Um campeão de qualquer coisa esportiva é um indivíduo notável. Um bicampeão é mais notável ainda. E um multicampeão? Na teoria, deveria ser um indivíduo lembrado por várias gerações como alguém que estabeleceu um domínio massacrante sobre seus concorrentes, que tentavam, sem sucesso, acabar com seu império. Vários são assim: Michael Schumacher, Valentino Rossi, Sebastien Loeb… porém, no automobilismo, nem todos obtém a fama e o reconhecimento pelo seu domínio avassalador, seja por correrem, ou terem corrido, em categorias de reconhecimento limitado ou em categorias não tão altas ou midiáticas do automobilismo. Mas o Bandeira Verde é um lugar onde todos tem espaço! Cinco multicampeões que não recebem o reconhecimento que merecem.
5- SATOSHI MOTOYAMA – Fórmula Nippon
Um japonês na lista pode parecer um tanto curioso para mentes mais fechadas. O caso é que na Terra do Sol Nascente os pilotos são ídolos, não importando se é o campeão ou o último colocado. O fanatismo explode quando falamos de um piloto japonês multicampeão.
Satoshi Motoyama é o maior campeão da F-Nippon, a categoria de monopostos mais importante do automobilismo japonês, tendo obtido trunfos em 1998, 2001, 2003 e 2005. Entre 1998 e 2007, ele nunca ficou abaixo do 6º lugar no campeonato. E ao contrário do que você poderia pensar, a F-Nippon é uma categoria altamente competitiva na qual muitos pilotos fazem carreira profissional por lá. Os quatro títulos de Motoyama são bastante notáveis.
Até mesmo a Fórmula 1 deu uma colher de chá a ele. A Jordan o chamou para ser o terceiro piloto nos treinos livres de sexta-feira da corrida japonesa de 2003. Meses depois, a Renault o chamou para fazer um teste na Europa. Sinal de que o cara era minimamente respeitado.
4- GABRIEL FURLAN – Fórmula 3 Sul-americana
Baixinho e bastante marrento, Nestor Gabriel Furlan é o piloto argentino de mais sucesso desde Carlos Reutemann. Exagero? A conferir.
Furlan foi o terror da F3 Sul-americana no final da década de 80, durante toda a década de 90 e mais o início da década. Na categoria, foi campeão quatro vezes: 1989, 1994, 1996 e 1998. As pessoas podem estranhar o fato de um indivíduo competir por tanto tempo na Fórmula 3. Explico.
Gabriel era considerado um piloto de muito futuro na Argentina. Antes da F3, ele tinha sido campeão da Fórmula Renault local em 1986. Depois do primeiro título na F3, Furlan se mandou para a Europa para fazer a Fórmula 3 Italiana e, depois, a Fórmula 3000 Internacional. Mas faltou dinheiro e ele teve de voltar para a América do Sul. E acabou fazendo sua carreira aqui.
Não torça o nariz. O cara não ganhou um monte de títulos apenas por ter corrido mais de dez temporadas na categoria. Furlan era inteligente, extremamente técnico e muito agressivo. Os jovens pilotos brasileiros morriam de medo de enfrentá-lo. Alguns deles viraram verdadeiros desafetos do argentino, como Hélio Castroneves e Leonel Friedrich. Hoje em dia, é piloto do TC2000, mas sem tanto sucesso.
3- INGO HOFFMANN – Stock Car V8
Ingo Hoffmann? Como assim? Qualquer imbecil que acompanha corridas de carro com um certo afinco sabe da existência dele!
Argumento que Ingo pode ser muito conhecido aqui no Brasil, mas é ignorado em outros países, o que é natural devido ao âmbito local da Stock Car V8. Na Europa, berço dos jornalistas mais especializados em automobilismo do mundo, ele é lembrado no máximo como um dos muitos backmarkers da F1 nos anos 70. E mesmo aqui no Brasil, ele não é tão conhecido como deveria. Por fim, eu precisava completar o Top Cinq e Ingo era a escolha natural!
Não me lembro de nenhum indivíduo que tenha vencido mais títulos do que Ingo Hoffmann em categoria nenhum do mundo. Se algum leitor souber, manda um aviso. O paulista descendente de alemães venceu nada menos que 12 vezes a categoria mais tradicional do automobilismo brasileiro. Conte comigo: 1980, 1985, 1989, 1990, 1991, 1992, 1993, 1994, 1996, 1997, 1998 e 2002. São 76 vitórias na categoria e outras 26 em outras categorias nacionais.
Sim, era pro cara ser mais conhecido. Tanto fora como dentro do Brasil.
2- MARK SKAIFE – Australian V8
Esse poucos conhecem aqui no Brasil. Mas é um monstro na Austrália, de ter fã-clube e tudo.
Mark Skaife é talvez o piloto de maior sucesso da história do automobilismo dos cangurus. O destaque vai para seus cinco títulos no Campeonato Australiano de Turismo, renomeado V8 Supercar em 1999. O primeiro foi obtido em 1992, quando ele ainda corria na Fórmula 3 local. Depois disso, vieram outros quatro em 1994, 2000, 2001 e 2002. A parceria entre Skaife e a Holden Racing Team, iniciada em 1998 e terminada dez anos depois, foi célebre.
Mas não foi só isso. Skaife foi campeão da F3 local por três anos, entre 1991 e 1993. Em 1992, ele fez sua única incursão à Europa quando foi fazer as duas últimas corridas do Internacional de Fórmula 3000 substituindo Allan McNish. Ninguém deu muita bola a ele. Não sabem o que perderam.
1- STÉPHANE PETERHANSEL – Rali Dakar
Um cara que ganha um Rali Dakar merece total respeito. Um cara que ganha NOVE vezes o Rali Dakar merece uma estátua na frente de casa. Esse é Stéphane Peterhansel.
Li uma entrevista do Stéphane em uma Veja de 1989. O cara é aventureiro nato, não suporta a vida pacata e rotineira de um cidadão comum. Seu negócio é arriscar sua vida e, de preferência, fazer um trajeto perigoso e inóspito em um tempo menor que o resto. E ele faz isso com perfeição. Só andando com uma moto Yamaha YZE850T, ele foi campeão seis vezes: 1991, 1992, 1993, 1995, 1997 e 1998. Enjoado das motos, pulou para um Mitsubishi Pajero e venceu três vezes: 2004, 2005 e 2007.
Estamos falando do Rali Dakar, cara. Um rali que dura quase um mês e que passa por um monte de perigos, matando ou ferindo vários pilotos a cada edição. Eu olho pra isso e vejo que F1 e coisas do tipo são para mocinhas. Cabra macho mesmo é o Peterhansel.
9 de abril de 2010 at 14:59
O que impressiona em pilotos como Motoyama e Furlán é o sucesso que os rivais fazem.
Uma vez o Amir Nasr me disse que quem derrotava o Gabriel Furlán ganhava notoriedade automática. Todos passavam a tratar o piloto diferente. Mas não foram muitos, lembro de Ricardo Zonta e Bruno Junqueira apenas.
10 de abril de 2010 at 14:08
excelente!
lembrando que peterhansel liderava tranquilamente o ultimo dakar, porem uma quebra o jogou lá pra trás.
27 de julho de 2013 at 12:54
Nestor Gabriel Furlan deveria ter feito carreira na Europa, era técnico, competitivo e muito agressivo. Ficou aqui pela América do Sul e foi o “terror” de muitos jovens pilotos brasileiros. Tinha que ser muito bom prá derrotar o argentino!!! Me lembro com saudades das corridas da F-3 Sul-Americana, nos anos 80!!! Eram corridas muito disputadas e ainda havia a rivalidade entre os pilotos dos vários países do Continente!!!! Bons tempos!!!!! Se houver vontade política, patrocínio e organização, podemos ter uma grande competição continental. Seria uma iniciativa que contemplaria o Esporte, o Turismo, a oportunidade de formação de pilotos e criação de equipes nos diversos países. E ainda teríamos de novo grandes circuitos!!! Até a próxima!!! Abraços.