Enquanto estudava um texto desinteressante sobre Economia Brasileira escrito pelo igualmente desinteressante José Serra, acompanhava de soslaio a entrevista concedida por Nelson Piquet a Reginaldo Leme no programa Linha de Chegada, transmitido pelo SporTV. Rodeado pela sua impressionante coleção de carros antigos, Piquet contou alguns detalhes inéditos de sua carreira e relembrou tantos outros que viraram lendas para seus fãs, como “as diferenças entre eu e o Mansell”. Não foi lá a entrevista mais original do mundo, mas nunca é ruim ouvir o que Piquet tem para falar.
Enquanto Nelson, até meio contido para seus padrões, demonstrava que, prestes a completar 59 anos, ainda era totalmente dotado de perspicácia e visão, três de seus sete filhos estavam sentados ao seu lado acompanhando as histórias do papai. Geraldo, o mais velho, é piloto de Fórmula Truck. Pedro, o segundo mais novo, ainda engatinha no kart. Nelsinho, ex-piloto da Renault na Fórmula 1 e atual piloto da NASCAR Camping World Truck Series, também estava lá.
Há comentários a fazer sobre cada um deles. Geraldo não foi muito requisitado, talvez por pertencer a uma categoria transmitida efusivamente por um grupo concorrente das Organizações Globo. Quando lhe foi concedida a palavra, não falou besteiras e nem impressionou com alguma declaração bombástica. Cabe um OK, no máximo. Pedro, 12, ainda não tem muito o que dizer. Apontou que era totalmente contra as ordens de equipe, mas não soube aprofundar muito a idéia. Não dá para exigir muito de alguém que está entrando na adolescência ainda. Na mesma idade, eu só sabia falar sobre carrinhos, videogame e bandeiras de países. Sempre gostei de bandeiras. Fora isso, eu era tão normal e banal como ele.
O Nelsinho é um caso que me incomodou mais. Enquanto Geraldo se comportava de maneira normal e Pedro simplesmente esperava ansiosamente para ir embora e jogar Call of Duty enquanto levava um esporro do pai “por dirigir que nem uma moça”, o ex-astro de 26 anos parecia estar olhando para qualquer coisa, um mosquito ou as linhas dos pisos no chão, pensando na morte da bezerra ou em qualquer outra imagem difusa. Em alguns instantes, eu até imaginava que ele não estava neste mundo. Ou que era um autista. O fato é que Nelsinho Piquet simplesmente não deu as caras no Linha de Chegada.
Ou melhor, deu. E não falou nada de mais. Na verdade, suas frases eram curtas e estritamente óbvias. Após balbuciar umas cinco ou seis palavras, interrompia abruptamente o diálogo e retornava à apatia e ao intimismo asperger. Chega a ser assustador que um sujeito com a presença e a inteligência de Nelson Piquet tenha criado um filho tão apagado e tão desinteressante.
De uma forma geral, os filhos de pilotos não costumam repetir os comportamentos heróicos e as personalidades fortes do pai. Os Rosberg são um bom exemplo. Keke, que se assemelhava a uma morsa albina em seus dias mais decadentes, era um sujeito genuinamente arrogante que fumava, bebia, falava besteira, dirigia feito um maluco e ganhava corridas. Quem diria que este ogro criado a aquavit e carne de baleia teria um filho como Nico Rosberg, delicado, educado, metrossexual, poliglota, que come hambúrgueres quando está aborrecido, que dirige feito uma avó e que nunca ganhou uma corrida de Fórmula 1?
Nico, ao menos, é uma versão mais civilizada e limpa de seu pai, o que arranca suspiros de algumas mocinhas. O problema de Nelsinho Piquet é que é difícil enxergar uma única característica na qual ele seja melhor que seu pai. Sua pilotagem é inferior, sua inteligência é inferior, seu carisma é inferior, sua capacidade de improvisar e resolver problemas é inferior, sua visão de mundo é inferior, seus conhecimentos técnicos são inferiores. O que sobra? Um sujeito escorraçado pela mídia, pelos espectadores e pelos paddocks europeus que teve de reconstruir sua vida lá no ostracismo da Truck Series ao lado dos Austin Dillon da vida.
Deixo claro que não é meu objetivo, aqui, rememorar o Cingapuragate, aquela lamentável polêmica a respeito de um acidente causado propositadamente pelo brasileiro que levou o companheiro Fernando Alonso à vitória no Grande Prêmio de Cingapura de 2008. Na verdade, ao contrário da maioria de vocês, nem coloco em questão o caráter de Nelsinho Piquet. Ele tinha um contrato assinado com a Renault, não o assinou com uma arma na cabeça, recebia muito bem pelos serviços prestados e deveria fazer o que o chefe mandava. Não é assim que funciona em qualquer empresa? Pois é. Eu faria o mesmo que ele.
Ah, mas o que ele fez foi errado e uma pessoa não pode se vender tão facilmente, disseram multidões. O discurso é realmente bonito e, em termos morais, há certa razão. Voltemos agora ao mundo real. Nelsinho tinha um sonho, o da Fórmula 1. Para isso, precisou aceitar condições que muitos que olham com a fácil lupa de quem está de fora do paddock diriam que são indignas. Condições que foram aceitas por Barrichello, Massa, Berger, Patrese, Peterson – curiosamente, todos vencedores de corridas que ganharam dinheiro como coadjuvantes. Será que ser capacho na Fórmula 1 é tão ruim assim?

Nelsinho na GP2 correndo pela equipe do pai. Foi só lá que ele aprendeu algumas coisas antes de ir para a Fórmula 1
No caso de Nelsinho foi, mas não por culpa dele. Seu carro era péssimo e a equipe só tinha olhos para Fernandinho, o da camisa bonita. Em Cingapura, ele foi obrigado a fazer aquilo para seguir na Fórmula 1. Há quem diga que ele se rebaixou, pois poderia ter saído da equipe de cabeça erguida e ter encontrado outra equipe. Ingenuidade pura. Se não obedecesse, Nelsinho seria demitido levando ovo na cabeça por parte da turma da Renault. O capo Flavio Briatore, que era e ainda é poderosíssimo, conseguiria facilmente emperrar qualquer negociação do piloto com outra equipe. E espero que vocês saibam que não é fácil encontrar uma vaga na Fórmula 1, ainda mais na Fórmula 1 de vinte carros daqueles dias. Como o objetivo de NAP era exatamente a categoria máxima, fez o certo. Infelizmente, estava metido com gente errada e deu no que deu.
Por isso, não o critico pelo Cingapuragate. A crítica se dá pela postura boba, frágil e inocente de Nelson Ângelo em boa parte de sua carreira. Um bom responsável por isso é o próprio Nelson Piquet
Nelsinho foi educado mais ou menos como aquele garoto gordinho, ruivinho e míope que cresceu jogando bola no tapete da sala de seu apartamento em Pinheiros. Nunca foi exposto à vida real, aos problemas que as pessoas enfrentam tão logo abandonam a vulva de suas progenitoras, ao fracasso, ao medo, à escassez. Até 2007, sempre teve tudo às mãos sem dificuldades.
Em situação diametralmente oposta, o pai chegou a passar fome e a dormir em uma van velha enquanto corria na Fórmula 3. Em seus treze anos de carreira, Nelson Piquet teve pouco apoio da mídia e muitos leões para matar: uma equipe que claramente favorecia o outro piloto(Williams), um patrão explorador (Bernie Ecclestone), carros ruins (Lotus 100T) e contratos arriscados (Benetton em 1990, quando ele condicionou seus ganhos ao número de pontos marcados). Nunca teve vida fácil, portanto. Imagino que, como pai, ele tenha decidido suprimir qualquer sinal de sofrimento aos filhos.
Entre 2001 e 2006, Nelson Ângelo Piquet fez sua carreira no automobilismo de base. Correu por apenas uma equipe: a Piquet Sports, criada pelo papai e comandada por Felipe Vargas, amigo de longa data do Nelsão. Nos anos de Fórmula 3, Nelsinho não teve companheiros de equipe e pôde, assim, monopolizar todas as atenções de mecânicos e engenheiros. Em alguns momentos, o pai não se furtava em atropelar a ética para dar aquela forcinha ao filho. Em 2002, a família Piquet fechou o circuito de Brasília para que NAP pudesse testar sozinho seu Dallara-Mugen azulado. Com isso, a etapa de Fórmula 3 que seria realizada por lá teve de ser cancelada e os brasilienses não ficaram lá muito contentes.
Nelsinho só conheceu outro ambiente em 2007, quando assinou com a Renault para trabalhar como piloto de testes. Naquela época, ainda era possível testar bastante e o brasileiro conseguiu completar milhares de quilômetros em pistas como Jerez, Sakhir, Spa-Francorchamps e Silverstone. A saída dos dois pilotos, Giancarlo Fisichella e Heikki Kovalainen, abriu espaço ao brasileiro e a Fernando Alonso no ano seguinte.
A partir daí, o ano e meio de corridas na Fórmula 1 esteve muito longe de ser um bom período. De cabeça, me lembro da ultrapassagem sobre o companheiro Alonso em Magny-Cours, do pódio sortudo em Hockenheim e da boa atuação em Fuji. Fora isso, o brasileiro cometeu inúmeros erros, não andou rápido em momentos fundamentais e deu sinais de que estava muito longe de ser o gênio que seu pai gostaria. E ainda houve o caso Cingapura.
Qual era o problema dele? Todos nós sabemos que a Fórmula 1 é a verdadeira reunião dos grandes filhos da puta do mundo esportivo. Para sobreviver por lá, o sujeito precisa ser esperto como uma raposa, visionário, altamente político, bastante malicioso e não pode se deixar enganar. Esta é a diferença de um campeão como Schumacher ou Alonso para um ótimo piloto sem títulos como Barrichello. Para piorar, Nelsinho não deixou sequer a imagem de ótimo piloto.
O erro maior, especialmente na polêmica de Cingapura, não foi ter se submetido a um absurdo. Foi lá atrás, quando ele assinou um contrato leonino sem perceber a enrascada na qual estava entrando de corpo e alma. Em uma Renault com um Flavio Briatore comandando e um Fernando Alonso pilotando, o ambiente dificilmente seria favorável ao brasileiro. Qualquer um sabia disso. Se Nelsinho Piquet tivesse sido esperto, teria renegado a Renault e esperado por outra oportunidade. Ostentando um vice-campeonato na GP2, não teria grandes dificuldades para achar um lugar razoável.
Eu sempre reclamei de Bruno Senna, mas Nelson Ângelo tem o agravante de se aproveitar não só do sobrenome, mas do dinheiro, do prestígio e da paciência do pai. Se não fosse isso, ele nunca teria se aproximado de um carro de corrida. E sem o pai, ele não soube se impor em uma equipe que lhe era hostil. Por isso que ele não durou dois anos na Fórmula 1.
Nelsão e Nelsinho. Enquanto um falava de suas glórias a Reginaldo Leme, o outro contemplava o nada calado. O sufixo diz tudo.



11 de agosto de 2011 at 12:08
triste
comecei a admirar piquet pai faz pouco tempo, mas o pique filho nunca me enganou.
agora:
“… Em 2002, a família Piquet fechou o circuito de Brasília para que NAP pudesse testar sozinho seu Dallara-Mugen azulado. Com isso, a etapa de Fórmula 3 que seria realizada por lá teve de ser cancelada e os brasilienses não ficaram lá muito contentes…”
isso é muito coisa de guri mimado de apartamento.
não sabia disso, e antes eu não tinha nada contra piquet filho.
(sim, cingapura foi sujo, isso foi. mas tu tem razão que o erro dele foi bem anterior a isso)
Mas agora tenho muito contra
11 de agosto de 2011 at 12:51
Que pena que dá do Nelsinho,mas é verdade,o Briatore podia falar que o Nelsinho comia baratas para um Team qualquer que Nelsinho estivesse interessado.
11 de agosto de 2011 at 12:54
E respondendo sua pergunta sobre ser capacho na F1:
Sim,é muito ruim sim.
12 de agosto de 2011 at 3:15
Depende do tipo de capacho. Acho que foi muito bom para Barrichellos, Bergers, Patreses e Petersons ganharem corridas (no plural) com suas equipes, deixarem uma boa imagem (abaixo dos campeões do mundo, mas quisera eu ser um dos 30 melhores pilotos que a F1 já teve), etc., etc. etc.
Nelsinho foi capacho sem resultados (o pódio mais fortuito da F1 em todos os tempos foi o único grande resultado). E tomou a atitude mais ridicula que um piloto de F1 já tomou em todos os tempos, afinal, não seria batendo que ele mudaria o seu status.
12 de agosto de 2011 at 12:56
Hoje post sobre cinco segundos pilotos da F1 no meu blog.
11 de agosto de 2011 at 15:56
interessante que foi esse o cara a fazer a melhor estreia de um piloto brasileiro na F1…
11 de agosto de 2011 at 20:29
lembro do pai declarar a algum jornalista brasileiro (não lembro se impresso ou na TV) que se o filho fosse entrar na F1, não seria pela porta dos fundos, significando por uma equipe pequena, de fim do grid.
se tiver mesmo sido assim, então deduzo que ter ido para a tutela de Briatore foi erro do senior.
11 de agosto de 2011 at 21:14
A diferença já começa aí. O Nelsão estreou na Ensign, disputou umas três corridas pela BS Fabrications e só veio a andar em um carro de verdade na última corrida de 1978 pela Brabham. Dizem, ainda, que ele não recebia nada em seus primeiros dias na equipe do Bernie Ecclestone. Sofreu, mas aprendeu um bocado. Porque é a melhor pedagogia é a porrada.
Será que o Nelsinho não poderia ter começado em uma equipe um pouco menos “corporativa” que a Renault?
12 de agosto de 2011 at 0:40
pois é Verde, e justo o Alonso começou na Minardi (e nem foi fantástico, assim a olhos vistos, que eu me lembre não pontuou por aquela equipe – posso estar errado, que não sou mais CDF de F1 desde que os anos 70 terminaram).
e ainda essa mania de brasileiro novato achar que está em condições iguais com team mate já detentor de título mundial: Barrichello e Massa caíram nessa de cara quando entraram pro time vermelho italiano.
Isso ao menos NAP teve o cuidado e a sensatez de não afirmar.
acho que ele percebeu que nunca iria ter chance de se impor, uma vez que fosse, de cara no início do percurso na Renault; pode não ser brilhantemente inteligente, mas sabe pensar (!?!) e deve ter visto que ali era uma arapuca disfarçada de time grande – como vc bem salientou, era preciso estar na pele dele pra entender o fato de topar a cretinice de Singapura.
o modo de ter evitado aquilo seria não ter sido contratado por Briatore, eu acho.
11 de agosto de 2011 at 22:47
Bandeiras???
Porra,com 12 anos eu sabia a capital de 70% dos países do globo e a bandeiras de todos.
Da argentina,até a de Tuvalu.
Também gosto de bandeiras até hoje.
Se você também gosta dessas bobagens,vai gostar desse jogo.
http://www.travelpod.com/traveler-iq
E sobre o Nelsinho…
Gostava dele.
Fora o Hamilton,foi o único companheiro do Alonso que ainda andou mais ou menos próximo do espanhol.
A merda foi essa mesmo que você falou.
Até minha avó sabia que correr naquela Renault seria uma merda.
Se ele tentasse a sorte na Force India,Toro Rosso ou outra merda qualquer,talvez tivesse melhor sorte.
12 de agosto de 2011 at 0:13
Eu gostava da bandeira do Tonga quando tinha uns cinco ou seis anos de idade, hahah.
(somos todos doentes)
12 de agosto de 2011 at 3:17
Eu era fã da baideira do Nepal! E disputava campeonatos de futebol de botão com os times cujas bandeiras eu mesmo desenhava (mal e porcamente)…kkkk
Só em Geografia eu tirava 10, por conta das bandeiras, países e tudo o mais que tinha no mundo do futebol e da F1…kkk
12 de agosto de 2011 at 0:52
sobre bandeiras, as do Caribe são as melhores, Dominica, Aruba, Antígua e Barbuda…
12 de agosto de 2011 at 12:59
As da Oceania e do Caribe tambem são bacanas,alguem se existe uma bandeira da antartica(o continente mais frio do mundo não a latinha)?
12 de agosto de 2011 at 17:14
Tem sim.
É essa porra feia.
14 de agosto de 2011 at 3:15
tem, é uma que parece que derrubaram tinta branca num fundo marrom (o borrão é o mapa da Antártida).
11 de agosto de 2011 at 22:51
Nelsinho era bom piloto, o ano de 2008 terminou descentemente até, o problema mesmo foi o pessimo desempenho em 2009 que muito pode ser justificado por causa do carro, que claramente não tinha os mesmos updates que Alonso, além de correr contra um monstro das pistas como o espanhol
12 de agosto de 2011 at 11:15
Achei a entrevista insípida. Uma pena. Piquet merecia mais. Quanto ao Nelsinho..nada. Não significa nada e não faz falta.
12 de agosto de 2011 at 14:40
Como o Humberto, também não gostei da entrevista.
Mais do mesmo. Infelizmente.
Tanta coisa para poder abordar e achei que o Nelsinho errou ao não ter ido para Toro Rosso, a partir do momento que ele falou isso.
A equipe poderia ser um degrau para Red Bull e mais do que isso, ele teria menor pressão por resultados excepcionais, como na Renault, ainda que os franceses nao tivessem carro pra cobrar muito.
12 de agosto de 2011 at 16:21
lol, menos pressão por resultados? Scott Speed e Bourdais mandam abraços
12 de agosto de 2011 at 22:14
E em 2008 a RB era equipe de meio, no momento parecia muito mais jogo ficar na Renault em 2009 mesmo
12 de agosto de 2011 at 22:25
Não quer comparar a pressão da Renault com a sucata da TR né ??
E pilotar ao lado de um campeao do mundo em uma equipe que so tem como fazer um carro, é pedir pra se enterrar. Exemplos temos aos montes.
15 de agosto de 2011 at 20:54
Pergunta pertinente: e vc, é “melhor” que seu pai? Vc fala mais e melhor que ele? Que post tolo…
15 de agosto de 2011 at 21:45
Não creio que isto seja da sua conta.