. os fiscais de pista que se preparem na saint devote.
26 de maio de 2011 at 19:54
Na minha pesquisa, tem ano que bate e tem ano que não bate (2010 e 2005, se não me engano, foram os últimos em que os dias foram diferentes). E, na certa, a Indy 500 caga e anda para a Fórmula 1. O Bernie, por outro lado, nunca gostou muito desse enorme sucesso da corrida no oval. Do pequeno asquenaze, que chegou a criar a GP2 Asia unicamente para sufocar a A1GP, dá pra esperar de tudo.
26 de maio de 2011 at 20:12
bem, teu raciocínio faz sentido.
certamente o Bernie, se pudesse, mudava a data da Indy para o dia de Natal.
é que as coincidências de datas já aconteciam nos anos pré-bernie.
dessa da GP2 Asia nunca tinha me tocado…mas aquela A1GP, coisa esquisita, todos corriam sem patrocínio – bom, de todo modo esse mundo do dinheiro nas corridas é muito obscuro e distante.
28 de maio de 2011 at 13:39
Já pensou dá um AVC(seja lá o que signifique isso)no Bernie e um outro cara entra no lugar dele e bota um oval tipo Talladega,Daytona ou Indianapolis(mas a parte oval mesmo)no calendário do ano que vem da F1,ia ser tipo muito bacana,quem sabe desse jeito ia ter big ones e os americanos iam se interessar pela F1,achei ótima essa idéia,mas o Bernie do jeito que ele tá velho e ainda tá vivo,vai demorar muito para ele ter um AVC.
27 de maio de 2011 at 0:49
Se Bernie não gosta da corrida no oval, por inveja ou não, porque diabos o contrato com Indianapolis na F1 terminou?(sei que teve seus motivos, ainda mais depois do penultimo ano e da encrenca com a michelin, mas há um grupo IMENSO de fãs do circuito, que era um dos melhores dessa década)
Se ele fosse minimamente inteligente, deixaria o GP do principado pro próximo fim de semana e pronto.
E os fãs, como ficam? 4 horas sentados à TV pra ver as duas corridas