Você já viu esse vídeo aqui? É de um acidente que aconteceu em Zandvoort com um piloto de Fórmula Ford há cerca de 20 anos. As imagens são relativamente conhecidas entre aqueles indivíduos mórbidos que, como eu, gostam de um acidente daqueles. Se você nunca viu, dê uma olhada. É meio forte.
Eu já tinha visto esse vídeo há alguns anos, e sempre tive a curiosidade de saber o que havia ocorrido com o piloto. Os boatos eram inúmeros e diziam que o cara havia ficado em coma por um bom tempo ou que ele simplesmente tinha ido dessa para uma melhor. Mas eis que uma informação definitiva surge nos comentários do próprio vídeo: o piloto não sofreu nada de mais grave e competiu em Zolder alguns dias depois. E qual era a fonte da tal informação? O próprio piloto, o belga Marc Delpierre!
Por incrível que pareça, não foi a primeira vez que ouvi falar de Delpierre, hoje com 40 anos e dono de uma empresa monegasca de relações públicas. Há dois anos, dei a tremenda sorte de achar um livro belga que reportava toda a temporada de automobilismo na Europa em 1990. E havia, neste livro, uma foto em alta definição de Marc andando com seu F-Ford patrocinado pela Camel – o carro que, por sinal, aparece no vídeo. Mandei um e-mail a ele pedindo uma entrevista. Solícito, me respondeu em poucas horas e em nada menos que sete mensagens!
COMO FOI O ACIDENTE?
O acidente aconteceu em Zandvoort em abril de 1990. Eu estava correndo com um monoposto fabricado em 1989. Nos treinos, estava muito difícil fazer uma volta rápida com aquele carro, mas consegui me classificar em sexto no grid. Na corrida, tive uma ótima primeira volta! Na primeira vez eu que cheguei lá no retão dos boxes, eu estava colado no carro que ia à minha frente. Então, eu posicionei meu carro para ultrapassá-lo uma fração de segundo além do recomendável.
Acabei tocando na roda traseira do carro que estava na minha frente e a suspensão dianteira do meu carro acabou se quebrando. Perdi o controle e bati a mais de 230km/h! Você viu o acidente. Tive uma EQM (experiência de quase-morte) e voltei à vida alguns minutos depois. Fui transportado ao hospital, mas os médicos não detectaram fratura nenhuma! Duas semanas depois, eu estava pilotando novamente em Zolder! Logo depois, fui para a Inglaterra competir no campeonato britânico de Fórmula Ford.
Quando vi o acidente pela primeira vez, pensei “Marc, você é sortudo!”. Não era minha hora.
E ESSA EXPERIÊNCIA DE QUASE-MORTE?
Ah, são sempre as mesmas coisas estranhas que costumam dizer a respeito. Logo após a batida, tive uma imensa sensação de serenidade, de completo bem-estar. Depois, senti que estava voltando por um túnel branco… e acordei com meu pai e o diretor da minha equipe conversanado comigo.
VOCÊ CHEGOU A ANDAR NA FÓRMULA 3 OU NA FÓRMULA 3000?
Eu cheguei a competir na Barber SAAB, que é o equivalente a uma Fórmula 3. Eu até cheguei a fazer testes com um carro de Fórmula 3 de uma equipe francesa, mas como eu não tinha dinheiro, não deu para fazer uma temporada com ela.
ENTÃO, SEU PROBLEMA ERA DINHEIRO, CERTO?
Sim, e esta é a razão pela qual deixei a Europa e migrei para os Estados Unidos.
A história da EQM é bizarra. Outra coisa legal é o carinho que ele tem por Ayrton Senna:
Eu encontrei Ayrton em Snetterton uma vez. Ele estava testando seu McLaren por lá. Foram poucos minutos na garagem. Ele me deu alguns bons conselhos sobre o carro, sobre alguns acertos e sobre traçados. Seu interesse por Fórmula Ford era tão grande quanto por Fórmula 1. Foi um momento inesquecível. Quando você conversava com Ayrton, podia sentir sua paixão, sua energia positiva…
Sinto sua falta. Quando vi seu acidente, pensei que ele não morreria, se recuperaria e se tornaria o campeão mundial de 1994. Mas não aconteceu. Aquele era seu momento de ir embora. Que dia triste para o automobilismo!
A quem interessar possa, a carreira de Marc Delpierre não é lá muito longa, mas é bastante razoável. Entre 1983 e 1986, ele competiu no kart local e foi campeão da Classe 3 do campeonato de Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo). Entre 1987 e 1989, ele passou a competir também nos kartismos europeu e mundial, e também não foi mal. Entre 1990 e 1992, ele correu em diversos campeonatos de Fórmula Ford, subiu sete vezes no pódio e foi campeão do Loctite Challenge em 1991. Entre 1993 e 1994, fez algumas corridas no campeonato americano Barber SAAB. Mas a esta altura, Delpierre já estava comprometido com seus negócios de relações públicas e marketing esportivo e decidiu abandonar sua carreira como piloto no fim de 1994.
9 de novembro de 2010 at 12:16
O carro dele era sem aerofólio traseiro mesmo ou ele perdeu num outro acidente?
9 de novembro de 2010 at 12:22
Fórmula Ford. O pessoal corre sem aerofólio.
9 de novembro de 2010 at 15:18
O que eu achei mais interessante na reportagem foi você ter conseguido falar com ele…
Você poderia abrir uma seção com entrevistas com ex-pilotos. Não os Emerson Fittipaldis ou Nigels Mansells da vida, esses já disseram tudo o que poderia ser dito, mas os Martin Donnelys (lembrei dele por causa do acidente em Jerez-90), Perez-Salas ou Oscar Larrauris da vida… uma por mês, ou algo assim. O que acha??
9 de novembro de 2010 at 15:25
Adoraria fazer isso, mas a verdade é que é difícil pra caramba encontrar contatos dessa gente. E vários simplesmente não respondem.
9 de novembro de 2010 at 15:23
não conhecia esse piloto,
bacana demais a entrevista =)
9 de novembro de 2010 at 18:54
Verdade, a entrevista está boa Verde. Impressionante, ainda bem que depois de tudo ele ainda continua vivo. Mesmo assim, um GP da Holanda não seria nada mal atualmente.
Abraço.
9 de novembro de 2010 at 19:42
essa panca foi feia,mas essa aqui é a pior que já vi.O cara sai andando dos destroços…
9 de novembro de 2010 at 23:00
Belo personagem. Um cara meio gente-como-a-gente, só que era um bom piloto e, se podemos colocar dessa forma, já “esteve do outro lado e voltou para contar”. Tem boas histórias para contar…
9 de novembro de 2010 at 23:46
Bacana demais, são esses carros de Fórmula Ford. nunca tinha visto um destes. Lembra um pouco os monopostos da Fórmula 1 dos anos 50 e 60, se eu não estiver viajando muito hehe.
10 de novembro de 2010 at 0:28
Muito bom Verde!
Você certa vez me pdeiu o contato do Ballabio. Esqueci de te repassar, me lembra que eu te dou ;)
No mais, outra grande entrevista do Verde!
hehehe
Abração
10 de novembro de 2010 at 19:27
Gostei da entrevista, e é como dizes: um tipo acessivel e porreiro. Como calhou no mesmo dia da entrevista com o Bertrand Gachot, feita pelo Alexandre Carvalho, decidi colocar os dois num só post. Eis o link:
http://continental-circus.blogspot.com/2010/11/as-entrevistas-da-blogosfera.html
7 de novembro de 2011 at 20:15
Hello !
I was very lucky that day !
Thanks for broadcasting my crash .
Marc Delpierre
8 de novembro de 2011 at 0:16
You are a very luck!