GP DA MALÁSIA: A Fórmula 1 não dá sossego para ninguém. Em apenas uma semana, toda a turma do paddock teve de se deslocar exatos 6.364,97 quilômetros entre a aprazível Melbourne e a calientíssima Kuala Lumpur, capital da Malásia. Não houve tempo para tirar foto com cangurus, tomar um sol em Bali e encontrar surpresas desagradáveis nas prostitutas tailandesas. Falemos do GP do país de Alex Yoong, então. Ontem, durante o dia, fez 32°C na cidade malaia. Os europeus, que são umas bichinhas acostumadas com friozinho e fondue, estão derretendo no meio da selva. O que não quer dizer que o clima não seja, de fato, sufocante. De dia, o sol imponente e implacável. De repente, nuvens ainda mais imponentes e implacáveis cobrem o céu. Em questão de minutos, uma verdadeira cachoeira desaba nas cabeças dos pobres malaios. A Malásia é assim mesmo. E o circuito de Sepang fica lá dentro. O traçado é bom, traiçoeiro, largo, propicia ultrapassagens e boas disputas. Nesse ano, liberaram o uso da asa móvel nas duas grandes retas, o que certamente resultará em umas 12.478 manobras. É uma pena que a chuva tropical seja forte demais para a Fórmula 1 atual, hidrofóbica, árida, encardida de pó. Com pneus de chuva feitos de borracha escolar, carros que não podem ser ajustados a qualquer momento, difusores traseiros que criam verdadeiras cortinas de água, proibição de carro-reserva, organizadores medrosos e pilotos chorões, é óbvio que uma corrida em pista molhada se torna algo inviável. O script está lá: o GP começa às 17h, a tempestade desaba às 17h03, a bandeira vermelha é acionada, ficamos todos com cara de tacho em frente à televisão durante intermináveis minutos ou horas e o reinício só acontece quando a pista estiver mais seca do que boca de beduíno. De repente, anoitece e Charlie Whiting decide acabar com tudo na volta 39. Sepang não merece isso.
MCLAREN: Não que eu seja a pessoa que mais acompanhou corridas de Fórmula 1 na vida, mas posso dizer que já vi bastante coisa. E confesso que não consigo me lembrar de um início de temporada tão ruim, tão zicado e tão sombrio para a McLaren como este. A equipe construiu, sim, alguns carros muito ruins, como o MP4-19 de 2004 (lembra-se de Kimi Räikkönen rodando sozinho em Melbourne por causa de um motor estourado?) e o MP4-21 de 2006 (lembra-se do mesmo Kimi voando longe após a suspensão traseira explodir durante um dos treinos no Bahrein?), mas nunca o conjunto da obra esteve tão negativo. Aparentemente, nem mesmo o clima em Woking anda tão bom assim. Nessa semana, Bernie Ecclestone admitiu que Lewis Hamilton preferiria ficar em casa durante a temporada de 2013 a ter de permanecer na McLaren – sinal de que o ambiente realmente deveria estar uma merda. Hoje em dia, a McLaren tem um carro ruim, dois pilotos irritados e problemas no horizonte. A Vodafone não continuará patrocinando a equipe no ano que vem e ela perderá mais algumas boas dezenas de milhões de dólares. Diz a lenda que a salvação estaria na Gillette, que desembarcaria como a nova patrocinadora principal a partir de 2014. Ou até mesmo na Honda, que já está desenvolvendo seu motor turbo para 2015. Enquanto o futuro não chega, o negócio é tentar remediar o presente da maneira que é possível. A McLaren está levando algumas peças novas, experimentais, para tentar fazer o MP4-28 se aproximar das primeiras posições. Vamos ver no que isso dá. Espero que funcione.
ALONSO: Ou ele faz de propósito e está pouco se lixando ou simplesmente não percebe as repercussões negativas causadas. Fernando Alonso continua o mesmo de 2012: superestimado por jornalistas e completamente desprezado pelos espectadores mortais. Eu não sou jornalista, mas o considero um excelente piloto, completamente capaz de derrotar Sebastian Vettel e Lewis Hamilton tendo um carro à altura do deles. Só que estou ao lado dos espectadores quando se trata de reprovar sua língua. O Papagaio das Astúrias esperou um inverno inteiro para descambar à exaustão nesses últimos dias, deixando sempre transparecer algum sentimento de despeito ou soberba. Sobre a Lotus, Alonso comentou que “o ritmo deles era bom, mas nada que não possamos fazer também”. Cacilda, se a Ferrari pode fazer, então por que não fez ainda?! Sobre a vitória de Kimi Räikkönen, o espanhol elogiou a atuação do finlandês, mas finalizou que preferia “ver Kimi vencendo a ver um carro da Red Bull na frente“. O temor à rival rubrotaurina também ficou explícito quando disse que “a Red Bull ganhou dois de seus três títulos na última corrida com um carro um segundo mais rápido que o resto”. E ainda ironizou que “aproveitar sua vantagem não é uma de suas virtudes”. Não que Fernando tenha mentido, mas suas palavras pegaram mal. O bicampeão mundial não precisa disso. Trabalhando quieto e evitando se meter em polêmicas, talvez ele até consiga o tão sonhado terceiro título mundial. ¿Por qué no te callas, carajo?
HÜLKENBERG: Em 2010, ele foi atropelado por Kamui Kobayashi na primeira volta. No ano passado, tocaram em seu carro e destruíram roda e suspensão. Nesse ano, quis o destino evitar qualquer prejuízo para a empobrecida Sauber e o jovem alemão sequer alinhou para o grid de largada. Pouco antes da largada, os mecânicos detectaram uma pequena fissura na célula de combustível do carro, conhecida como tanque de gasolina por mecânicos menos polidos. Vocês imaginam o que aconteceria se um pequeno vazamento se encontrasse com uma mísera faísca. Por causa disso, a Sauber preferiu não colocar o carro nº 11 na pista. Hoje, a equipe anunciou que o problema estava resolvido e que Hülkenberg disputará o GP da Malásia normalmente. Na certa, compraram um rolo de Silver Tape no supermercado e mandaram bala na fenda sacana. Não deixo de achar curioso, de qualquer jeito, que a sofisticada, maravilhosa e infalível Fórmula 1 contemporânea tenha um regulamento limitado a ponto de uma equipe ter tantas dificuldades para lidar com um estúpido buraco na célula de combustível. Em outros tempos, a Sauber teria ateado fogo no carro problemático e entregado um bólido-reserva a Nico Hülkenberg. E ele, enfim, poderia ter largado. E certamente teria causado aquele acidente na primeira volta que todos nós ficamos esperando.
NANICAS: Essa daqui surpreendeu. Então quer dizer que Marussia e Caterham, as duas pequeninas da Fórmula 1 atual, tentaram forjar uma fusão para essa atual temporada? Em entrevista à Sky Sports, o presidente da equipe russa Graheme London afirmou que as negociações realmente existiram, mas não foram para frente devido a algumas cláusulas inaceitáveis. Dessa forma, as duas escuderias continuaram existindo separadas e na maior dureza. Diz a lenda que foi Bernie Ecclestone, o todo-poderoso, que arquitetou a fusão, sempre pensando que é melhor para os dois lados juntar tudo e formar uma estrutura razoável do que levar adiante uma guerra que, no fim das contas, matará tanto uma como a outra. Essa guerra tem como prêmio as 10 milhões de libras que a décima colocada no Mundial de Construtores recebe da FOM. No ano passado, a Caterham conseguiu a primazia nas últimas voltas da última corrida, com uma ultrapassagem de Vitaly Petrov sobre Charles Pic. Nesse ano, ao que parece, a Marussia tem um carro melhor e um piloto muito melhor, Jules Bianchi. É bem possível que os russos se saiam melhor dessa vez. Mas é uma batalha triste, acima de tudo. Ambas estão famintas e lutam por um peixe podre que encontraram no lixão. Se bem que nesse automobilismo idiota e inviável de hoje em dia, até mesmo as grandes equipes estão dando uma vasculhada no lixão para ver se não acham uma frutinha em bom estado.
21 de março de 2013 at 15:54
Excelente post, Verde! O comentário sobre o Silver Tape no buraco do tanque da Sauber foi o melhor, hehehehe!
21 de março de 2013 at 16:43
Malásia :D Adoro essa pista. Com chuva, e de madruga, fica melhor ainda.
Sobre Alonso, que não ganhe um titulo na Ferrari. Não é por ele sempre vencer o Felipe, pois ele é mais completo, e sim por suas atitudes nas pistas e fora delas.
A Mclaren tem poder de reação para evoluir durante a temporada, é o que torço para que aconteça, mas a coisa tá feia por lá
Que Hulkenberg faça bonito nessa temporada.
Nanicas, ah as nanicas. Podem falar o que quiserem, mas o carros mais belos da Fórmula 1 vieram do fundão, por isso elas tem seu valor e minha total simpatia. Sei lá, mas acho que esse automobilismo de luxo vai pra vala jájá. Como o verdrume já citou aqui no bandeira, ninguém quer ficar torrando milhões e milhões de dinheiro na Fórmula 1, esse tempo já se foi, hoje a realidade é outra, e mais cruel. Se não criarem o tal teto orçamentário, teremos um grid só com Red Bull e Ferrari. Queria era um grid com 30 carros, classificação de 60 minutos, e deixa o pau cantar a foia, carro reserva, e a volta dos testes. Mas não, esse devaneio está longe de se concretizar, no momento, fiquemos com o que temos, e rezemos para um futuro melhor para essa coisa inútil chamada Fórmula 1.
Banzai! Bandeira Verde
21 de março de 2013 at 18:57
Só tô comentando aqui porque você deu uma ligeira sacaneada no Hulkenberg – e mesmo eu sendo fangirl dele eu dei risada :P Mas ele vai arrumar um pódio em breve e eu virei aqui comemorar.
Não entendi nada da McLaren, falaram maravilhas dela nos testes, que isso e aquilo, e de repente virou essa bomba… ou esses testes são uma mentira ou a McLaren enganou a todo mundo muito bem.
E eu acho que quem vai fazer bonito – na medida do possível – vai ser o Bianchi. Aliás, eu era uma que estava apostando em algum dos 5 novatos fazendo bobagem na corrida de estreia, e não é que todo mundo chegou ao final da corrida? Queimei a língua XD
21 de março de 2013 at 19:51
Assim de repente, o que é que Alonso disse que não é verdade? Ou o que ele disse não vai ao encontro do politicamente correcto e não é aceitável. Se fosse Kimi a dizer isto, todos riam e aplaudiam.
21 de março de 2013 at 21:12
Espero ansiosamente a corrida na Malásia. Na boa, fazer uma corrida no final da tarde num país que tem um clima amazônico é pedir chuva. E é essa chuva que deixa a corrida mais legal.
22 de março de 2013 at 12:24
Ow Verde, cade o especial da GP2 desse ano ?
Tava esperando seu parecer…
22 de março de 2013 at 12:25
Calma que vou tentar escrever.
22 de março de 2013 at 20:40
é!!! escreve ae! ;)
24 de março de 2013 at 13:52
Toda última curva desse sujeito que a todo instante vira os olhinhos quando algo ”emocionante” acontece, é batizada logo como ”curva da Vitória”. Alguém podia lembrá-lo que só em Jacarepaguá tem isso. Tinha. Espero que ele narre as corridas em Silverstone, Monza, Spa, Suzuka, Interlagos, Barcelona e as demais não-tilkeanas e chame as últimas curvas disso. Um horror. Horror. E Verde, daqui um tempo teremos um top 5 para o Will Power. Já começou extremamente bem o caminha para o tetra-vice com a pole ontem. Comece a escrever o texto esse ano que no final do próximo, já terá o top 5 dele prontinho!
29 de março de 2013 at 22:28
Faz falta as belas observações sobre o gp malaio.
1 de abril de 2013 at 1:33
Virão nessa semana. Tive uns dias infernais por aí.
10 de abril de 2013 at 18:43
Esse site morreu, só se esqueceu de deitar.. uma pena!!
10 de abril de 2013 at 19:17
Não ainda.