Seguindo a ordem de apresentação dos modelos, apresento mais uma equipe da temporada 2011 da Fórmula 1: a suíça (de DNA alemão) Sauber.
SAUBER MOTORSPORTS
Era uma vez um jovem suíço de 24 anos que trabalhava como eletricista na empresa do pai. Este rapaz, que ainda tinha cabelo, só tinha interesse pelo setor elétrico e se enxergava como o futuro dono da tal empresa. Carro, para ele, era apenas um meio de transporte que o levava do ponto A ao ponto B no menor tempo possível. Não por acaso, seu “meio de transporte” era um modesto Fusca. Como um cara desses se torna dono de uma das equipes mais famosas do automobilismo nos últimos 25 anos?
Pois este é o prólogo de Peter Sauber, o enfadonho e capilarmente desfavorecido dono da equipe que carrega seu sobrenome. Peter não gostava de automobilismo até o dia em que um amigo o convenceu a dar uma ajeitadinha em seu depenado Fusca e a participar de algumas corridas amadoras em 1967. Sauber aceitou o convite, começou a participar das corridas e adorou o negócio. Gradativamente, o fusquinha se transformava em uma verdadeira máquina de competições. E o cara mergulhou de vez no mundo do automobilismo.
Em 1970, Sauber decidiu construir seu próprio protótipo de dois lugares, o C1. A letra C é uma simpática homenagem à mulher, Christine, e persiste até hoje na nomenclatura de seus carros. O C1 venceu o campeonato suíço de carros-esporte daquele ano (nem sabia que isso existia, até porque o automobilismo é oficialmente proibido no país) e iniciou uma longa trajetória de sucesso. Era o início da Sauber Motorsport.
A Sauber começou a participar de vários campeonatos de protótipos, carros-esporte e corridas de longa duração. Em 1981, Nelson Piquet, em parceria com Hans-Joachim Stuck, ganhou os 1000 km de Nürburgring. Quatro anos depois, a equipe, já composta por um bom número de funcionários, iniciou uma parceria com a Mercedes-Benz para a instalação de motores da marca de Stuttgart em seus carros-esporte. Em 1988, a parceria se fortaleceu e a equipe suíça se transformou na equipe oficial da Mercedes-Benz no Mundial de Protótipos. O melhor ano da história da equipe foi 1989: campeã de pilotos e de construtores, com direito a dobradinha nas 24 Horas de Le Mans.
O matrimônio com a Mercedes seguia às mil maravilhas e não havia muito mais a conquistar no Mundial de Protótipos. Então, Sauber e amigos devanearam: que tal irmos para a Fórmula 1?
Como o Mundial de Protótipos rumava ao fim, Sauber teria de fazer seu ganha-pão em outro lugar. Com o suporte da Mercedes, que aceitou retornar à Fórmula 1 após quase quarenta anos, Peter tentaria repetir o sucesso obtido nos protótipos. Em 1993, a equipe fez sua estreia na categoria. Com um belíssimo carro preto e os promissores Karl Wendlinger e JJ Lehto, alguns bons resultados foram obtidos, além da simpatia geral da mídia e dos torcedores.
O problema é que a Sauber não subiu de patamar. No fim de 1994, a McLaren deu uma rasteira em Peter Sauber e tomou a Mercedes para si. Restou aos suíços recorrer aos motores Ford V10 por dois anos e, posteriormente, aos Ferrari de uma geração anterior aos utilizados pela equipe italiana. A pintura mudou pouco e a maior parte dos pilotos que passou por lá não empolgava muita gente. Apesar de ter revelado nomes como Heinz-Harald Frentzen, Felipe Massa e Kimi Raikkonen, a Sauber acabou ficando com a imagem de equipe chata, pouco ousada e eternamente mediana.
No fim de 2005, Peter Sauber decidiu que era hora de se aposentar e vendeu sua equipe à BMW por um preço muito compensador. A BMW Sauber cresceu, ganhou corrida e fez acontecer, mas fechou no fim de 2009 à base de única canetada certeira vinda de Munique. E Peter Sauber acabou recomprando o espólio, recriando a Sauber Motorsport, que continua sendo aquilo que ela sempre foi na Fórmula 1: discreta e eficiente, mais discreta do que eficiente.
SAUBER C30
No início de 2010, a Sauber fez a apresentação mais anêmica entre todas as equipes. Portando sorrisos amarelados e um certo constrangimento, Peter Sauber, Kamui Kobayashi e Pedro de la Rosa mostraram ao mundo um carro absolutamente limpo de patrocinadores. As linhas eram belas e a pintura estava lá unicamente para não ofuscar a beleza das formas do bólido. Mas patrocínio que é bom, nada.
Nesse ano, por outro lado, Peter Sauber pôde sorrir tranquilamente. Seu C31, que tem o mesmo esquema visual do antecessor, é um carro muito bem patrocinado. Boa parte dos emblemas foi colocada por Carlos Slim, homem mais rico do mundo e apoiador de Sergio Perez, o mexicano que faz sua estreia nesta temporada. E os patrocinadores continuam chegando, como é o caso da gigante japonesa Nec, que se sentiu seduzida pela presença de Kamui Kobayashi.
Grandalhão e um tanto quanto desarmônico, o C29 era um carro que destoava visivelmente do restante do grid. O C30, por outro lado, é um bólido bem mais conservador e próximo da realidade dos carros de suas concorrentes. Olhando pela lateral, as mudanças não foram tantas. A barbatana desapareceu, a asa traseira ficou ligeiramente menor, a distância entre eixos diminuiu levemente e a lateral ficou mais alta e mais quadrada.
A mudança maior foi feita em relação ao bico dianteiro. O do C29 era alto, reto e quase retangular, chegando a me fazer lembrar do Williams-BMW do início da década passada. O bico do C30, por outro lado, segue a tendência das demais equipes: alto, curvado para baixo a partir de um certo ponto e em formato de gota. Nada que represente lá grande evolução.
Enfim, o C30 é um genuíno Sauber: elegante e previsível, muito previsível.
16- KAMUI KOBAYASHI
À primeira vista, você olha para o sujeito e enxerga nele qualquer coisa, menos um piloto de Fórmula 1. Sua aparência sorridente e descompromissada, composta por epicanto bastante proeminente e cabelo bagunçado, dá a ele um ar um tanto quanto ingênuo e perdido. Suas declarações bem-humoradas, seu inglês carregado de sotaque e até mesmo sua dicção trôpega parecem sugerir que Kamui Kobayashi apenas se diverte. Enquanto tubarões como Sebastian Vettel e Fernando Alonso só se preocupam com resultados frios e com sua própria imagem, o tímido japonês só gosta de correr de carro.
Acho legal que haja gente como ele no mundo. Por que a necessidade de tanta tensão, estresse, egolatria, individualismo e aflição? Por que a Fórmula 1 deve ser tão burocrática e mal-humorada? Talvez Kamui Kobayashi nem pense nisso. Espontaneidade é a palavra de ordem aqui.
Aos 24 anos, Kobayashi é uma das atrações da Fórmula 1. Seu currículo, que ostenta os títulos da Fórmula Renault europeia, da Fórmula Renault italiana e da GP2 Asia, não é o mais impressionante de todos. A graça maior está em suas pirotecnias na categoria principal do automobilismo. Desde sua primeira corrida, o GP do Brasil de 2009, Kobayashi vem chamando a atenção com ultrapassagens mirabolantes, duelos contra pilotos muito mais gabaritados e uma velocidade estonteante.
É óbvio que isso não funciona sempre. No ano passado, Kobayashi fez muita coisa bacana, mas também errou e bateu muito. Em Suzuka, ultrapassou Jaime Alguersuari em duas ocasiões – sempre batendo no carro no espanhol. Para quem esperava ver o japonês jantando Pedro de la Rosa – e Nick Heidfeld no fim do ano -, uma certa decepção, já que a distância com relação ao companheiro foi menor do que a esperada. Ainda assim, Kamui foi uma das sensações de 2010. E ele segue alimentando a esperança daqueles que querem ver um campeão de olhos puxados.
17- SERGIO PÉREZ
Se Kobayashi é o grande animador da Fórmula 1, o mexicano Sergio Pérez fazia papel análogo na GP2. Aos 21 anos, Pérez será um dos quatro estreantes da temporada. Correndo no segundo Sauber, sua esperança maior é a de repetir os brilharecos que seu companheiro nipônico cansou de mostrar no ano passado. Ao meu ver, se depender do que mostrou na GP2, terá chances de fazer até mais.
O mexicano é o primeiro piloto da América do Norte desde Scott Speed em 2007. Mais ainda: ele é o primeiro piloto de seu país desde Hector Rebaque, que chegou a ser companheiro de Nelson Piquet na Brabham. Seu currículo não é brilhante: quarto colocado na Fórmula 3 britânica em 2008 e vice-campeão na GP2 no ano passado. Assim como Kobayashi, o que chama a atenção em Perez é o seu estilo de pilotagem.
Dois momentos se destacam mais. Em 2009, Sergio Pérez fazia seu primeiro ano na GP2 pela Arden. Na primeira corrida de Silverstone, ele largou da última posição, passou quase todo mundo e terminou em quarto, colado na caixa de câmbio do terceiro colocado. No ano seguinte, Pérez passou para a Addax, uma das equipes mais fortes. Na segunda corrida de Silverstone, ele largou da quarta posição e também não tomou conhecimento dos três primeiros colocados, engolindo suas posições e vencendo com maestria. Esta foi uma das cinco vitórias obtidas no ano passado.
Jovem, mexicano, de pilotagem exuberante: uma reedição de Pedro Rodriguez? Ao meu ver, Checo tem boas chances de ir bem mais longe.
10 de março de 2011 at 17:20
Verde,
apenas uma curiosidade pra dar mais um tempero na história da Sauber na F1…
Em 1993, temendo um possível fracasso da equipe suiça, a Mercedes-Benz não “assumiu” o nome do motor da Sauber. O motor foi “rebatizado” como… SAUBER… simplesmente…
Na lateral dos carros pretos da Sauber, em 1993, lia-se “Concept by Mercedes-Benz” e não o esperado “Powered by Mercedes-Benz”.
Com o resultado satisfatório da Sauber em 1993, no ano seguinte apareceu o “Powered by Mercedes-Benz” nos carros helvéticos…
um abraço!
10 de março de 2011 at 17:24
Sim, aquilo lá era um Ilmor com pedigree. Mas pegava mal dizer que “meu carro tem um Ilmor”.
10 de março de 2011 at 19:32
ERA PROIBIDO o automobilismo na Suíça. Deixou de ser em 2007.
Sauber: Podem dizer o que quiserem dela e de seus pilotos, mas se eu tivesse um bilhão de euros na minha mão agora e tivesse que investir tudo em uma equipe de F1, essa equipe seria a Sauber.
E aquele circuito suíço que foi usado na F1 até 1955, o circuito de Bremgartnen, é fera.
10 de março de 2011 at 23:00
Sauber enriqueceria e seus carros conseguiriam…uma sétima posição no mundial de construtores!
Aliás, são 3 sextos lugares, 4 sétimos e 5 oitavos lugares no mundial de contrutores, não existe equipe mais média que a mediana Sauber! De pico, 4º no mundial de 2001 (com parcos 21 pontos, pouco para um quarto lugar) e 5º em 2002 (somente com 11 pontos).
10 de março de 2011 at 22:21
Verde, provas de automobilismo na Suiça eram proibidas até 2007, como citou o colega. Mas a federação exisitia e os campeonatos eram promovidos, mas com provas disputadas nos países vizinhos, principalmente na França.
11 de março de 2011 at 1:31
Valeu pela informação!
10 de março de 2011 at 23:08
Interessante também é ver a distribuição de pódios da equipe:
95 – Um em Monza, quando os seis do grid quebraram durante a corrida!
96 – 3º em Mônaco, quando ganhou a Ligier do Panis…
97 – 3º na Hungria, foi uma corridaça do Herbert. Mas era uma corrida em que ganharia a Arrows do Damon Hill…
98 – 3º na Bélgica, qatrás de uma dobradinha da Jordan…
2001 – 3º no Brasil. Eu diria que foi a melhor corrida de um Sauber, com o Heidfeld quebrando na última volta mas sendo classificado em 3º (O 4º tinha tomado uma volta)
2003 – 3º na chuvosa e tumultuada corrida dos EUA, com vários dos ponteiros abandonando.
Adoro a Sauber e todas as pequenas, detesto a arrogância de algumas grandes (Ferrari, é claro), mas realmente a Sauber é média…se Ferrari e Mclaren brigam pelo título de maior equipe da história da F1, Andrea Moda e Life brigam pelo título de menor equipe, a primazia de ser a “mais média” é da Sauber!
10 de março de 2011 at 23:14
Pô,verde,bagunçou com o Kamui botando a foto do Nimbus da turma da Mônica e com o Checo Perez botando a foto do Nhonho do Chaves,muito engraçado mesmo
11 de março de 2011 at 11:50
Olá Verde,
Sempre acompanho o seu blog mas não costumo comentar muito.
Primeiro parabens pelos ótimos textos e pelo bom humor também(Nhonho na foto do Sergio Perez foi demais).
Só para registar acredito que o automobilismo é proibido sim na Suiça, não deu certo a liberação do esporte por lá.
11 de março de 2011 at 16:36
Ia falar sobre o motor “Sauber”,mas o comentário já foi feito.
Os motores Ilmor não eram tão ruins assim não.
Eram pesados mas bem potentes.
Inclusive,já ouvi dizer que esse motor “Sauber” era uma evolução dos motores Ilmor usados pela Tyrrel e pela March,que eram praticamente iguais ao Ilmor da CART.
Procede,Verde?
11 de março de 2011 at 16:41
Não tenho muita certeza. O Ilmor da Indy foi um motor utilizado sob a alcunha de Chevrolet durante seis ou sete anos. Acho que o motor de Fórmula 1 não tinha nada a ver, até porque os da Indy eram turbinados e todas as especificações eram totalmente diferentes.
Quanto ao motor “Sauber”, acho que esta foi, sim, uma evolução muito bem-feita dos Ilmor fraquinhos que Tyrrell e March utilizaram.
25 de março de 2011 at 1:14
grupo C, mundial de marcas era doido d+