Termino a série especial Clique dedicada à Ayrton Senna com o término. Reconheço, ficou uma merda de pseudoconstrução poética. Mas vamos lá.
Ayrton Senna foi à Adelaide como se estivesse indo à festa de despedida de sua empresa. E, de fato, o fim de semana foi exatamente assim. O tricampeão brasileiro, aos 33 anos, estava saindo da McLaren para ir para a Williams, seu sonho naquele momento. Sua parceria com a McLaren entrou para a história: 96 corridas disputadas, três títulos mundiais, 35 vitórias, 46 poles-positions, momentos bons e ruins. Como o campeonato de 1993 já estava decidido desde Portugal em favor do francês Alain Prost, não havia nada mais a ser feito em Adelaide. Senna ainda podia ser vice-campeão, já que estava apenas dois pontos atrás de Damon Hill. Mas o que isso vale para uma tricampeão?
Senna já chegou acelerando a Adelaide. Nos primeiros treinos livres, o brasileiro ficou em 2º e em 3º. Já no primeiro treino oficial, Alain Prost liderava com facilidade. Enquanto Senna estava no carro, Ron Dennis pegou um papel e escreveu apenas um número: 62. Número místico? Não. Era apenas o número de poles que Ayrton Senna teria na carreira se ele conseguisse o milagre de largar na frente em Adelaide.
E não é que o papel funcionou? Senna saiu dos boxes e dirigiu seu MP4/8 que nem um pirado pelas ruas da cidade australiana. Cruzou a linha de chegada fazendo o tempo de 1m13s371, mais de quatro décimos à frente de Prost. Sua pole de número 62 estava feita.
Na corrida do dia seguinte, Senna largou bem mas Prost teve melhor saída e ameaçou o brasileiro. Porém, Ayrton conseguiu segurar a ponta. E lá ele se manteve até a volta 25, quando o McLaren nº 8 foi aos pits trocar os pneus. Voltou à pista 9 segundos atrás de Prost, mas com as paradas dos concorrentes, Senna reassume a liderança. E com um jogo de pneus melhor, Ayrton some na frente e não perde mais a liderança, mesmo na segunda rodada de paradas.
Depois de uma longa corrida de 79 voltas, Ayrton Senna completou a corrida 9 segundos à frente de Alain Prost. Foi a sua 41ª e última vitória na carreira.
Ainda no parque fechado, Senna foi em direção a Prost e o cumprimentou. No pódio, Senna puxou Prost para ficar junto dele no posto mais alto. Tempo depois, o francês confessou que não achou a atitude do brasileiro completamente sincera, mas isso não veio ao caso. A relação entre os dois voltou a ser boa. Com Prost aposentado e Senna correndo sozinho na Williams, não havia o porquê de manter uma briga estúpida.
Depois da corrida, todo mundo na McLaren foi comemorar a vitória de Senna em um bar nos arredores do circuito. Lá, Jo Ramirez, coordenador da McLaren e amigo próximo de Ayrton, fez um discurso de agradecimento pela passagem do brasileiro pela equipe. E Senna teve de cumprir uma promessa feita caso vencesse a corrida: tomaria um porre. O correto e sóbrio Ayrton Senna ficou completamente chapado.
Página fechada de uma belíssima história. Infelizmente, as páginas da vida de Senna não seriam muitas após isso.
30 de março de 2012 at 7:27
uma página inteligente!
3 de maio de 2012 at 2:48
Na minha opinião, foi a última corrida em que a Fórmula 1 era um esporte de verdade, com carros e circuitos bonitos, sistema de pontuação mais fácil de entender para os pilotos, as equipes e nós, torcedores comuns, manifestações patrióticas como essa e, melhor ainda, sem acidentes graves até aquele ano! Pra mim, a época de ouro da Fórmula 1 foi os anos em que o Ayrton Senna venceu, de 1985 a 1993, pois em 1984 aqueles aerofólios traseiros e mais o aerofólio dianteiro da Toleman eram horrorosos na minha opinião, enfeando o resto do carros, banidos felizmente em 1985, e em 1994 tudo aquilo aconteceu ( inclusive levando o nosso Ayrton para o céu ) por causa da mudança de regulamento, tentando equilibrar as equipes, mas que na verdade foi à toa, com a Benetton e a Williams continuando na frente. Hoje, a Fórmula 1 é apenas uma feia, chata, difícil e triste caricatura do que ela era até há 19 anos…