A morte de Roland Ratzenberger completa 16 anos exatamente hoje. O tempo, sempre implacável, voa. Amanhã, será o aniversário da morte de Ayrton Senna. Brasil e Áustria choraram naquele fatídico fim de semana. O Brasil, aliás, tinha motivos de sobra para isso: perdeu seu maior ídolo e quase perdeu também seu talento mais promissor até então, Rubens Barrichello, em um acidente nos treinos de sexta-feira. São dois países bastante acostumados com tragédias relacionadas aos seus pilotos, mas não são os únicos. Abaixo, uma mórbida lista com cinco países e suas perdas.
5- CANADÁ E SEUS TALENTOS PERDIDOS
O Canadá teve em Jacques Villeneuve um piloto de enorme sucesso internacional, além de Paul Tracy, Alex Tagliani, Patrick Carpentier e outros no âmbito norte-americano. Poderia, no entanto, ter tido mais pilotos de sucesso. Mais três, para ser bem exato: Bertrand Fabi, Stéphane Proulx e Greg Moore.
Bertrand Fabi (não, ele não era parente do Teo e do Corrado) era um dos pilotos mais promissores de seu período. Em 1985, ele ganhou com enorme facilidade os campeonatos europeu e inglês de Fórmula Ford 2000. Era um piloto cujo estilo agressivo lembrava muito o de Senna. Não por acaso, a West Surrey, mesma equipe do brasileiro, o contratou para a temporada de 1986 da Fórmula 3 inglesa. Infelizmente, semanas depois da contratação, Fabi sofreria um violento acidente em testes em Goodwood e faleceria no hospital.
Stéphane Proulx tem uma história ainda mais inusitada. Filho de uma bem-sucedida pilota local, Proulx ganhou o campeonato canadense de Fórmula Ford 2000 em 1987, foi preso por excesso de velocidade nos EUA no ano seguinte e assinou, dentro da cadeia, contrato de patrocínio com a Player’s para correr na Fórmula 3000 em 1989. A partir daí, só azares: problemas com seus carros na F3000, um narcisismo que ultrapassava sua dedicação às corridas e falta de dinheiro. Em 1992, graças à sua namorada francesa, contraiu AIDS. No ano seguinte, correndo na Fórmula Atlantic em Phoenix, foi atingido por uma roda na cabeça no melhor estilo Henry Surtees, ficou um tempo em coma e nunca conseguiu se recuperar. Somando as consequências do acidente com as complicações da AIDS, Stéphane acabou ficando muito enfraquecido e morreu em casa em Outubro de 1993.
Greg Moore dispensa apresentações. Um dos nerds mais brilhantes do automobilismo, Moore se destacava pela completa despretensão e simpatia fora da pista e pela enorme agressividade dentro dela. Ganhou a Indy Lights em 1995 com enorme facilidade e, na CART, se destacou como um dos melhores pilotos da categoria no final dos anos 90. Venceu corridas como em Jacarepaguá/1998, ao ter duelo feroz com Alex Zanardi, e em Homestead/1999, quando não tinha o melhor carro. Sua morte, em um tenebroso acidente na última etapa da CART em 1999, no circuito de Fontana, fez o automobilismo chorar.
4- ALEMANHA, 1985
A Alemanha teve seu annus horribilis em 1985. Em menos de um mês, dois de seus melhores pilotos faleciam em acidentes pavorosos em corridas de protótipos.
Manfred Winkelhock podia não ser o piloto dos sonhos de ninguém, mas era um cara trabalhador, modesto e bastante afável. Em 1985, ele dividia suas atenções entre as corridas de Fórmula 1 pela pequena RAM e o Mundial de Protótipos pela poderosa Kremer-Porsche. Em Agosto, Manfred foi ao Canadá fazer os 1000km de Mosport com um Porsche 962C. Em determinado momento, possivelmente com problemas de suspensão, seu carro se descontrolou na Curva 2 e Winkelhock bateu violentamente no muro. Com hemorragia cerebral e ferimentos por todo o corpo, Manfred morreu em um hospital naquele mesmo dia.
Apenas 19 dias depois, em 1 de Setembro, foi a vez do país perder Stefan Bellof. Considerado um dos maiores talentos perdidos de todos os tempos, Bellof também fez dupla jornada em 1985: corridas pela Tyrrell na Fórmula 1 e pela Rothmans-Porsche no Mundial de Protótipos. Nos 1000km de Spa-Francorchamps, em briga quase que fraticida contra seu rival Jacky Ickx, Bellof se tocou com o belga em plena Eau Rouge. Seu Porsche 956B seguiu reto e bateu violentamente na barreira de proteção. Completamente destruído, o carro começou a pegar fogo. Stefan morreu no ato. De olhos abertos, diz a lenda.
O sonho de ter dois pilotos competitivos na Fórmula 1 se esvaía em 19 dias. Somente em 1991 que um outro alemão pôde trazer de volta a esperança teutônica de ter um piloto vencendo na categoria máxima do automobilismo.
3- BRASIL E SEUS ACIDENTES
Pouca gente repara, mas o Brasil é um verdadeiro ímã de acidentes e tragédias em geral para seus pilotos. Podemos dizer que os seis maiores pilotos da história do país na Fórmula 1, Emerson, Piquet, Senna, Pace, Barrichello e Massa têm alguma história bastante negativa neste sentido. O povo só se lembra da morte do tricampeão Ayrton Senna em 1994, mas o automobilismo registra muitas outras histórias.
A primeira tragédia internacional envolvendo um piloto brasileiro ocorreu com Christian Heinz, um dos melhores pilotos do país no começo dos anos 60. Nas 24 Horas de Le Mans de 1963, Heinz sofreu um violentíssimo acidente com seu Alpine-Renault na Hunaudières e faleceu na hora. Catorze anos mais tarde, José Carlos Pace sofre um acidente de monomotor na Serra da Cantareira e não tem qualquer chance de sobrevivência.
Com o surgimento de inúmeros pilotos brasileiros de sucesso no exterior, os acidentes se tornaram mais frequentes. Nelson Piquet quase perdeu as pernas em um acidente nos treinos para as 500 Milhas de Indianápolis em 1992. Na mesma Indy, Emerson Fittipaldi abandona a carreira após um violento acidente nas 500 Milhas de Michigan em 1996. Um ano antes, o Brasil registrava outra perda dolorosa: Marco Campos, um dos pilotos mais promissores da história do país, sofreu o único acidente fatal da história da Fórmula 3000 Internacional no circuito de Magnycours, em 1995. E no fim de semana da morte de Senna, Rubens Barrichello sofreu um violento acidente nos treinos de sexta-feira e deu muita sorte de sair apenas com um braço e um nariz machucados.
Na atual década, Felipe Massa e Luciano Burti tiveram sérios ferimentos na cabeça em acidentes na Fórmula 1. Burti, ao bater de frente nos pneus do perigoso circuito de Spa-Francorchamps em 2001. Massa, ao ser atingido por uma mola solta do carro de Barrichello na Hungria em 2009. Nos Estados Unidos, Cristiano da Matta ficou entre a vida e a morte por alguns meses após atropelar um cervo em testes da ChampCar no circuito de Elkhart Lake em 2006. E outros pilotos já tiveram suas carreiras interrompidas momentaneamente por acidentes: Airton Daré, Christian Fittipaldi, Felipe Giaffone, Vitor Meira, Gil de Ferran e por aí vai.
2- SUÉCIA, 1978
O ano de 1978 marcou uma nova fase da Suécia na Fórmula 1. Para pior. Em dois meses, o país escandinavo perdia seus dois pilotos de ponta na Fórmula 1. Um vencido por uma estúpida embolia gordurosa. O outro, por um cancro testicular.
Ronnie Peterson, um dos mais espetaculares pilotos da história da categoria, corria em 1978 com o objetivo de ajudar Mario Andretti, seu companheiro de equipe na Lotus, a ser campeão. Em Monza, já corriam fortes boatos que ele seria piloto da McLaren no ano seguinte. A corrida, porém, colocou um ponto final na história: tocado por James Hunt na largada, Peterson guinou em direção ao guard-rail com violência, causando um enorme incêndio e ferimentos profundos nas pernas. Ronnie, no entanto, não corria risco de vida.
Levado para o hospital, Peterson passou por cirurgia naquele mesmo dia. Tudo indicava um período longo de recuperação a partir daí, mas à noite seu estado de saúde piorou drasticamente. Peterson entrou em coma e, pouco depois, veio a falecer. O diagnóstico foi uma embolia causada pela entrada de gordura em seu sistema sanguíneo que acabou pro causar insuficiência respiratória.
No seu velório, estava um debilitado e tristonho Gunnar Nilsson. Diagnosticado com cancro testicular em estágio avançado, Nilsson abandonou momentaneamente a Fórmula 1 e um contrato para correr com a Arrows naquele ano de 1978 para um prolongado tratamento no Hospital Chaning Cross, em Londres. Porém, a situação de Nilsson só piorava e apenas 39 dias após a morte de Peterson, era a vez de Nilsson falecer.
Com a morte de seu astro e de seu piloto mais promissor, o interesse na Fórmula 1 por parte da Suécia se reduziu consideravelmente. O GP da Suécia, que havia deixado o calendário um ano antes, nunca mais foi sequer considerado. Apesar de terem tido pilotos como Eje Elgh, Stefan Johansson, Tomas Kaiser, Thomas Danielsson, Kenny Brack e Bjorn Wirdheim, apenas Johansson chegou à Fórmula 1 e nenhum deles possuía o carisma dos dois falecidos.
1- ÁUSTRIA E SEUS ACIDENTES
Nada, porém, supera o carma destinado à Áustria. Chega a ser algo inexplicável. Não basta haver uma tragédia, ela deve ter também os piores requintes de crueldade possíveis.
A Fórmula 1 contabiliza três mortes austríacas e mais um monte de acidentes. Jochen Rindt morreu nos treinos do GP da Itália de 1970 quando seu carro bateu no guard-rail anterior à Parabólica e o piloto foi cortado pelo cinto de segurança. Em 1975, Helmut Koinigg foi decapitado pelas lâminas do guard-rail do circuito de Watkins Glen na corrida de 1974. Dezenove anos depois, a morte de Roland Ratzenberger no circuito de Imola chocou a muitos, especialmente por ter sido mostrada ao vivo na TV, com direito a manchas de sangue no capacete e massagem cardíaca. Fora da Fórmula 1, Jo Gartner morreu no final da reta Mulsanne nas 24 Horas de Le Mans de 1986. O país contabiliza também a última morte da história da Fórmula 2 em sua versão antiga, com Markus Höttinger sendo atingido por um pneu no velocíssimo circuito de Hockenheim na corrida de 1980.
Mas não foi só isso. Niki Lauda quase morreu devido às queimaduras severas e à intoxicação por gases tóxicos após o acidente com sua Ferrari no circuito de Nordschleife em 1976. Treze anos depois, Gerhard Berger também viu a morte de perto, quando coincidentemente sofreu um acidente em Imola com uma Ferrari que veio a se incendiar. Em 1994, duas semanas após o pandemônio de Ímola, Karl Wendlinger sofreu um violentíssimo acidente nos treinos do GP de Mônaco, resultando em três semanas em coma profundo.
Mesmo pilotos mais recentes do país podem se dizer afetados por acidentes. Patrick Friesacher quase perdeu uma das pernas em um acidente quando ainda era piloto de kart. Alguns anos atrás, ele fraturou algumas vértebras testando o carro da A1GP. E os próprios Christian Klien e Alexander Wurz tiveram visível redução de performance após acidentes feios. O primeiro, em Melbourne/2006. O segundo, em dois acidentes consecutivos, em Mônaco e Montreal no ano de 1998. Talvez seja o medo da repetição das tragédias que ocorreram com seus compatriotas.
30 de abril de 2010 at 16:16
Vc esqueceu de Rodrigo Sperafico. Que morreu na categoria de base da Stock Car em 2007, em Interlagos. E que a CBA abafou.
PS: O texto tem muitos erros de português.
30 de abril de 2010 at 16:30
Textos grandes costumam vir com erros mesmo. Ainda mais no caso de alguém que utiliza o notepad para escrevê-los. De qualquer jeito, obrigado pelo toque. :)
O acidente do Rafael Sperafico (o Rodrigo vai bem, obrigado) ocorreu em âmbito nacional. O post fala sobre pilotos famosos internacionalmente.
30 de abril de 2010 at 17:01
Muito bom, Verde.
Gosto dos seus textos porque, principalmente, não falam de lugar-comum, da temporada atual, daquilo que se lê em qualquer lugar por aí.
Tem o Von Trips também, que contribuiu para a fila alemã na categoria durar até o Schumacher e morreu quando seria campeão. E o Mass, que, se não era uma Brastemp, cumpria dignamente seu papel até abandonar a categoria depois dos incidentes de 82.
Mas entendo que, nenhum deles tendo acontecido em 85, não se encaixavam na proposta.
Sobre os suecos, Brack, que era rapidíssimo, espatifou-se num oval e nunca mais o vi. E o Danielsson não era aquele que, no seu texto sobre a temporada de 88 da F-3000 bateu, bateu e bateu por ter uma visão em 2D?
Tirando essas dúvidas minhas, parabéns por um ótimo texto e blog. Espero um post seu sobre a F-3000 pra matar minha curiosidade sobre algumas figurinhas carimbadas de lá que eu nunca mais vi e você, com certeza, deve saber onde foram parar.
30 de abril de 2010 at 17:07
O Danielsson é esse mesmo. E o Brack virou músico, de vez em quando toca por aí em eventos-suporte de corridas.
Sobre a F3000, vou escrever sempre que encontrar algum pretexto pra fazer isso. Quais figurinhas, no caso?
30 de abril de 2010 at 17:19
David Saelens, Bas (Buzz?) Leinders, Sohei Ayari (de quem eu lembro só porque gostava do nome e, segundo o Lito Cavalcanti, era uma vaca brava) e o mito, Viktor Maslov, o precursor do Tahinci.
Darren Manning eu cheguei a ver bravemente na Indy, mas depois sumiu.
O Minassian e o Sarrazin eu vi há pouco tempo correndo de turismo, só não lembro a categoria.
Chegava atrasado nas aulas de sábado pra ver a F-3000 lá pelos idos de 2000, 2001…adorava a categoria e era o único que eu conhecia que sabia de sua existência!
30 de abril de 2010 at 17:27
O Soheil Ayari era descendente de iranianos. Dessa vez, eu concordo com o Lito: um vaca-brava que literalmente cumpria a fama de “win or wall”. Mas merecia ter ido para a F1. Chegou a testar um Williams.
Bas Leinders é dono de equipe.
David Saelens tá por aí. Nunca soube pronunciar o nome dele.
Viktor Maslov, hahahahaha!
Darren Manning estava na Indy, mas ficou desempregado.
Nicolas Minassian deve estar por aí arranjando encrenca.
Sarrazin tá andando na LMS, acho.
Tinha outros: Kristian Kolby, Jeffrey van Hooydonk, Jamie Davies, Jason Watt e por aí vai.
30 de abril de 2010 at 17:03
Carlos
Já Tem
Verde
E o tal do WORD? Se vc é socialista, pode usar o OpenOffice.
30 de abril de 2010 at 17:05
Word demora pra carregar e não quero ter trabalho para usar o OpenOffice. Enfim…
30 de abril de 2010 at 17:50
É impressão minha ou você tá triste pela morte do Ayrton Senna?
O Brasil perdeu seu maior ídolo?
Pra mim meu ídolo é o Silvio Santos e o Chaves.
E tenho dito!
30 de abril de 2010 at 17:53
Claro que nenhuma morte é legal. Mas ninguém merece ver o Galvão Burreno falar do Ayrton Senna toda vez que toca aquela música que é mais tocada que o hino nacional.
É de se revoltar.
O Ayrton foi um bom piloto.
Mas eu amo é o Massa!!! Além dele ser São Paulino!
A vida do Ayrton foi cheia de podridão, começando pelo seu envolvimento com a Xuxa.
E com certeza rolou muita droga.
30 de abril de 2010 at 18:07
UAHUAUHAUHAUHAHUAHUAHU
A droga era a Xuxa. :P
30 de abril de 2010 at 22:03
A Austria é tensa a respeito desse tema rsrs
2 de agosto de 2011 at 3:37
Atrasado há mais de um ano, rs…
Verde, você pôs o Canadá na lista e não falou do grande Gilles Villeneuve, mesmo com a referência ao filho dele. Que deslize, hein?
Mas, apesar de alguns erros, o texto está muito bom. Pena que contenha um tipo de nostalgia que eu não goste muito de recordar…
17 de agosto de 2011 at 12:33
É amigo, segundo seu texto o universo inteiro conspirou para que o Senna se desse bem, nenhum mérito é dele né. O carro fazia tudo só e o universo
empurrava o carro com o dedo para que ele fosse mais rápido. Sem falar
que você fez uma imagem do Piquet como se ele fosse um pobre coitado
que não tinha onde cair morto e sobrevivia de sanduíches no início. Palhaço.
17 de agosto de 2011 at 12:50
É, amigo. Você precisa de Maracugina e de aulas de leitura.