GP DA CHINA: A China é um país que todo mundo gosta. Os tibetanos e uigures gostam tanto que estão brigando pela independência há pelo menos quatro décadas. Os empresários e comerciantes dos outros países também acham o máximo quando uma família chinesa aparece, abre uma lojinha operada por semiescravos, pratica dumping e quebra toda a concorrência. Muitos fabricantes de bens de consumo também dão pulos de alegria quando são obrigados a competir contra empresas que produzem quinquilharias baratíssimas às custas de mão-de-obra escrava. Os governos brilham os olhos quando descobrem que sua dívida externa galopante pertence aos chineses, como é o caso da empolgadíssima Grécia. Não é à toa que um país extremamente popular como esse seja alvo de um esporte igualmente popular como a Fórmula 1, comandada pelo altruísta Bernie Ecclestone. Realizado desde 2004, o GP da China é uma das corridas mais admiradas pelos fãs do esporte. O circuito de Shanghai é conhecido pela sua extrema criatividade, com suas retas e curvelas de segunda marcha. Destaque para o cenário, muito bonito, ainda mais quando uma névoa cinza resultante da poluição irrompe o autódromo. O sucesso do evento pode ser percebido pelos enormes clarões em várias de suas arquibancadas. Afinal de contas, os chineses gostam e entendem muito de automobilismo – como não se esquecer do sujeito que, em 2004, afirmou que a Ferrari pintava seus carros de vermelho para dar sorte? Para nós, latino-americanos que moramos do outro lado do globo, o GP da China não poderia acontecer num horário melhor, quatro da madrugada. Por isso que essa etapa sempre registra os maiores níveis de audiência televisiva do ano. Por todos esses motivos, confesso a vocês que estou muito ansioso pela corrida. Só que não.
GRIPE: Como se não bastasse o sujeito ter de sair da confortável Europa para desembarcar em uma cidade inchada, poluída, confusa e estranha, ele ainda terá de se preocupar com a possibilidade de contrair o vírus H7N9, responsável pela versão mais mortal da gripe aviária. Nesses últimos quinze dias, um surto da doença, que muitos imaginavam só ser causada por outras variedades de vírus, tem assombrado os chineses e o mundo. Até agora, 38 casos da gripe aviária assassina foram registrados na China, sendo que dez dos desafortunados contaminados acabaram passando dessa para melhor. A última morte registrada até aqui ocorreu, veja só, em Shanghai: um velhinho de 74 anos não resistiu aos sintomas e faleceu ontem num hospital da cidade. Não é a primeira vez que a Fórmula 1 tem essa sorte de entrar num país afetado por alguma epidemia mortífera. Em 2003, os pilotos disputaram o GP da Malásia enquanto o vírus H5N1 tocava o terror no sudeste asiático. Em 2009, o GP da Espanha foi realizado durante os dias em que o país registrava os primeiros casos da famosa gripe suína na Europa. Qual é a explicação? Pode ser que a cara bonita de Bernie Ecclestone traga uma energia tão negativa que a natureza reage causando tragédias nos países que recebem o baixinho asquenaze. Ou pode ser que o mundo simplesmente esteja acabando.
RED BULL: Antes do GP de San Marino de 1989, os dois pilotos da McLaren, Ayrton Senna e Alain Prost, combinaram que o sujeito que completasse a primeira curva na frente não seria ultrapassado pelo outro até o final. Acordo de cavalheiros, sem qualquer formalidade. Na primeira largada, tudo bem, Senna manteve a liderança, Prost ficou logo atrás e tudo seguiu na maior normalidade até o acidente de Gerhard Berger, que anulou a corrida. Na segunda largada, Prost largou melhor e ultrapassou Senna nos primeiros metros. O brasileiro não se conformou e deu o troco logo na Tosa, apenas alguns segundos depois. A atitude de Ayrton foi uma clara quebra do acordo feito entre os dois horas antes. Prost ficou furioso com seu comportamento e os dois colegas se transformaram em inimigos mortais. Vinte e três anos depois, situação análoga se passa na Red Bull Racing. Mark Webber e Sebastian Vettel, líderes do GP da Malásia, são ordenados a tirarem o pé do acelerador nas últimas voltas. O australiano obedece, mas o alemão ignora e ultrapassa o colega, roubando-lhe a vitória. Enfurecido, o sempre falastrão Webber abriu o berreiro: disse que repensaria algumas coisas na sua vida, que a relação entre os dois pilotos voltou a ficar estremecida e que discutirá com a equipe sobre o que pode ser feito. No fim das contas, ele não mandou nenhuma carta-bomba a Vettel, não abandonou a equipe e sua única novidade foi um novo corte de cabelo. Já Vettel demonstrou que não está nem aí: disse que faria de novo se pudesse e ainda justificou que a ultrapassagem se tratava de uma pequena vingança contra um cara que não havia colaborado com ele em outros momentos. Teremos guerra. Lá na península coreana e também em Milton Keynes.
ALONSO: As pessoas não só o odeiam, mas também amam odiá-lo. E dá para entender o porquê. No melhor estilo Alain Prost, o Desbocado das Astúrias faz muitos rirem e outros tantos rangerem seus dentes de fúria com declarações que beiram o absurdo. Desconfio que ele faça tudo isso de propósito, pois sempre dá para capitalizar com a imagem de vilão da Fórmula 1. Quando um jornalista lhe perguntou sobre o que achava da polêmica envolvendo os dois pilotos da Red Bull, Fernando Alonso respondeu que “você é jornalista e, portanto, não vai à redação para pintar as paredes porque não é um pintor. Todos temos nossas funções e precisamos respeitá-las o tempo todo”. Falou isso obviamente porque é o primeiro piloto de uma equipe que faz de tudo e mais um pouco para o primeiro piloto. Mas o melhor foi quando lhe perguntaram sobre o quanto o bom desempenho de Felipe Massa o incomodava. “Estou muito estressado. Não durmo desde a Austrália, só venho comendo arroz branco e meu cabelo está caindo. Um tremendo drama”, ironizou o Humorista das Astúrias. Depois, falou o de sempre: não toma meio segundo de ninguém, os treinos classificatórios das duas primeiras corridas foi uma bagunça e certamente voltará a derrotar todo mundo. Eu gosto de gente que irrita. Gosto de gente que fala coisas absurdas, que choca. Sem elas, o mundo não teria a menor graça. Se vocês soubessem o que falei quando me apresentei no meu primeiro dia de aula da faculdade, esse blog perderia a maioria das suas leitoras.
MA: Se Qing Hua fosse bom, ele certamente se chamaria Qing Hua Bom, e não Qing Hua Ma. Gostou da piada? Que bom que não. O piloto chinês, cujo único título na vida foi o do campeonato chinês de carros de turismo 1600cc, fez sua estreia como piloto-reserva da Caterham no primeiro treino livre do GP da China. Deu vinte voltas, teve um pequeno problema eletrônico no final da sessão e obteve o tempo de 1m43s545. O que isso significa? Que ele ficou a 6s8 do tempo de Nico Rosberg e a 1s5 do penúltimo colocado, seu colega Giedo van der Garde. A situação é indefensável. Ma não é um completo novato: já fez quatro sessões de sexta-feira com o carro da HRT, está competindo na GP2 e já participou de corridas na A1GP e na Fórmula 3. Ainda que sua carreira tenha tido várias idas e vindas e os testes na HRT não contem muito, não dá para dizer que seja o caso de um piloto cuja incapacidade possa ser resolvida com mais experiência. Qing Hua Ma é o típico cara que jamais chegaria perto de um bólido de corrida se não tivesse a grana que tem, um Ricardo Teixeira de olhos puxados, um Giancarlo Serenelli que come gafanhoto frito. Na GP2, ele tomou a vaga do ótimo Alexander Rossi unicamente por causa da carteira. Em tempos mais sadios, a Fórmula 1 jamais daria bola a alguém como ele. Mas como não vivemos tempos sadios e a categoria ruma à falência, é bem possível que Qing Hua Ma seja efetivado qualquer dia desses.
12 de abril de 2013 at 16:02
Ótimo post, como de costume.
Mas eu não acredito que você não vai contar o que falou no primeiro dia de Faculdade. Acho que se você não falar os leitores homens é que vão se revoltar (e nós certamente somos a maioria, hehehe!).
Se for o caso, avise antes para tirarem as mulheres da sala, insira várias linhas em branco e depois conte o que falou. Nenhuma das meninas vai poder alegar que foi ofendida…
12 de abril de 2013 at 18:36
Agora fiquei curioso pra saber o que você disse.
12 de abril de 2013 at 19:48
Porra, Verde, de novo!!!
O acordo entre o Senna e o Prost era pra um ultrapassar o outro apenas APÓS a primeira curva (ou primeira volta, pois já ouvi ambas as versões), e não para aquele que saísse na frente não mais fosse ultrapassado até o fim da prova (até parece que Senna ou Prost iam concordar com um acordo desses…).
12 de abril de 2013 at 19:49
Malz, apertei no botão errado e mandei antes de terminar.
À parte a retificação acima, um ótimo post, como sempre.
13 de abril de 2013 at 0:46
Mas… até quando então iria esse acordo?
Para mim, me parecia claro que o sujeito que completasse a primeira curva à frente não mais seria incomodado até o fim.
13 de abril de 2013 at 1:17
Pelo que eu sei, o acordo valia até a primeira curva mesmo, tanto que Senna alegava que cumpriu o acordo pois ultrapassou Prost após a Tamburello, que era a primeira curva, enquanto Prost considerava que o acordo devia valer até a Tosa, que era a primeira freada da corrida.
13 de abril de 2013 at 2:27
Era pra ser na primeira volta inteira.
Mas o Senna teria dito que a primeira volta foi aquela em que houve o acidente, logo não valeria para a relargada. Conversa pra boi dormir, obviamente.
13 de abril de 2013 at 2:35
Espero que a Red Bull não fique minando essa disputa interna Vettel x Webber. Faz tempo que não encontro um motivo realmente plausível para acompanhar a temporada inteira da F1 e acho que essa disputa pode ser o grande combustível do campeonato (e o motivo plausível para eu acompanhar a temporada).
17 de abril de 2013 at 9:38
Excelente post. Mas deixar todo mundo curioso a respeito do que você disse no primeiro dia na faculdade foi sacanagem. hahahahahaha