Depois de Bathurst e de Sepang, a viagem dessa série segue para a China. Mas é um local um pouco diferente daquilo que estamos acostumados com relação à China. Vamos para Macau, província localizada no sul da ilha de Zhongshan que pertenceu ao território português por mais de 400 anos.
Apesar da península fazer parte da China desde 1999, a herança lusa permaneceu: embora quase ninguém fale português, e quem fala utiliza um dialeto completamente indecifrável para os ocidentais, a língua de Camões é uma das línguas oficiais de Macau. Ruas, igrejas e localizações em geral utilizam nomes portugueses e são escritas em alfabeto latino. Não por acaso, Macau é dividida em quatro “freguesias”: Sé, Nossa Senhora de Fátima, São Lázaro, Santo Antônio e São Lourenço. Lendo esses nomes, a impressão é de estar em Minas Gerais e não na Ásia Oriental.
Voltemos ao automobilismo, pois. Esta peculiar península possui o circuito mais tradicional da Fórmula 3 mundial, o Circuito da Guia, localizado na região sul. Desde 1954, Macau promove corridas de carro e moto como forma de promover a região e turbinar o turismo local. De certa forma, funciona: eu mesmo só conheço Macau por causa disso. Idem para muitos fãs de automobilismo.
Macau já sediou um bocado de corridas. Entre 1954 e 1966, apenas corridas de carros-esporte eram disputadas por lá. O negócio era meramente amador e atraía apenas aventureiros locais. A partir de 1967, o Circuito da Guia passou a receber maiores atenções: o piloto belga Mauro Bianchi inscreveu um Renault pela equipe oficial de fábrica e essa empreitada despertou interesses em outros pilotos e equipes europeus. Naquele ano, houve também a primeira corrida de motos.
De lá para cá, pouco mudou. O traçado literalmente é o mesmo, e apenas algumas atualizações na infra-estrutura são feitas de vez em quando. Não por acaso, os europeus sempre criticam a existência de um circuito tão perigoso e obsoleto. Criticam, mas correm lá todo ano, o que é curioso.
Entre 1961 e 1973, o evento principal era a Fórmula Libre. Entre 1974 e 1982, a Fórmula Pacific. Como estas categorias eram defasadas, o governo macauense decidiu trazer algo mais moderno. Pensou-se em Fórmula 2, mas acabaram por trazer a Fórmula 3. E desde então, é a principal categoria a competir no circuito. Os carros de turismo competem em Macau desde 1964 e, a partir de 2005, esta corrida passou a ser sancionada pela FIA ao ser integrada no calendário do WTCC.
Pra terminar o belo e extenso background histórico do circuito, o último vencedor da F-Pacific foi Roberto Moreno. O primeiro da F3 foi Ayrton Senna. Outros vencedores da corrida de F3 se consagraram no automobilismo: Michael Schumacher, David Coulthard, Jörg Müller, Ralf Schumacher, Takuma Sato, Lucas di Grassi e por aí vai.
TRAÇADO E ETC.
Ô circuito filho da puta, este de Macau. Perigoso, extremamente ondulado, estreitíssimo, completamente obsoleto… e fascinante! São 6,2 km de extensão e 19 curvas, algumas muito rápidas e algumas ridiculamente lentas.
Qual é o segredo dessa pista? Não há segredo, o negócio é sobreviver. E a graça da corrida de Fórmula 3 é essa: como os pilotos são completos cabaços narcisistas ávidos pelo sucesso, os acidentes e as presepadas são inúmeros. Há retas enormes que demandam pouquíssima asa, mas vá se meter a transformar seu F3 em um dragster para curvas como a Melco para ver o que acontece…
Outra graça do circuito: a diferença de relevo. São cerca de 30m entre o ponto mais alto e o mais baixo, o que pede um motor muito bem acertado para não perder o fôlego nas subidas. Ou seja, com retões, curvas variadas e alterações de relevo, o que mais pedir?
Trechos a serem destacados:
RETA DOS BOXES: Juro que tentei encontrar um nome melhor, mas não consegui. Essa reta, na verdade, é uma sequência de três retas separadas pelas curvas R, Hotel Mandarim e Hotel Lisboa. É a parte de alta velocidade, aonde os carros buscam o vácuo para a ultrapassagem na Hotel Lisboa. É também o trecho mais largo, chegando a 14m na segunda reta.
HOTEL LISBOA: Quem assiste ao GP de Macau espera o famoso engavetamento da curva Hotel Lisboa. É uma curva de 90º feita em velocidade relativamente alta aonde cabe apenas um carro mas que até três insistem em passar juntos, resultando nas confusões.
SUBIDA DA SÃO FRANCISCO: É outro trecho ótimo para acidentes. Curva mais aberta e veloz que a Hotel Lisboa, possui uma estúpida barreira de pneus em seu ponto de tangência que leva a acidentes como os engavetamentos de 1996 e 2004. A partir daí, como o nome diz, inicia-se um trecho de subida.
CURVA MELCO: É a Loews macauense. Estou sendo bonzinho: é pior que a Loews. Curva lentíssima de largura de apenas 7m feita em primeira marcha aonde tocar o guard-rail é inevitável.
Estou sendo injusto em não citar os esses de alta velocidade e a curva da Maternidade. Mas aí eu teria citado o circuito inteiro. O que não seria absurdo: Macau é um desafio por completo.
Rodolfo Ávila em 2006.
O ano está errado. Isso daí aconteceu em 1996. Legal, né?
12 de abril de 2010 at 15:58
Bom eu sou suspeito para opinar sobre circuitos de rua, pelo fato de gostar bastante de pistas no estilo de: Mônaco, Cingapura, Valência e agora Macau, a mais nova integrante da turma.
Os retões e a Hotel Lisboa sem duvida são os melhores pontos de ultrapassagem, os outros são dificílimos. Gostei da ‘Subida de São Francisco’, adoro trechos em subidas que em seguida desembocam em descidas contornando curvas de alta e baixa velocidade.
Como eu conheço pouquissimos circuitos, essa e mais uma pista que eu não tinha conhecimento e que entra para a lista dos meus circuitos prediletos. ^^
14 de maio de 2011 at 7:40
MÔnaco ficou fichinha !