VERDE: Entre os pilotos, com quem você fez amizade?
ROBERTO: Amizade, amizade…
VERDE: A amizade com o Piquet é a mais conhecida, né?
ROBERTO: O Piquet não é amigo, é irmão. Muita gente acha que ele é meu amigo, mas ele é meu irmão. É diferente. Relacionamento de irmão. Mas cara, eu não sei se eu tenho amigos em corridas de automóveis, não.
VERDE: Mas com quem você tinha uma boa relação?
ROBERTO: Eram colegas, só. Eu gostava muito de trabalhar com o (Mauricio) Gugelmin… Deixa eu ver, tenho de pensar aqui, senão eu vou esquecer.
VERDE: Eu vou perguntar sobre os pilotos que trabalharam com você diretamente. Você falou bem do Pierre-Henri Raphanel, né?
ROBERTO: É, eu gostava de trabalhar com ele.
VERDE: O Enrico Bertaggia.
ROBERTO: O Bertaggia não cheirava nem fedia, era gente fina.
VERDE: O Langes. Claudio Langes.
ROBERTO: O Langes também era um cara gente fina.
VERDE: Perry McCarthy.
ROBERTO: Isso aí era um coitado.
VERDE: Em que sentido?
ROBERTO: Um coitado. Ele achava que era o fodão. Chegou ao cúmulo de… Depois que eu ganhei a corrida de Silverstone na Fórmula 3000 (em 1988), o Gary tava tomando uma cerveja lá no bar do autódromo. Ele virou pro Gary e falou “pô, Gary, por que você não me põe no lugar desse cara aí que tá no seu carro ganhando corrida? Eu sou muito melhor que ele”.
VERDE: Hahahaha, sério? Que droga.
ROBERTO: É, o McCarthy é um coitado que sonhava alto e que falava muito.
VERDE: Olha só, tanto que escreveu um livro, né? Se achou no direito de ter um livro… Pedro Paulo Diniz?
ROBERTO: Gente finíssima, família fantástica, que me ajudou a ficar na Forti-Corse. Eu devo muito a ele e ao pai dele. Se não fosse por eles, tinham me tirado da Forti-Corse no meio do ano. Depois que me usaram, teriam me dispensado.
VERDE: Ah, então foi o Abílio e o Pedro Paulo que te salvaram?
ROBERTO: O Abílio e o Pedro Paulo que me seguraram na equipe porque deram valor à ajuda que eu dei pra eles na equipe.
VERDE: Muito legal… Eric Bernard?
ROBERTO: Eu não cheguei a ter muito contato com ele, não.
VERDE: Jimmy Vasser?
ROBERTO: Ah, gente finíssima. Eu me dei muito bem com ele. Eu aprendi muito sobre corrida em oval com ele. E apresentei resultados muito mais expressivos do que ele na equipe (Patrick, em 2001).
VERDE: Muito legal. Adrian Fernandez?
ROBERTO: Muito gente fina, também. Nós éramos ótimos parceiros (na Patrick, em 2000), que nem na época do Gugelmin.
VERDE: Bacana. Você foi companheiro do Mario Dominguez também, né?
ROBERTO: Eu o ajudei a se achar na equipe (Herdez, em 2003).
VERDE: Ele não era grandes coisas como piloto, né?
ROBERTO: Ele era um piloto bom, mas ninguém sabia que ele era bom até eu mostrar à equipe que o problema não era a equipe, mas o carro.
VERDE: Interessante… Você foi companheiro do Michael Andretti também, né? (na Newman-Haas, em 1997, substituindo Christian Fittipaldi)
ROBERTO: Michael Andretti, muito gente fina, também. Eu achava que ia aprender muito com ele, mas ele acabou aprendendo muito comigo.
VERDE: Interessante… Das equipes onde você trabalhou, qual que foi a melhor?
ROBERTO: Cara, não tem uma melhor. Cada equipe teve a sua situação.
VERDE: Mas a que você mais gostou.
ROBERTO: Nos Estados Unidos, a equipe que me deu a primeira oportunidade de andar bem foi a Newman-Haas. Tanto o Carl Haas como o Paul Newman eram pessoas que amavam o automobilismo. E todos os mecânicos dentro daquela equipe trabalhavam em conjunto.
VERDE: Então era uma equipe fantástica, uma família…
ROBERTO: É. A Pacwest também foi muito boa para mim, a Penske foi legal… Só tenho coisas boas das equipes com quem eu trabalhei aqui.
VERDE: Até da Payton-Coyne?
ROBERTO: Da Payton, também. Você vê, eles me deixaram sem correr, mas… Se eles não tivessem me deixado sem correr após a primeira corrida de 1997, eu não estaria em uma boa posição para pegar o lugar do Christian (Fittipaldi) na corrida seguinte.
VERDE: Mas eles chegaram a te demitir depois da primeira corrida?
ROBERTO: Eles fizeram malandragem comigo. Eles pegaram o meu patrocínio e depois assinaram com outro piloto.
VERDE: Que beleza…
ROBERTO: É. Mas foi bom de qualquer jeito. O único cara que entra numa lista negra aí é o Dale Coyne, que me deve cem mil dólares até hoje.
VERDE: Caramba! O mesmo da Indy agora?
ROBERTO: É.
VERDE: Mas você deve ter dinheiro para receber de outras equipes também, né?
ROBERTO: Eu tenho um cheque da Eurobrun… Eu tenho uns três cheques da Europa que nunca foram cobrados.
VERDE: Você nem pretende, né?
ROBERTO: Nem tem o porquê.
VERDE: Mas também já devem ter prescrito, né? Sei lá. Mas a última parte que me interessa bastante nessa entrevista é sobre suas últimas corridas de monopostos nos Estados Unidos. Em 2007, você fez a Indy 500, né?
ROBERTO: Foi.
VERDE: E você estava inscrito em uma equipe, só que ela não deu as caras. O que aconteceu?
ROBERTO: Não, eu não fui inscrito. Tinha uma equipe que sonhava em correr as 500 Milhas…
VERDE: Você lembra o nome dela?
ROBERTO: Não. E eles tentaram fazer o seguinte: garantir um piloto, garantir um contrato de motor e garantir um contrato de pneus. Quando o Tony George precisasse de um carro para aumentar o número de inscritos na última hora, eles estariam prontos para receber a grana e fazer o carro andar.
(Na lista de inscritos da Indy 500 de 2007, havia uma equipe com o curioso nome de Cabbie Motorsports. Poderia ser ela…)
Isso era só um sonho, na verdade. E eu fui lá pensando que ia correr. Quando eu cheguei lá, na segunda ou terça-feira da última semana de classificação, não tinha equipe. Aí eu resolvi ficar para o treino de quarta-feira. Uma equipe queria me pegar para treinar na quinta-feira, mas acabou que não precisou. Aí o cara bateu e me contrataram para fazer sábado e domingo, o último final de semana da classificação. Eu consegui, em uma hora e meia de treino, classificar um carro que o piloto anterior não tinha conseguido fazer andar bem e chegou até a bater.
VERDE: Stéphane Gregoire.
(Moreno disputou as 500 Milhas de 2007 pela equipe Chastain em substituição ao piloto francês)
ROBERTO: É, e eu consegui fazer aquele carro, em uma hora e meia, ficar rápido e classificar. Foi o melhor Panoz do grid.
VERDE: Ah, não era Dallara, era Panoz?
ROBERTO: Era um Panoz. Tinha três Panoz. Eu fiz o tempo mais rápido dos três. Em uma hora e meia de treino só, cara. E eu tinha andado por lá pela última vez fazia nove anos.
VERDE: É, acho que foi.
ROBERTO: Então, cara, são fatos desses que me dão os prazeres que são como ganhar um campeonato. Classificar aquele carro em uma hora e meia de treino foi que nem ganhar as 500 Milhas de Indianápolis para mim, cara.
VERDE: Entendi.
ROBERTO: Ensinei o engenheiro, em poucas voltas, a acertar o carro.
VERDE: O engenheiro nem sabia mexer com o carro direito, então?
ROBERTO: O carro era tão ruim que o cara bateu, né?
VERDE: Mas bateu porque o carro era ruim, não por barbeiragem, então?
ROBERTO: Eu dei três voltas no carro, parei nos boxes e falei “ah, agora eu sei porque ele bateu”.
VERDE: E por fora a gente julga e fala “pô, o cara bateu, é ruim”. Cruel, o negócio.
ROBERTO: Aí o engenheiro não falava mais comigo. Eu tive de ir lá conversar com ele, pedir desculpas, fazer ele buscar o acerto de outra equipe do ano anterior para a gente começar. Aí começamos com aquele acerto e eu falei “ah, agora, dá para melhorar o carro”. Aí melhoramos o carro, arrumamos amortecedor, arrumamos aquilo e tal e o carro ficou o mais rápido dos Panoz.
VERDE: Que legal, cara. Mas só dava para fazer aquela corrida lá, né?
ROBERTO: O carro era só de classificação. Não era nem de corrida.
VERDE: Então, você não estava nem esperando chegar ao fim.
ROBERTO: Não, não, era impossível. Classificar já foi vencer aquela corrida.
VERDE: No ano seguinte, 2008, você não chegou a ir para Indianápolis para tentar alguma coisa?
ROBERTO: Mas eu não consegui, não.
VERDE: Foi o último ano que você fez corrida de monopostos, né?
ROBERTO: Foi, eu fiz a última corrida da ChampCar em Long Beach.
VERDE: Como é que foi? Clima de festa, né?
ROBERTO: Eu andei muito bem, fui o mais rápido numa sessão no meio da corrida, mas o carro quebrou a transmissão do motor para o câmbio. O carro que eu usei era um carro de exibição.
VERDE: Então te deram um teco-teco e mesmo assim você conseguiu tirar alguma coisa.
ROBERTO: Era um carro bom, mas as peças eram usadas. Muito usadas.
VERDE: Você tem algum plano para voltar a correr?
ROBERTO: Cara, eu não sei. Na minha cabeça, eu nunca parei de correr, para ser sincero. Eu não tive uma oportunidade que valha a pena.
VERDE: Nunca pensou em Stock, ALMS, GrandAm?
ROBERTO: Eu, no Brasil, sou um peixe fora d’água. Eu não tenho conhecimento direito para conseguir patrocínio no Brasil e a você precisa levantar patrocínio para correr na Stock Car. É muito difícil quebrar esta barreira lá. E você está concorrendo com pilotos jovens de excelente nível. Então, eu não consegui fazer essa entrada. Fiz só uma corrida para ver como é que era, no Rio de Janeiro. E embora eu gostaria muito de correr profissionalmente no Brasil, não consegui fazer isso acontecer. O mais perto que eu cheguei foi fazer umas corridas de GT3 no Brasil, na época que começou a categoria, por causa da ajuda do Walter Derani. Gostaria de voltar a correr no Brasil esse ano, mas acho muito difícil que isso aconteça. E eu nunca parei de correr na minha cabeça, cara. Eu só não tenho uma oportunidade de correr, ainda.
VERDE: Mesmo nos monopostos, se uma equipe na Indy precisar de você, iria numa boa?
ROBERTO: Cara, hoje na Indy, seria muito difícil eu me preparar rapidamente para ficar competitivo. Mas numa categoria como a GT3, GT2 ou GT1, certamente eu iria.
(Fim)
28 de fevereiro de 2012 at 21:45
muito boa a entrevista, esta de parabéns!
28 de fevereiro de 2012 at 23:45
Cara parabéns pela entrevista, ja era fã do ROberto agora minha admiração aumentou muito.
Valeu mesmo
29 de fevereiro de 2012 at 4:28
Verde,
MEUS PARABÉMS!!!!
Li toda a epopeía do Moreno, que você escreveu, toda a entrevista e achei um trabalho excelente…. altíssimo nível, tanto de detalhes, como de qualidade de informação e esclarecimento da vida de um piloto profissional…
Foi um prazer poder ler todo esse trabalho aqui…
Assim como o Filipe disse aí em cima, minha admiração pelo Roberto Moreno foi ampliada… e o mais legal é que, agora a minha visão sobre a carreira dele mudou, mas a admiração não!
E, quanto à participação do Moreno nessa sua empreitada, é de tirar o chapéu pelas abertura que ele mostrou, disponibilidade, felicidade e prazer por ter conseguido o que conseguiu em sua história de vida…. muito legal…
De novo, parabéns Verde!!
um abraço,
Renato
29 de fevereiro de 2012 at 9:41
Que pena que o Moreno não tem pretensão de correr a Stock Car. Certamente teria a minha torcida. Gosto muito da história do Moreno no automobilismo.
29 de fevereiro de 2012 at 18:16
Essa série com o Moreno é ótima! Sempre fui fã dele, desde os tempos de F-Indy nos anos 80, e agora estou ansioso para ler a biografia que vem por aí.
29 de fevereiro de 2012 at 20:32
Sensacional a entrevista cara, parabéns!
1 de março de 2012 at 0:33
parabens
2 de março de 2012 at 17:22
Sensacional!! Já estou esperando pelo livro. Muito legal quebrar o estigma de coitado e ampliar sua estirpe de vencedor. Como fã encontrei com ele em Jacarepaguá numa etapa da Stock car, no viaduto de acesso aos boxes e o meu troféu é uma foto a seu lado. Parabéns pela iniciativa, quem sabe outra série desta com outros pilotos, brasileiros ou gringos. Um abraço.
21 de abril de 2012 at 0:51
Grande entrevista, Verde. Por isso eu digo, um dia o meu blog será tão bom quanto o Leandro Verde.
21 de abril de 2012 at 0:55
Quero dizer, um dia o meu blog será tão bom quanto o DO Leandro Verde.
26 de junho de 2019 at 20:47
Ai verde ja tem 7 anos dessa entrevista já, ta na hora de vc fazer um post ai atualizado sobre a carreira do Moreno dessa entrevista até hoje desse guerrilheiro das pistas.