O que me traz de volta a esse sítio? A Turma da Mônica.
Turma da quem? Explico.
Uma das minhas grandes diversões de infância era folhear por horas a fios os gibis da gordinha de dentes avantajados, do moleque de cabelos espetados e dicção errática, do garotinho pobre que nunca gostou de tomar banho, da menina que passa o dia engolindo guloseimas e do caipirinha simpático de Vila Abobrinha. A Turma da Mônica era garantia de aventuras, risadas, emoções e pura diversão de criança.
Mais do que isso, os personagens criados por Mauricio de Sousa definiram vários dos meus valores. Foi graças a eles que aprendi que posso ficar bilionário jogando moedas em poços dos desejos e que não preciso me preocupar com perigos, pois o Anjinho estará lá pronto para me salvar de penhascos e coelhadas. Aprendi também que matar, roubar e mandar tomar no rabo não é legal.
OK, mas por que isso?
Recentemente, li alguns artigos sobre a tal “evolução” das histórias da Turma da Mônica. Evolução com aspas, é lógico. Já adulto, não sou mais um consumidor das revistinhas. Porém, eventualmente, corro os olhos em uma ou outra história do novo milênio. O que encontro é algo deprimente.
Mônica parou de distribuir coelhadas a torto e direito. Cebolinha deixou de pichar ofensas porque pichar é crime e ofender causa transtornos psicológicos futuros. Cascão lava as mãos para comer. Nhô Lau não utiliza mais trabucos para espantar crianças indesejadas de seu pomar. Nico Demo parou de cometer aquelas maldades involuntárias. As características mais marcantes das crianças do Bairro do Limoeiro perderam força ou simplesmente desapareceram. O que sobrou? Uma molecadinha chatinha, apagada, insossa, desinteressante. Como são, aliás, as crianças dos novos tempos.
As histórias novas são dispensáveis e previsíveis. Os roteiros são carregados de humor boboca nível Comedy Central, moralismo barato e politicamente correto. As feições dos personagens ficaram exageradas, forçadas, antinaturais. Os personagens gritam, esperneiam, dão escândalo, abusam das gírias modernosas, fazem caras e bocas e, ao mesmo tempo, são incapazes de protagonizar uma única história realmente memorável, do nível de “Uma Estrelinha Chamada Mariana”. Tudo isso para agradar a tal geração Z, aquela mesma que “nunca viu o Brasil ser campeão”.
Apesar de tantos gimmicks, as próprias crianças não se interessam por essa Turma da Mônica pós-moderna. Elas, como bons pré-pré-adolescentes que dominam a arte de mandar mensagens no Whatsapp antes mesmo de sequer saber escrever corretamente as tais mensagens, preferem gastar seu rico dinheirinho comprando os exemplares da Turma da Mônica Jovem, o carro-chefe do estúdio de Mauricio de Sousa já há algum tempo. Para o garotinho de oito anos de idade, é mais negócio ver um Cebolinha com voz grossa e pentelhos no saco cuja maior preocupação é a de levar a Mônica boazuda para a cama.
É mais um dos muitos sinais dos tempos. Tempos estranhos.
Vamos falar um pouco de Fórmula 1. Nesses últimos tempos, o assunto que mais tem corrido à boca de jornalistas, pilotos, engenheiros, mecânicos, fãs e fofoqueiros não é a suspensão assim ou o motor assado. Sim, é verdade que os propulsores turbinados ainda andam dando muitas dores de cabeça a gauleses e italianos e a tal da suspensão FRIC foi compulsoriamente retirada por tutti quanti, mas não é esse o incômodo maior de todos. O que realmente ameaça a Fórmula 1 é a sua total falta de rumo perante um mundo que caminha rumo ao politicamente chato.
Casar ou comprar uma bicicleta? O certame de Bernie optou pela bicicleta. Para sobreviver aos tempos, a F-1 andou mexendo seus pauzinhos com a intenção de se tornar ecofriendly, market-friendly e o demônio amigável. Isso vem lá de trás.
Motores menores são mais adequados para carros cada vez menores. Afinal de contas, downsizing é tudo. Correr na chuva? Não dá certo. Vai que alguém morre ao som do trovão e à luz do raio? O argumento da segurança também se encaixa para as áreas de escape intermináveis, as punições aplicadas a torto e direito, o uso arbitrário do safety-car e das bandeiras vermelhas, a proibição tácita às curvas velozes e desafiadoras e a redução da velocidade. Se o negócio ficar muito chato, apelemos para asas móveis, lastros e gambiarras do gênero.
A opção inicial foi por uma Fórmula 1 bonitinha, segura, gourmet, limpinha, com cheiro de produto de limpeza. Um esporte que proporciona experiências inesquecíveis aos poucos afortunados que, por conta do convite do amigo do amigo do amigo, descolaram um tíquete do Paddock Club ou aos muitos que aceitam pagar uma fortuna para assistir às corridas em pay-per-view lá na Europa. Um esporte que não mata e nem machuca. E não polui. E também não impressiona.
Você pode até achar esses dois parágrafos logo acima engraçados, uma vez que o GP da Hungria representou um simpático retorno aos bons tempos: pista molhada, disputas sem a intervenção feroz dos comissários de pista, acidentes e certo espírito de liberdade que há muito faltava nas corridas de Fórmula 1. Essa última etapa é a prova final de que afrouxar a gravata só um pouquinho, às vezes, pode ser a solução mais rápida e eficaz. Ela também provou que a categoria ainda não achou seu caminho. Se depender de suas atuais lideranças, isso ainda vai demorar um pouco.
A categoria comprou a bicicleta porque julgava comercialmente e politicamente prudente, mas pensa a toda hora se não era melhor ter casado. Uma prova como a de Hungaroring só serve para embaralhar a cabeça daqueles envolvidos com o esporte. Complicado é que, por mais que a simplificação pareça ser o mais seguro dos caminhos para a recuperação da Fórmula 1, as opiniões ainda destoam muito.
Bernie Ecclestone é um daqueles que diz que a Fórmula 1 “não deveria ter as regras estúpidas e necessárias que foram implantadas ao longo dos anos”. Não sejam ingênuos: ele sabe mais do que qualquer um aqui quais são os reais problemas de sua categoria e até tem uma ideia razoável sobre como resolvê-los. O problema é que ele simplesmente se recusa a tomar o melhor caminho porque isso é muito caro. Ou, pelo menos, pouco rentável.
Desde que passou a sediar corridas lá nos cafundós da Ásia, Ecclestone vem seguindo uma política de marketing claríssima: ao invés de gastar uma nota preta para fazer um esporte melhor aos empobrecidos fãs puristas da Europa, é melhor entregar a Fórmula 1 a uma meia dúzia de xeiques e políticos aventureiros que injetam fortunas públicas em seus cofres e preparam eventos de primeira qualidade. Muito mais compensador do que investir em um campeonato agradável para os chatos dos ingleses é abrir espaço para um GP do Azerbaijão, país que nada em dinheiro e não tem espectadores tão exigentes.
Só que Bernie também não é assim tão irresponsável a ponto de deixar a F-1 naufragar na mais profunda chatice reluzente a ouro. Para evitar que as corridas se tornem procissões germânicas, ele sugere algumas ideias imbecis em sua essência, mas relativamente baratas e muito eficientes no curto prazo. É nesse contexto que surgem as medalhas, os atalhos e os irrigadores de asfalto. O fã londrino vai achar uma merda? Que se foda. O que importa é que o inocente lá do tal do Azerbaijão, que nunca viu sequer uma corrida de Ladas na vida, vai bater palmas para tanta emoção e exuberância. É como se Ecclestone fizesse a comida mais sem-graça do mundo e depois lotasse o prato de glutamato monossódico para dar um jeito ao paladar mais desavisado.
Charlie Whiting, outro dos homens fortes da Fórmula 1 atualmente, parece pensar ligeiramente diferente. Ao contrário de Ecclestone, o diretor de provas da categoria não acredita na simplificação das muitas regras vigentes hoje em dia. Recentemente, em entrevista ao jornalista James Allen, Whiting afirmou que “não tem como voltar a tempos ‘mais simples’, pois a Fórmula 1 deve representar aquilo que há de mais avançado na tecnologia automobilística”.
Ele não está totalmente errado, mas sua posição legalista vai de encontro a alguns dos maiores pecados da categoria atualmente, como a absoluta falta de liberdade técnica e a rigidez total no julgamento de determinadas situações. Se a Fórmula 1 deixou de ser um esporte vanguardista e divertido, todos podemos depositar na conta da mentalidade de gente como Charlie Whiting.
E aí chegamos a um dos pontos principais do problema. Se Ecclestone quer uma Fórmula 1 e Charlie Whiting quer outra, ambas viciadas e cheias de erros, onde é que o certame vai parar? Certamente, a um limbo lotado de gente insatisfeita.
A F-1 e o automobilismo como um todo estão totalmente sem rumo nessa nova fase da humanidade. O mundo e as relações humanas mudaram por completo com a globalização e a internet. As pessoas estão mais apressadas e ansiosas, menos reflexivas e introspectivas, mais dadas a seguir tendências e manadas do que sua própria individualidade, menos apegadas a valores sólidos, mais cínicas e mentirosas com si próprias. Perdemos a inteligência real e a verdadeira humanidade, aquela que admite fraquezas e vícios. Construímos uma distopia de Aldous Huxley em poucas décadas.
Na prática, isso significa que, em nome de conceitos vagos como “sustentabilidade” e “cidadania”, fazemos coisas que sequer respeitam um mínimo de coerência lógica. Sempre há, por exemplo, o imbecil que acha que está ajudando as sequoias e as capivaras quando anda com carros elétricos ou consome produtos ditos “verdes”. Se fosse minimamente esperto, concluiria que a melhor saída é a simples redução do consumo, pois é este que não só gera os dejetos como também estimula a própria produção industrial poluidora. Ao invés disso, continua consumindo bobagens (não adianta utilizar sabão biodegradável e, ao mesmo tempo, trocar de celular a cada seis meses), gerando lixo e mantendo todo um sistema perpétuo de degradação ambiental. Quer dizer, o cara é tão tonto que defende uma ideia e acaba praticando algo completamente oposto. A honestidade está no cara que compra um Hummer e não está nem aí com os saguis da Amazônia ou naquele que defende a natureza morando em uma caverna e bebendo da própria urina.
Ou essa babaquice de controlar tudo o que aparece na televisão. Hoje em dia, estão falando muito nesse negócio de proibir publicidade infantil, palavras de baixo calão, violência e coisas do tipo para proteger a formação psicológica e cultural da criança. É até engraçado, pois o moleque desliga a TV, liga o smartphone e tem acesso a uma gama infinita de imagens de pessoas mutiladas, pornografia e besteiras. Ou ele simplesmente vai à escola e aprende coisas maravilhosas com seus colegas, desde palavrões cabeludos até pequenos delitos. Mais uma vez, a coerência inexiste. Ou proíbe tudo de uma vez no melhor estilo China ou libera tudo e os pais que se virem para domar as pequenas feras. Sou do segundo grupo, é claro.
Entenderam? A humanidade está tão perdida como um todo, os valores estão tão embaralhados e os critérios são tão subjetivos que as pessoas já não conseguem mais conciliar pensamentos e prática. Um mais um pode ser igual a dois, três, doze, “J” ou abacate dependendo do contexto ou dos interesses externos, que podem ser o dinheiro ou o poder.
É no meio de tudo isso que ocorrem aberrações como a total descaracterização da Turma da Mônica e as sucessivas mudanças desastradas da Fórmula 1. No caso da primeira, há quem julgue haver um forte valor educacional em histórias mais brandas, bobinhas e politicamente corretas, ignorando que tudo aquilo que o Cebolinha ou a Mônica esconde a sociedade apresenta da forma mais desnuda e cruel possível. Já a F-1 busca vender uma imagem de “competição automobilística que consegue conciliar emoções e desafios com segurança e sustentabilidade” sem entender que os fãs mais antigos gostam mesmo é do perigo sujo e o público-alvo desejado não só jamais se interessará por corridas de carro seja lá como elas forem (porque ele não é burro e sabe que o automobilismo jamais será um esporte totalmente seguro e limpo) como também torcerá para seu fim. Ou você acha que seu amigo que anda de bicicleta, odeia carros e milita no Greenpeace realmente vai começar a assistir à tal da Fórmula E em setembro?
A realidade é que se a Fórmula 1 quiser sobreviver, ela deverá parar de tentar seguir mais de uma direção ao mesmo tempo. Quer ser uma categoria de vanguarda? Então que libere o regulamento técnico, os orçamentos e mande quem não puder arcar com isso para o diabo. Quer ser mais democrática? Então que libere a venda de carros, aumente o número de carros, imponha um teto orçamentário e que se lasque a Ferrari. Quer ser mais emocionante? Libere o regulamento esportivo, permita corridas em pistas mais assassinas e deixe um pouco de lado esse negócio de segurança. Quer ser verdadeiramente sustentável? Pare de existir.
Tudo isso parece muito radical, mas o problema é que, em nome de um equilíbrio que jamais existirá, as pessoas acham razoável defender duas coisas que se inviabilizam. Às vezes, o radicalismo é o único caminho para recolocar um objetivo de volta aos trilhos. Ou você quer isso ou não quer, acabou.
Se vocês ainda não se convenceram, boto mais exemplos para vocês pensarem um pouco.
O que vocês acham de uma categoria que quer conquistar novos mercados e se tornar mais interessante para os mais jovens e ao mesmo tempo afirma que “rede sociais são uma moda passageira”?
O que vocês acham de uma categoria que diz valorizar tanto a tradição ferrarista e ao mesmo tempo não se importa em cobrar cada vez mais dinheiro, e cada vez mais exigências de infraestrutura, a palcos como Monza, Silverstone e Spa-Francorchamps?
O que dizer de uma categoria que reduz o número de dias de testes alegando corte de gastos e ao mesmo tempo não se importa em realizar corridas em lugares de logística caríssima, como a Coréia do Sul e o próprio Azerbaijão?
O que dizer de uma categoria que exige mais espontaneidade e liberdade de seus pilotos e convivas e ao mesmo tempo os condena quando eles reclamam da categoria, fazem brincadeiras bobas (como o “deve ser porque sou preto” de Lewis Hamilton) ou perguntas bestas (como aquela “se Ecclestone fosse à Coréia do Norte, vocês, chefes de equipe, iriam para lá com ele numa boa?” que foi feita por um jornalista do Bild na coletiva de imprensa do último GP da Hungria)?
O que dizer de uma categoria que cria dispositivos como o DRS e estimula a construção de pontos de ultrapassagem artificiais e, ao mesmo tempo, tem duzentos dedos para punir pilotos mais agressivos?
O que dizer de uma categoria que sugere nomear Flavio Briatore para uma “comissão de popularidade”?
Dá certo, não.
A prova de Hungaroring mostrou que se a Fórmula 1 tiver uma única linha de critérios e se essa linha de critérios favorecer a real competição, a categoria voltará a ser puramente divertida e atraente como um todo sem a necessidade de mudanças nisso e grupos de discussão daquilo. Basta definir uma identidade, seguir ela de forma estrita e mandar para as cucuias quem discorda. Se quiser ser elitista, que seja com gosto, se orgulhe disso e pare de falar em custos. Se quiser competição de verdade, então que faça mais competição e menos regulação.
O problema é que parece até que Ecclestone, Whiting, Todt e etc. não pensam. Ou pensam de forma covarde, querendo encontrar um meio-termo que jamais existirá. E acabam tomando decisões idiotas, incoerentes, até paradoxais. No meio disso, a Fórmula 1 sofre com a maior crise de identidade de sua história. Quer ser popular e restrita, segura e desafiadora, veloz e lenta e acaba não sendo nada disso. Com isso, os fãs de verdade se vão.
Os fãs da Turma da Mônica também estão indo embora.
Nós não queremos politicamente correto. Nós não queremos conciliação. Nós não queremos “adaptação ao novo século”. Nós simplesmente queremos as coisas da forma que elas eram quando aprendemos a amá-las. A Fórmula 1 do Azerbaijão e o Cebolinha que cola cartazes no muro que fiquem para as crianças do admirável mundo novo.
1 de agosto de 2014 at 19:23
Texto irretocável.Muito além da questão do automobilismo.Parabéns!
1 de agosto de 2014 at 20:11
Verde outra vez autêntico e perfeito. A Fórmula 1 ( e assim como a Turma da Mônica) ao tentar agradar a gregos e troianos, acaba se perdendo torna-se uma coisa insossa e sem química.
Infelizmente veremos gerações condenadas à um mundo totalmente sem alma e a uma geração de alienados sem senso crítico.
1 de agosto de 2014 at 20:43
Texto incrível. Não sei como você pensou numa relação entre a Turma da Mônica e o automobilismo. Brilhante!
P.S.: eu sempre achei que esses produtos “verdes” eram uma farsa.
1 de agosto de 2014 at 23:55
Saudades suas meu caro amigo clorofilado!
Cara, a Fórmula 1 hoje vive o chamado ”complexo da torre de babel”. Se confundem com regulamento, com o futuro, confunde os fãs…ou seja, Verde, faz jus a palavra ”Babel”, que no hebraico significa justamente confusão. Resumindo, a Fórmula 1 está ”confusa” acerca da sua própria identidade, como teu texto atina meu amigo nipônico!
Hoje vemos uma categoria refém nas mãos das montadoras, que pode se destruir a qualquer momento.
Será que a torre está alcançando seu cume ao ponto dela mesma se destruir como foi com o exemplo bíblico? Veremos, mas o panorama não é dos melhores.
2 de agosto de 2014 at 3:10
Texto brilhante, inteligente, objetivo…Ótimo é pouco! Não pare de escrever, seu talento é enorme.
A eventual volta do Briatore é repugnante, essa velha guarda dos cartolas tem mesmo que morrer e dar lugar a sangue novo….e quem deveria ficar (ex.: Adrian Newey) vai puxar o carro, já deve estar farto de politicagem
2 de agosto de 2014 at 6:58
Texto irrepreensível como de costume! E a imbecilização da sociedade segue a toda no admirável mundo novo.
2 de agosto de 2014 at 10:22
O homem é um visionário. ..Verde para presidente!
3 de agosto de 2014 at 13:54
Matou a cobra e mostrou o… stick de material reciclado comprimido! Um texto dessa qualidade em PT-BR…R…R! NÃO é comum, BRAVO!
3 de agosto de 2014 at 21:11
Verde,
Nem sempre concordei muito com seus textos – o que é um bom sinal. Às vezes voce “viaja” um pouco, mas frequentemente seus textos são bem escritos. Adorei as histórias da AGS e da Rial.
Mas agora voce se superou, ficou muito bom mesmo.
Quanto à Formula 1, eu já esqueci. Sem comentários.
Há poucos dias o Corradi mostrou um March Hesketh 731, e não pude deixar de lembrar que a categoria já foi muito legal, com as diversas eequipes nanicas se divertindo lá no fundo do pelotão. Eu vivi esta época, e sinceramente, tenho pena de quem não teve esta oportunidade. Para os que acham que nanicas não fazem espetáculo, basta lembrar que no fim dos anos 60 e nos anos 70 Williams (fim dos anos 60 até meados dos 70), Ferrari (1973) e McLaren (fim dos anos 70 e início dos 80) já foram frequentadoras do fundão do grid.
Tudo bem, a F1 era insegura pacas, morria gente direto, o que não é nada bom. Mas dá para fazer corridas legais usando as atuais proteções contra fogo e celúlas de sobrevivência. Vide as últimas provas de turismo em Spa, onde a corrida foi boa, e o pessoal bateu forte e saiu caminhando. Motorsport is dangerous, dizem os americanos.
Sugiro assitir ao Rally, onde ainda tem muito da irresponsabilidade de correr de carro. Ou o Endurance, onde as corridas são longas (muita coisa imprevisivel acontece) e, mesmo se a Audi ganha tudo, é suficientemente simpatica, e lá atrás correm um monte de carros interessantes. E a Ferrari não participa do campeonato – ainda bem, já pensou o Motzemolo e Alonso reclamando?
Quanto à Formula E, como disse Pete Townshend: “I hope I die before I get old” (My Generation, The Who).
Aliás, até o rock ficou chato, com raras exceções.
3 de agosto de 2014 at 22:55
Legal saber que você voltou. Texto irrepreensível, como de costume. Abraço.
4 de agosto de 2014 at 2:36
Verde parabens… Nao vou negar q abri um sorriso no rosto e um sonoro ” aeeeee” de alegria quando vi um novo texto seu… Sobre o que disse simplesmente irretocavel a formula 1 com essa filosofia idiota realmente vem deixando os fãs putos da vida … Esses velhotes Sao uns tremendos babacas e acho incrível como o bernie um kra q VIu o verdadeiro automobilismo aceita compatuar com esse regulamento idiota …. Pelo amr… No mais parabens verde e continue conosco hein….
4 de agosto de 2014 at 11:53
Belo texto, Leandro, que toca num ponto importante: será que os jovens de hoje querem mesmo saber de corrida de carros? São cada vez menos numerosos, e daqueles poucos, quase ninguém tem paciência de assistir a uma corrida de uma hora e meia. O pessoal só assiste porque dá para ficar com duas telas, brincando no twitter, facebook e whatsapp durante a prova. Corridas normais e muitas vezes movimentadas são classificadas como “chatas”, mas o fato é que as corridas dos míticos anos 80 seriam igualmente taxadas de chatas de mostradas hoje.
Por um lado a F1 não consegue atender a todos, mas temos que lembrar que talvez público simplesmente esteja deixando de existir, independentemente do que Bernie ou Charlie ou a Globo façam
keep it up
4 de agosto de 2014 at 13:59
Parabéns Verde, belíssimo texto. Sou seu fã, pois sua qualidade textual, analogias, criatividade é sem comparação. Lugar de textos autênticos de quem realmente sabe o que é automobilismo de verdade.
Particularmente, continuo assistindo F1 pois gosto de velocidade, está no sangue. Por mais que não gostemos dessas baboseiras, ainda fico preso. Ultimamente, a MotoGP continua com aquele ar desafiador por mais que tenha seus defeitos, mas ainda proporciona ótimas disputas. Os pilotos são legais, há intrigas, pegas de verdade. Muito disso aí a F1 já perdeu.
5 de agosto de 2014 at 17:21
Voltou? Bom demais o e-mail avisar de dois textos daqui, fazia tempo. O Lauda foi preciso ao dizer que os jovens de hoje preferem ficar 2h na praia num domingo de manhã do que ficar em casa vendo um esporte do qual não entendem p*rra nenhuma, com tanto kers, mgku, mkuk, AK47 e HK-5. Fora asas móveis e qualquer espalhada numa curva ser automaticamente colocada em ”sob análise” e depois em ”no further action”. Chatice mesmo. Acompanho desde 86 e me lembro de pegas e toques de rodas na turma do meio-fundão sem espaço hoje. Uma das vezes em que me vi pensando se não seria melhor pôr o jipe na terra nos domingos de manhã foi o GP da Hungria do ano passado, após o Grosjean passar por fora na curva 4 e ser punido por colocar as rodas além da linha branca. Depois daquela, as trilhas deixaram de ser feitas após o almoço e são sempre nos domingos de manhã. O chato é acompanhar o vt com aquela múmia do Sportv e o narrador de gincana do Mackenzie. Abraço.
6 de agosto de 2014 at 17:14
Brilhante, Verde!
A sua tese explica muito mais do que a F1. Muito mais mesmo!
Como disseram alguns aí em cima, não pare de escrever. Você é um monstro, seria um grande desperdício.
7 de agosto de 2014 at 12:49
Eu acho que a elitizacao extrema da F1 tambem prejudica muito, aqui na Europa acabou o tempo das entradas baratas, e mesmo em circuitos gigantescos como Spa, está tudo forrado de Ferraris e os acampamentos nao tem mais nem vista pra pista. O cara que ama a F1 nao consegue mais assistir a mais do que 1 corrida ao vivo por ano, a nao ser que seja um grande abastado, ou um grande abestado.
Acho que a formula pra F1 deveria ser da simplificacao, diminuir a influencia da aerodinamica nos carros, aí “pegar o vacuo” seria o DRS, com as asas de colheitadeira gigantescas é pior ficar atrás de um carro recebendo ar sujo.
As pistas deveriam ter mais arquibancadas e mais gramadoes ao inves de “espacos VIP” frequentados só por pessoas que vao às corridas pra aparecer e tao pouco se fodendo com o que o “Hamberg” ta fazendo la embaixo. Os motores hibridos sao realmente o caminho da industria automotiva e nao vejo isso como um problema, os V8 aspirados ja sumiram das linhas de producao há algum tempo. Mas sinceramente uma equipe ganhar pq fez uma aleta mais eficiente que a outra nao é algo que excite nem o mais nerd dos aerodinamistas. E pra ajudar os carros sao simplesmente feios,
Quanto ao eterno conflito de geracoes, acho que jamais vou poder apontar o dedo pra geracoes mais novas que a minha (apesar de me orgulhar de ser um modelo 82 carburado), nao tendo eu nascido nem na geracao de 1920 nem na de 1950, provavelmente as mais incriveis da historia.
8 de agosto de 2014 at 10:54
Verde meu caro que saudades dessa escrita, da acidez…
Cara eu tambem era fa da turma da monica das antigas e confesso que essa turma da monica jovem nao me atrai em nada…
A verdade e que essa geraçao criada a leite com pera e ovomaltino ta fazendo do mundo um dos lugares mais babacas pra se viver… a F1 atual e um dos esportes mais chatos que conheço… eu que madruguei por tantos anos hoje nem sei quando tem corrida tamanho meu interesse… pilotos insossos, regras esdruxulas, ultrapassagens artificiais, pneus feitos propositalmente para esfarelarem, segundos pilotos obrigados a perder por contrato, ordens dos boxes, confesso que perdi o interesse de seguir essa nova pontuação por que preciso de uma calculadora e com a outra eu fazia de cabeça a matematica… enfim… tentando se adaptar a esse mundo idiota como você brilhantemenye frisou onde o imbecil recicla mas troca tudo por tecnologias novas depois de seis meses não percebendo que o problema e o consumo em si…
Ainda nessa toada de que o mundo ta cada vez mais babaca, você citou que nos gibizinhos de hoje da turma da monica as caracteristicas mais marcantes dos personagens foram supressas em nome do fim do bulling por exemplo… no meu tempo toda classe tinha seu gordinho, a feia, a cdf, o chato… e ninguem ia pra casa chorar pra mãe… outro dia vi que na terra do tio Sam ta na moda as crianças praticarem esportes sem contar pontos… os jogos terminam sem vencedor por que todos são vencedores !!!
A midia apoia esse tipo de comportamento, eu adorava assistir no Cartoon Network uma faixa que passava de madrugada chamada Adult Swim, não sei se você conhece, mas eram desenhos antigos com novas dublagens e adaptações alem e claro de novos desenhos mas criados para um publico mais adulto… essa faixa da programação passava a uma da manhã de domingo… pois uma associação de pais aqui no Brasil entrou com uma ação para que a faixa fosse tirada da programação do Cartoon Network por se tratar de um canal para crianças em teoria… na pratica e um canal de desenhos… pois eles conseguiram, ao invés dos pais assumirem suas responsabilidades e educarem seus filhos, passam o bastão para o governo e as mídias… e o mais engraçado é que nos USA que nós brasileiros consideramos um país extremamente moralista, ainda transmitem normalmente a faixa de programação, exatamente no mesmo horário de sempre no Cartoon Network…